'Do Futebol para a Vida'
CLICHÉ é uma expressão de origem francesa, que representa uma ideia de banalidade, tal a quantidade de vezes que foi repetida.
Vem esta deixa a propósito do título da crónica de hoje.
Nesta fase difícil, o espírito solidário dos portugueses tem vindo ao de cima. Há muitas solicitações e, para cada uma, há uma resposta imediata, seja onde for, para quem for. Há meninos que recebem computadores para estudarem em casa, profissionais de saúde a quem é oferecido material hospitalar importante, pobres e sem-abrigo que passaram a ter um teto para dormir.
Mas também no futebol há quem esteja a passar por grandes dificuldades. Embora exista a perceção pública que, no mundo da bola, tudo é um mar de rosas, a verdade é que, por lá, há também muitas verdades espinhosas.
São muitos (mas mesmo muitos) os jogadores dos campeonatos não profissionais que, neste momento, estão numa situação verdadeiramente calamitosa.
Apesar do apoio, sempre pronto e ativo do seu sindicato, continuam a surgir casos que resultam de situações muito difíceis de compreender: meses de ordenados em atraso, atletas abandonados por alguns pseudo-agentes/intermediários, funcionários de segunda linha que não recebem um cêntimo há muito, muito tempo.
A situação não é geral (há muitos clubes cumpridores e outros que, lutando pela sua sobrevivência, continuam a fazer os impossíveis por cumprir), mas pelos intervalos da chuva há também uma mão cheia de malandros que pouco se importam com a subsistência dos seus atletas, desligando-se por completo de uma realidade que chamaram para si.
É um esgoto a céu aberto, que merecia tempo de antena a sério. Merecia investigação jornalística profunda, denúncia urgente e empenho policial sério. No meio de tudo isso, levam pancada os atletas mais jovens, quase sempre enganados por quem lhes promete o paraíso e oferece o inferno.
O movimento Do Futebol para a Vida foi criado por jogadores de qualidade humana superior: Ibra, Paulinho e Hugo Machado. Tem crescido dia após dia e tem conseguido juntar nomes, fundos e bens de primeiro necessidade para os que mais precisam. Tem site, redes sociais e uma conta aberta para quem quiser apoiar financeiramente (processo transparente). Há também armazéns de norte ou a sul do país onde cada um pode deixar, se preferir, bens alimentares de primeira necessidade.
Esta iniciativa diz muito sobre o caráter desta malta. De malta que se juntou para identificar e resolver casos problemáticos e dramáticos. Um a um, porta a porta. De malta que anda para lá e para cá, de carrinha, todos os dias, para ajudar os outros. Tudo de forma desinteressada e que tem como única retribuição a sensação de plenitude e realização. A sensação de saber que estão a fazer pelos outros aquilo que, um dia, podem precisar que os outros façam por si. Chama-se a isso solidariedade e tem um valor imensurável.
Ficariam surpreendidos com alguns dos nomes que, desde a primeira hora, se propuseram a ajudar. Gente que é vista cá fora com carimbos pejorativos mas que, em privado, tem revelado o que realmente é: uns seres humanos do outro mundo.
Estou orgulhoso e tenho enorme respeito por todos eles.
Tenho esperança que o caro leitor se junte, como quiser e puder, a este movimento. É sério, urgente e importante. Um bem haja a todos.
http://futebolparaavida.pt
IBAN - PT50 0033 0000 4559 9580 5940 5
«Ajudar é Fundamental»