Cristiano Ronaldo sentado no banco
Fernando Santos vai-nos dando preciosas indicações de que o interesse da Seleção prevalecerá sempre sobre a admiração profissional
N INGUÉM de bom senso poderá afirmar que a ausência de Cristiano Ronaldo na equipa titular da Seleção e a opção do selecionador em deixá-lo no banco é uma não notícia. Afinal estamos a falar de quem é reconhecido internacionalmente como um dos melhores jogadores do mundo, título que, aliás, ostentou oficialmente e repetidas vezes.
No entanto, apesar de todas as interrogações que já foram apresentadas pelos indefetíveis fãs do maior goleador da história do futebol, a verdade é que o jogo e as suas incidências e circunstâncias deram inteira razão a Fernando Santos.
Em Sevilha, enfrentando uma Espanha que, mais uma vez, manifestou clara supremacia na dinâmica de jogo, na capacidade de pressão, na sua avassaladora personalidade ofensiva, Portugal conseguiu reduzir ao mínimo os custos de uma primeira parte que poderia ter sido devastadora, pela ação esforçada, sacrificada e humilde de André Silva, que lutou sozinho contra o sistema de armação de jogo da seleção espanhola e que precisa muito da liberdade dos seus centrais para criar de forma organizada e experimentada os seus lances de ataque.
Como bem fez lembrar Fernando Santos na conferência de imprensa após o jogo, Cristiano tem magníficas características como avançado, mas a pressão e a obstrução à construção de jogo do adversário não é, definitivamente, uma delas. Daí que se deva elogiar a capacidade premonitória do selecionador nacional, ao ter percebido a necessidade de encontrar uma solução que passasse pela expressão de sacrifício de André Silva e pela capacidade de explosão de Rafael Leão. E isso implicava que Cristiano Ronaldo ficasse no banco. Sem escândalo, sem turbulência e com a razão a ficar ainda mais explícita depois da entrada de Cristiano na última meia hora, tempo em que o capitão da equipa portuguesa nunca deixou de estar algo perdido no jogo.
A defesa de uma lenda do futebol português, como é Cristiano Ronaldo, não se faz pela imposição em campo do jogador que, necessariamente, vai alterando algumas das suas características. Em jogos em que Portugal terá mais tempo a posse de bola, estará mais próximo da grande área do adversário, precisará mais de um predador de guarda-redes, então, sim, Cristiano continuará a ser de uma utilidade e de um valor inquestionável. Mas já não em todos os jogos. Depende, na verdade, das características do adversário, do seu sistema de jogo, da especificidades dos seus jogadores e da condição física e psicológica de CR7.
Nada disto diminui Cristiano e foi refrescante lê-lo nas redes sociais da moda a colocar o ênfase do jogo na equipa e num resultado que abre perspetivas otimistas, sem qualquer sombra de ressentimento, o que também leva a admitir que Fernando Santos tivesse tido um cuidado especial em discutir o problema da sua não inclusão na equipa inicial, muito antes de qualquer outro saber.
O importante é que Fernando Santos nos vai dando indicações preciosas de que os interesses da Seleção e a ideia de colocar em campo a melhor equipa prevalecem sobre as relações pessoais mais fortes e a sua própria admiração profissional. Aconteceu, agora, com Cristiano, mas é importante que se diga que já estava a transparecer com a escolha de Diogo Costa para a baliza de Portugal, em vez do histórico Rui Patrício. E pode pensar-se como natural que a próxima renovação surja na zona 6, com uma eventual troca de João Moutinho - outro histórico da Seleção Nacional - por Rúben Neves que, em Sevilha, encheu o campo, numa altura em que Portugal precisava de músculo e de pulmão.
A ATITUDE DE LUÍS MAGALHÃES
O Sporting já oficializou a substituição do seu treinador de basquetebol, depois de Luís Magalhães ter explodido após o jogo com o FC Porto e ter batido a porta com estrondo, acusando a federação de estar a matar a modalidade em Portugal e de, nestas condições atuais, preferir abandonar o clube e o próprio basquetebol. Num país em que todas as atenções estão viradas para o futebol, a drástica atitude de um treinador de mérito afirmado acaba por passar despercebida e isso é dramático para o crescimento do desporto nacional.
APÓS 100 DIAS SÓ SE VÊ TÚNEL
Cem dias de guerra na Ucrânia e só se vê túnel. A desproporção de tropas e de meios começa a fazer a diferença a favor dos invasores russos, a América alimenta a esperança ucraniana com novas armas, a Europa, como de costume, tropeça no caminho de uma unidade essencial e corre-se o risco, se tudo for mal explicado, do impacto económico que se faz e fará sentir, sobretudo, nos países de economia menos sólida, ser visto como desnecessário e dispensável, fazendo diminuir ou até anular uma justa atitude solidária para com a Ucrânia.