Da pedra (suja)

OPINIÃO14.07.202206:35

O FC Porto ganha o que tem ganho por ter o Sérgio Conceição - e não truques insinuados

COM a Adélia Prado descobri que «quando Deus nos tira a poesia se olharmos a pedra é só a pedra que vemos» - e, por isso, quando olho para um jogo, não é só o jogo que eu vejo. E quando olho para um treinador (sobretudo no que ele é na sua cabeça e no seu coração e o que ele faz para lá do que faz no banco) ainda menos. Por isso, é que, ao Sérgio Conceição, não tenho deixado de o ver numa outra metáfora a soltar-se do que quiçá seja o seu destino: sempre que se sente à beira de um abismo (ou um abismo se chega à beira dele) - ele olha o abismo e só é capaz de dar o passo atrás.
Por isso é que, com ele, o futebol da equipa nunca dá a ideia de que quem o joga, o joga como se o jogasse em cima dum carrossel que de tanto andar à roda vai deixando as cabeças tontas e os pés tortos - com a bola em extravagância inútil ou a baliza a fugir-lhes dos olhos. Por isso é que com ele, os seus jogadores nunca deixam de entrar em campo preparados para não serem a má notícia do jornal do dia seguinte - entrando em campo prontos a desafiarem a sua história, a história do FC Porto, no seu caráter.  Por isso é que com ele o FC Porto vai parecendo sempre capaz de ganhar o que se julgava difícil de ganhar - ganhando-o  sem precisar de manigâncias como as que se espumaram em alaridos (e delírios...) insinuados do contrato de David Carmo (ignorando-se o de Chiquinho e o de Edwards - e ainda mais o de Grealish no Aston Villa...). Sim, o FC Porto ganha o que tem ganho por ter um treinador capaz de transformar situações desfavoráveis nos seus melhores estímulos e nas suas melhores ações (encontrando, por exemplo, alternativas  talvez inimagináveis aos jogadores que vai perdendo em nome de negócios melhores ou piores) - e ganha por ter um treinador que transmite ao plantel a valentia em vez do medo, a grandeza em vez da mesquinhez, o entusiasmo em vez da resignação, sem se preocupar com remoques e torpezas (de quem perde) ou com aleivosias e intrigas (de quem só vê a pedra suja onde a pedra nem sequer está...).