Dá p’ra entender?!

OPINIÃO17.08.201801:03

Matheus Pereira podia ter ficado apenas chateado, e estava no seu direito. Todos os jogadores têm o direito de ficar chateados por não jogar. No limite, podia até ter dito ao treinador que estava chateado por não ter sido um dos homens do jogo. O que se passa entre um jogador e um treinador deve ficar entre jogador e treinador. E, nesse sentido, julgo que todos os jogadores podem manifestar sempre o que sentem aos treinadores.

Podia Mateus Pereira ter ficado apenas reservadamente chateado e seguir em frente? Podia. Mas deve ter achado que não era a mesma coisa. Deu, por isso, uma de estrela e foi para as redes socias dizer a toda a gente que tinha ficado chateado por não fazer parte das escolhas do treinador do Sporting. Fez exatamente o que não devia. E não faltou ao respeito apenas ao treinador. Faltou ao respeito a todos os companheiros, aos que jogaram, sobretudo, mas também aos que continuam a lutar pela oportunidade de jogar.

Jogadores chateados por não jogar são certamente às mãos-cheias. Faz parte. E é bom sinal. O contrário é que seria incompreensível. Mas ficar chateado por não jogar deve significar ter ainda mais empenho, mais determinação, mais aplicação no treino seguinte e no seguinte e ainda no seguinte para mostrar ao treinador que é ele que está errado.

Como diz Cristiano Ronaldo - o maior e melhor exemplo de todos - só o talento não chega para alguém ser alguém no futebol. No futebol como em tudo na vida. É preciso trabalhar. E para ser bom é preciso trabalhar muito. E para ser um dos melhores é preciso trabalhar ainda mais. Muito mais.

Admito que possa Matheus Pereira considerar-se melhor do que muitos dos companheiros. Talvez pense mesmo que é o melhor de todos. Claro que presunção e água benta, cada qual toma a que quer, como diz o povo, mas também é verdade que a dose certa de autoconfiança nunca fez mal a ninguém e no futebol é até essencial.

Pode Matheus Pereira ter talento, e tem; pode achar que tem lugar neste Sporting, e talvez possa ter. Mas está ainda longe de ser um craque, porque ser um craque não é apenas ter talento. É muito mais do que isso. E é sobretudo não dar ares de menino mimado, caprichoso e arrogante como deu na verdade o jovem leão ao escrever o que escreveu numa dessas redes sociais que servem para tanta coisa útil e são infelizmente utilizadas para tanta coisa inútil.

O que Matheus Pereira fez foi, no fundo, romper com os mais elementares laços que devem unir qualquer grupo, e mais ainda um grupo tão especial no modo de vida como é o de uma equipa de futebol profissional. Matheus Pereira quebrou a honra. Feriu o companheirismo e o respeito pelas decisões do treinador.

Leva-me a pensar se não fará realmente sentido o que por aí se diz, que o jovem jogador teve, afinal, outro objetivo, talvez não imediatamente decifrado, de estar a forçar a saída do clube, por empréstimo ou por venda definitiva, quem sabe por temer a dificuldade de se impor no Sporting pelo nível de exigência que tem qualquer grande clube.

Quanto pior cara, pior compromisso e menos trabalho mostrar um jogador, mais excluído será pelo treinador. Não há volta a dar. Porque se cada jogador pode defender apenas a sua posição, ao treinador exige-se que defenda a equipa. E é por isso que, ao contrário do jogador, é o treinador o despedido se a equipa não ganhar.

Neste caso Matheus Pereira, deu o treinador José Peseiro a resposta que devia ter dado. Soube ser elegante mas também foi líder. Soube ser simples mas também foi firme. E mostrou-se, como devia, intransigente.

Escreveu Matheus Pereira que há coisas que não dão para entender. Tem razão. Realmente há. A começar exatamente no que fez.

Talvez lhe sirva de lição. A ele e a todos os outros.