Portimonense-Sporting, 1-2 Desta vez foi um martelo nórdico a furar os pneus ao autocarro (crónica)

FUTEBOL18.10.202423:10

Conrad Harder decisivo ao marcar os dois golos do Sporting frente a um Portimonense que, à semelhança do Casa Pia há duas semanas, fechou todas as suas linhas junto à área leonina. E esteve bem perto do prolongamento...

Atualmente, qualquer equipa profissional reúne condições diárias para o trabalho físico, técnico e tático exigido à alta competição. Não surpreende, por isso, que uma formação da II Liga, acabada aliás de descer da primeira, tenha no seu treinador o conhecimento suficiente para tentar travar qualquer adversário, ou nos seus jogadores as capacidades de interpretar o plano do técnico e executá-lo o melhor possível, com argumentos técnicos pertinentes e relevantes. O que se escreveu sobre uma equipa de II Liga vale para as menos ricas da primeira.

O que faz, então, a diferença (que se acentua cada vez mais) entre as equipas de topo e as outras? Adivinhou a resposta sem dificuldade, é pergunta de 50 euros em programa de televisão: o poderio financeiro, que dá a capacidade de contratar e formar melhores jogadores.

Em 70 ou 80 por cento das ocasiões será isso a fazer a diferença, por mais jogadores que se coloquem à frente da área, por mais linhas de cinco ou de seis defesas que se colem a linhas de três ou de dois no meio-campo e um ou dois desgraçados na frente a ver bolas passar pelo ar e a esbarrar contra centrais confiantes. Vai resultar de vez em quando, mas na verdade não sucederá (não tem sucedido) em muito mais ocasiões do que uma estratégia de jogar o jogo pelo jogo. A parte do que será melhor para o espetáculo e para o produto deixamos para depois, porque importa falar do que sucedeu em Portimão.

Em Portimão o Sporting encontrou o segundo autocarro de dois andares consecutivo em dois jogos, depois da famosa linha de seis defesas do Casa Pia em Alvalade. Há diferenças a destacar à partida: o jogo com os casapianos era de Liga, e este de Taça; o Portimonense, para todos os efeitos, é de um escalão inferior e nem sequer está a cumprir, até ver, uma temporada capaz de reaproximá-lo da subida; e a principal — o Portimonense esteve a meio minuto de levar o Sporting a prolongamento. Isto, num jogo de Liga, valeria um ponto. Aqui não chegámos a saber o que valeria, porque uma das contratações leoninas do verão, Conrad Harder, fechou com grande classe (a passe de Gyokeres) o que tinha aberto na primeira parte ao fixar a vantagem com que o Sporting saiu para intervalo.

O jogo teve sentido único durante mais de 80 minutos. Os números provam-no, embora saibamos o quanto os números, no futebol (ao contrário do que sucede na generalidade das outras modalidades coletivas) podem ser enganadores. Posse de bola, cantos, remates, tudo deu verde e branco nesta noite de sexta-feira.

Aos 57 minutos, vencia o Sporting por 1-0, houve um cruzamento da direita, de Quenda. Após algumas carambolas, o guarda-redes do Portimonense segurou a bola. Em modo de reação automática, Vinicius olhou para a frente, na ânsia de tentar um contra-ataque e viu... relva e o congénere Kovacevic sozinho lá muito longe. Acabou por jogar a bola para a lateral, onde estava um dos 10 companheiros que continuavam a recuar de cada vez que os leões atacavam. Nesta altura já tinha entrado Chico Banza, que ainda assim ia dando de quando em vez uns abanões no ataque algarvio.

Mas falemos então de cantos: aos 86 minutos o Portimonense conquistou o seu primeiro do jogo e Relvas esteve perto de conseguir empatar, em lance que deu novo canto. Deste segundo nasceu o golo portimonense, naquele que foi o terceiro remate em todo o jogo e o único em direção da baliza.

Era a magia do futebol a imperar. Um jogo único, onde por vezes os menos fortes conseguem bater os mais fortes. Não se deu o caso nem saberíamos se com prolongamento se daria, mas apenas porque o Sporting parece ter encontrado uma nova pedra preciosa no futebol nórdico. Já agora, a este propósito, leia-se o que escreve na edição de A BOLA de hoje um ex-futebolista português que vive na Noruega há um par de décadas...