Cristiano Ronaldo!

OPINIÃO12.10.201804:00

LUÍS FIGO autosuspendeu-se da Seleção Nacional logo após a final do Euro-2004, com 32 anos, e ninguém levou a mal ao então melhor jogador português - que era, também, um dos melhores do mundo. Na altura, Figo justificou a decisão com a necessidade de ter algum tempo para ele e todos pareceram compreendê-lo, até porque teria 34 anos quando chegasse a competição seguinte, o Mundial-2006.

Esteve Figo praticamente um ano sem representar a Seleção, sem dramas, sem queixumes, sem críticas. Aceitou regressar quando entendeu ser o momento, já em junho de 2005, para ajudar a equipa nos seis decisivos jogos (com 5V e 1E) que faltavam da qualificação para o Mundial, que veio também a jogar, e bem, na Alemanha, contribuindo, e muito, para que a equipa das quinas chegasse às meias-finais, repetindo o que o Portugal de Eusébio conseguira 40 anos antes em Inglaterra.

Tomou  Figo essa decisão em conjunto com o então presidente da federação, Gilberto Madaíl, e com o então selecionador, o brasileiro  Scolari, e não me recordo, com franqueza, de ouvir vozes contra a legítima vontade de Figo ou críticas aos responsáveis por aceitá-la.

Nessa qualificação e na fase final do Mundial de 2006, recordo, grande figura da equipa portuguesa foi também o então jovem Cristiano Ronaldo, já depois de muito ter surpreendido a Europa com o talento revelado no Euro-2004, quando ainda só tinha 19 anos.

Com Ronaldo sempre decisivo, e muito graças a ele, portanto, a Seleção foi-se mantendo nas fases finais de todas as competições, em 2008, 2010, 2012 e 2014, até atingir o maior feito da sua história, com o impressionante título de campeã da Europa ganho à França, em França, há dois anos.

Agora, depois de mais um Mundial, o da Rússia, onde foi, apesar de tudo, dos poucos que brilhou, e após a presença em oito fases finais consecutivas de grandes competições, tendo dado sempre tudo à Seleção (e saberá ele e Deus, muitas vezes, em que condições…), mais de 150 jogos depois e mais de 80 golos pelas quinas, e ainda na condição de maior jogador português de todos os tempos, Cristiano Ronaldo ter-se-á limitado, aos 33 anos (e terá 35 quando chegar o Europeu) a pedir à Federação Portuguesa de Futebol e ao selecionador Fernando Santos que o poupem até final deste ano, numa fase da carreira naturalmente agitada pela impactante transferência do Real Madrid para a Juventus, e numa altura em que se joga a mais absurda das competições criada pela UEFA - como há dias classificou esta Liga das Nações, e bem, o treinador do Liverpool, Jurgen Klopp.

Pois bem, caiu-lhe (a ele, Ronaldo) tudo em cima, como se o pedido feito aos responsáveis da Seleção fosse, imagine-se, um ato de insubordinação... ou forma de Ronaldo acabar por mostrar que quem manda na Seleção é ele e não o presidente da federação ou o selecionador…

Como se Ronaldo nunca tivesse feito nada pelo futebol português e pela Seleção, como se não tivesse estado sempre inteiramente disponível, melhor ou pior fisicamente, com maiores ou menores sacrifícios pessoais, e fosse aceitável acusá-lo de querer, a partir de agora, vir à equipa das quinas apenas quando quiser e muito bem lhe apetecer.

Logo após o Mundial da Rússia, e agora que está a caminho dos 34 anos (que celebra em fevereiro), Cristiano Ronaldo podia perfeitamente ter anunciado (e se calhar era mesmo o que devia ter feito…) uma pausa na Seleção, como fez Figo há quase 15 anos, e talvez assim melhor tivessem compreendido e aceitado os que, entretanto, o foram criticando e criticando o selecionador, como se estivesse Fernando Santos proibido de ser sensível a um pedido do nosso maior futebolista e do maior representante de sempre da Seleção Nacional.

Enfim, faz um pouco parte da nossa história esta nossa queda para nem sempre tratarmos bem os nossos heróis.

O que é pena!

AINDA a propósito de Cristiano Ronaldo, não faço a mais pequena ideia sobre o que na verdade sucedeu numa noite de setembro de 2009, na intimidade de um quarto em Las Vegas, entre Cristiano Ronaldo e Kathryn Mayorga, norte-americana que o acusa de violação. Julgo que é ainda cedo para se saber toda a verdade sobre alguns dos alegados acontecimentos e supostos acordos de confidencialidade relatados por uma revista alemã.

Sei, evidentemente, o que todos sabem, que Ronaldo e Mayorga estiveram realmente juntos num quarto de Las Vegas, e que existe uma acusação de abuso sexual que Cristiano Ronaldo nega de forma absolutamente veemente.

Tendo (e assumo-o sem qualquer problema de consciência) a acreditar em Cristiano Ronaldo porque o que conheço dele é suficiente para crer no caráter da pessoa que ele me parece ser. E tendo a desconfiar de uma acusação desenterrada agora sobre alegados factos ocorridos há nove anos.

Uma história, no mínimo, com muito de estranho e, pelo menos por enquanto, e ao que se sabe, ainda muito mal contada por parte de quem acusa.

O que também sei é que Ronaldo corre, como sempre, o risco de ser vítima de um julgamento público e, como todos bem sabemos, os julgamentos populares são sempre inaceitáveis e profundamente perversos e devemos todos contribuir, em primeiro lugar, para os impedir. 

Não se trata, pois, de apontar dedos a eventuais vítimas; trata-se de defender a presunção de inocência que, como qualquer pessoa, merece e a ela tem direito Cristiano Ronaldo, maior figura de Portugal no mundo. A violação sexual, como o próprio Ronaldo obviamente reconhece, é um crime abjeto e que deve ser exemplarmente punido. Mas acusar injustamente alguém (sobretudo nestas circunstâncias), é também, além de criminosa, uma violação insuportável.

E é bom que se compreenda isso antes de nos pormos a dar palpites!

PS: Portugal mostrou ontem na Polónia que mesmo sem Cristiano Ronaldo pode ser uma equipa muito forte. Bom sinal. Talvez tenhamos, aliás, de recuar à geração de 2000/2004 para encontrar tanto talento como agora. Magnífica vitória num bom jogo de futebol. Um senão: alguém me explica porque somos tão fraquinhos na hora de rematar à baliza?!