Clássico!

OPINIÃO26.02.202106:00

Resultado no Dragão poderá não dizer muito do «candidato» mas dirá muito do leão

S E Guardiola, para muitos o melhor treinador do mundo, diz que o Manchester City pensa jogo a jogo, apesar dos dez pontos de vantagem sobre o segundo da Premier League, que é o Manchester United, e quase 20 de vantagem sobre o campeão em título, o Liverpool, por que raio de razão se julgará que deve Ruben Amorim deixar de falar no jogo a jogo e assumir que o Sporting é o favorito a um título de campeão que não conquista há 19 anos?
Razão têm, com toda a franqueza, e com as devidas diferenças de poder, cenário e circunstância, Guardiola e Rúben Amorim, por muito que isso custe a meia dúzia de animadores do comentário futebolístico nacional, como se fosse um disparate o jovem treinador dos leões optar pela prudência, pelo discurso sólido mas cauteloso, ambicioso mas realista. Amorim, que começa por conquistar jogadores e adeptos pelo coração e, só depois, pela cabeça, já fez o mais difícil em Alvalade, aproveitando, evidentemente, com competência, as condições altamente favoráveis que foi encontrando, a começar pela serenidade e paz fornecida pela ausência de adeptos e daquele devastador, desestabilizador e aterrador clima de conflitualidade permanente criado, como era público e notório, pelas claques e pela pressão das claques leoninas.
Apesar desse cenário favorável, a verdade é que o jovem treinador Amorim foi capaz de em meia dúzia de meses devolver o orgulho ao leão, mas sobretudo a autoestima, a confiança e a crença a um clube que parecia ter perdido a fé na possibilidade de superar um dos momentos mais negros da sua história.
Recuperado o mais difícil na natureza interna do leão, seguiu-se a construção de uma equipa e de uma estratégia. A equipa está formada, e bem formada, e da estratégia não abdica, e bem, Ruben Amorim.
Para onde vai um, vão todos – como, notavelmente o treinador indicou – mas vão todos… jogo a jogo, porque é realmente jogo a jogo que as coisas se conquistam na alta competição e de nada vale traçar grandes e sonhadores objetivos se não se for capaz de cumprir com sucesso o desafio de cada etapa.
Os sportinguistas que não se esqueçam que este Sporting de Rubem Amorim teve de fazer muito mais do que ir ganhando, apenas, jogos. Teve de reconstruir um espírito, teve de reerguer a dedicação e a devoção, e teve de conseguir voltar a acreditar profundamente ser capaz de chegar à glória.
Mas sem apoio dos adeptos (ainda que possa presumir-se, no caso leonino, pelas razões que se conhecem, ter trazido isso algum benefício), mais difícil consegui-lo apenas pela competência de um treinador. Não chega. É preciso organização exemplar; é preciso confiança na estrutura; é preciso exemplo do presidente. 
Concorde-se ou não com os modelos seguidos, as escolhas feitas e as decisões tomadas, o Sporting tem tido tudo isso, num casamento que raras vezes resulta tão perfeito, e, no caso do Sporting, tão raras vezes que até chegou a parecer absurdo.
Tem este leão dominador do campeonato teste de fogo, este sábado, no Porto, num clássico que não definindo grande coisa para o leão, pode definir muito para o dragão.
Um FC Porto-Sporting que pode, sublinho, ser, evidentemente, muito mais decisivo para o campeão nacional do que para o leão, confortavelmente sentado, ainda, numa poltrona de dez pontos de vantagem que, não ganhando jogos, ajuda, e muito, a encará-los.
Claro que se espera um FC Porto, como sempre, e sobretudo frente aos mais poderosos adversários, a jogar mais do que um jogo de futebol, porque o que foi criando o ADN portista nas últimas décadas foi exatamente o jogar pelo clube, sim, mas também pela cidade e por uma certa identidade da cidade, jogar pela região, pelo dragão, pelo poderoso, singular, incontestado e laureado presidente, e jogar até pela luta contra a capital e contra o alegado centralismo, seja lá o que for que isso signifique para o univerrso portista.
Esse ADN, como se vulgarizou chamar, foi, durante anos e anos, sempre muito bem promovido por quem, no clube, teve, e tem, a responsabilidade de liderar e conduzir, sem parecer, bem pelo contrário, preocupado com a controvérsia ou a polémica, com faltas de ética, ataques e discursos inflamados, o tão afamado lema do contra tudo e contra todos, mais um tipo de comportamento guerreiro, dentro e fora do campo, que se foi tornando habitual, e a que de vez em quando acrescenta., há muito tempo,  o inaceitável espetáculo dado, em pleno jogo, quando toda a gente no banco de suplentes da equipa portista pula constantemente para a linha lateral do relvado e grita, gesticula, pressiona e verbaliza, de forma mais ou menos agressiva, uma contestação que continua a julgar poder condicionar árbitros e adversários e dar-lhe a vantagem que precisa.
Este Sporting, mais aprendiz nesse tipo de luta e confronto, vai, também nesse sentido, debater-se num teste ao caráter da equipa, à coragem dos jogadores, a exigir o mais autêntico espírito do leão e a mais intensa das ambições.
Já se sabe que o resultado do clássico deste sábado será sempre muito mais importante para quem segue atrás do que para quem vai à frente, tendo em conta, sobretudo, a diferença pontual entre FCP e SCP. Quando se fala de teste ao leão, não se fala, pois, de um teste pela candidatura ao título, que é uma candidatura mais do que óbvia, mas um teste à verdadeira dimensão que, nesta fase da sua vida, a equipa de Ruben Amorim será ou não capaz de mostrar. 
 

 

E M Atenas, com o Arsenal, o Benfica já foi mais e melhor equipa? Já. Foi mais organizado? Foi. Jogou melhor do que em Roma, há uma semana? Jogou, claramente. Trabalhou mais? Trabalhou? Tirou, como diz Jesus, um pouco mais a cabeça de fora? Sim, tirou. Mas ainda não tem poder de fogo no ataque nem a segurança que precisa a defender para discutir, nos detalhes, jogos deste nível. E porque não tem ainda, não se iludam os adeptos, plantel para constituir uma grande equipa. Precisa de mais.
O que marca a diferença quando o nível sobe, como nas competições europeias, é o talento dos jogadores, a sua capacidade, o momento, também, que vivem, de maior ou menor confiança. E a diferença, na noite destas quinta-feira, numa Grécia de tão más recordações para os benfiquistas, esteve, de novo, o talento e a capacidade. A capacidade que o Benfica não teve para evitar cometer dois erros defensivos menos aceitáveis que lhe custaram, dois golos, e o talento que o Arsenal teve no atacante Aubameyeng para desequilibrar a favor da equipa inglesa no momento que a equipa mais precisou.
Seja pela qualidade (ou falta dela), pelo talento (ou falta dele), pelo momento de recuperação (física, técnica e emocional), seja por isto ou por aquilo, a merecer, em todo o caso, análise, sobretudo, dos responsáveis encarnados, a verdade é que ficou, de novo a ideia, de um Benfica melhor - e que me parece que vai jogar ainda muito melhor até final desta época – mas ainda assim, realmente, sem verdadeiro estofo para discutir competições deste nível se tiver de enfrentar as principais equipas das principais ligas europeias. E não é de hoje. Nem desta época!

S E os responsáveis pelo buzinão que quarta-feira aumentou ligeira e rapidamente o volume de som nas imediações do Estádio da Luz, alegadamente em protesto contra o presidente do Benfica, são os mesmos que em outubro do ano passado divulgaram nas redes sociais a vergonhosa imagem de um Luís Filipe Vieira vestido «à Hitler», nas últimas eleições na Luz, então está explicado: alguns dos seguidores da chamada oposição a Vieira, sabem protestar mas pode duvidar-se se sabem viver em Democracia.
Há apenas quatro meses, nas mais concorridas eleições de sempre no Benfica, Filipe Vieira foi reeleito para um sexto mandato como presidente por quase 65 por cento dos votos de uma histórica franja de sócios da águia. Quatro meses depois, meia dúzia de dezenas de automóveis, provavelmente orquestrados pelos que tiveram o inqualificável desplante de querer confundir o presidente do Benfica com «Hitler», decidiram buzinar para exigir a saida de alguém eleito pela maioria.Contrariar a vontade da maioria não é pôr em causa o que é democrático? 
Não aceitarão estes alegados críticos de Vieira a Assembleia Geral do clube como o local próprio para discutir, contestar, criticar, votar e impor pontos e vista? Respeitando a maioria não saberão, se for o caso, esperar por próximas eleitoções para fazer vingar as teses que dizem defender melhor o Benfica?
É, no mínimo, muito estranho – e até de um clubismo muito discutível – crer que um buzinão, na véspera de um jogo europeu do Benfica, em desprezo pela vontade da maioria, seja bom instrumento de defesa do próprio clube. Se a maioria dos sócios do Benfica está arrependida de votar Vieira, sabe certamente o que fazer. O clube tem estatutos, tem Assembleia Geral, e tem, sobretudo, uma inegável história de democracia que não deveria envergonhar. Ou que envergonhe, se for essa a vontade da maioria. Mas não de um artificial, folclórico e, apenas barulhento, buzinão!