Dois ‘special one’ na baliza

OPINIÃO01.06.202207:00

Rui Patrício e Courtois decidiram finais europeias a favor de Mourinho e Ancelotti. No caso de Rui, foi a terceira final internacional ganha a zero

CARLO ANCELOTTI e José Mourinho terminaram a época com taças europeias na mão. Carletto Magno (como lhe chama a Imprensa italiana) tornou-se o primeiro treinador a ganhar quatro Champions (!) depois de se ter tornado o primeiro a ganhar as cinco principais ligas europeias (está encontrado o FIFA Coach of the Year), enquanto José lo Speciale Mourinho ganhou a sua quinta competição europeia em cinco tentativas (!), o que faz dele o treinador com melhor rendimento em finais: apenas 100% de aproveitamento, coisa pouca. Tanto Ancelotti como Mourinho, estrategas natos, ganharam à italiana, apresentando em Paris e Tirana onzes de tração à retaguarda, coesos, focados e muito, muito disciplinados. Venceram sem terem jogado mais que os adversários (Liverpool e Feyenoord) e ambos podem agradecer às notáveis exibições dos respetivos guarda-redes, o belga Thibaut Courtois (30 anos) e o português Rui Patrício (34), o facto de terem ganho a final por um golo solitário. Para Rui Patrício a final de Tirana fica como um dos pontos mais relevantes da sua carreira, sempre marcada pelo excecional (e decisivo) desempenho na final do Europeu de 2016 em Paris contra a França. Recentemente despromovido à condição de suplente na Seleção Nacional, Patrício mostrou que se pode contar com ele nos momentos decisivos. As três finais europeias que jogou, Patrício ganhou-as todas a zero: 1-0 à França em 2016, no Stade de France; 1-0 à Holanda na final da Liga das Nações em 2019 (no Estádio do Dragão), e 1-0 ao Feyenoord na final da Liga Conferência em Tirana. Se Portugal chegar à final do próximo Mundial talvez não seja má ideia entregar-lhe a baliza…
A exibição do gigante Courtois (tem dois metros de altura) na final com o Liverpool fica na história. Assim como a de Dani Carvajal, que foi em Paris aquilo que Chris Smalling tinha sido em Tirana: intratável. Courtois foi capa em quase todos os jornais espanhóis e, obviamente, considerado o homem do jogo. Foi realmente esta torre belga quem desequilibrou a balança a favor do Madrid e permitiu que o golo de Vinícius decidisse uma final em que o Liverpool esteve praticamente sempre por cima. Os ingleses criaram oportunidades suficientes para vencerem com clareza, mas estava lá Courtois a dizer: não. Como Patrício uns dias antes na Arena Kombetare. Dois grandes guarda-redes decidiram finais europeias no espaço de quatro dias e a boa noticia é que um deles é português, tal como o treinador que confiou nele para a aventura romana.
 

ESPANHA ETERNA. Se o Real Madrid é um exemplo irrefutável de classe europeia - este clube vence a Champions há oito finais consecutivas (a última derrota foi com o Liverpool, em 1981!) e continua, ano após ano, década após década, a operar reviravoltas e milagres com uma naturalidade desarmante, deve acrescentar-se que o Madrid é, afinal, o porta-estandarte do futebol mais competitivo a nível europeu: o espanhol. Pode e deve elogiar-se a qualidade, competitividade e intensidade da Premier inglesa, de longe a melhor liga continental (e do Mundo); mas não pode ignorar-se a tremenda supremacia dos clubes espanhóis nas competições europeias, que é o sítio onde melhor se percebe a ordem de grandeza de cada um.
Os espanhóis não jogam finais: ganham-nas. E não se pense que é só o Real Madrid: o Barcelona, o Sevilha e o Atlético também pertencem ao clube dos implacáveis. As únicas derrotas aconteceram quando do outro lado estava outra equipa espanhola - o Atlético perdeu duas finais da Champions para o Real, e o Espanhol e o Bilbao perderam finais da Liga Europa para o Sevilha e o Atlético Madrid. É realmente um registo impressionante, que diz muito sobre a sanha competitiva dos espanhóis. O último ano em que perderam finais europeias para clubes estrangeiros foi em 2001: nesse ano o Valência de Hector Cúper perdeu a Champions para o Bayern no desempate por penáltis em Milão; e o Alavés de José Manuel Mané Esnal, perdeu em Dortmund a final da Taça UEFA para o Liverpool com um extraordinário 4-5 no final do prolongamento. Desde então, os espanhóis estiveram em 21 finais (10 na Champions e 11 na Liga Europa) e ganharam-nas todas. Todas!!!!
A Liga espanhola, que acaba de ser recusada pelo astro francês Kylian Mbapée, mandou publicar um anúncio de página inteira nos jornais em que especifica que no séc. XXI os clubes espanhóis ganharam 33 títulos europeus. Os franceses surgem no quadro com zero conquistas. O colunista Tomás Roncero titulou assim a sua crónica da final no As: Real Madrid, 14 - Paris SG, 0. É claro que há aqui algum orgulho ferido, alguma ressabia, mas é verdade que nas quartas-feiras europeias o primado continua a ser da La Liga. Muito acima da Premier, da Série A e da Bundesliga. Sem discussão.
 

Rui Patrício e Courtois decidiram finais europeias a favor de Mourinho e Ancelotti. No caso de Rui, foi a terceira final internacional ganha a zero 


‘FÚRIA’ DE VENCER

P ARIS viu o 14.º título de campeão europeu do Real Madrid e a 65.ª conquista internacional dos clubes espanhóis, de longe os mais titulados nas competições organizadas pela UEFA, muito acima da Itália (47) e da Inglaterra (42). O Real Madrid, com 27 títulos, é o navio almirante da armada espanhola que comporta ainda Barcelona (17), Atlético Madrid (8), Sevilha (7), Valência (4), Saragoça (1) e Villarreal (1). O futebol português é o sexto no ranking, com dez títulos distribuídos por FC Porto (7), Benfica (2) e Sporting (1), enquanto o futebol francês se fica por um modestíssimo 11.º lugar com apenas dois troféus, a Champions do Marselha de Bernard Tapie em 1993 e a Taça das Taças do PSG de Luis Fernández e Raí em 1996.