Cai o pano

OPINIÃO21.05.201904:00

No passado domingo, fechou-se a cortina sobre mais uma época desportiva. Mais uma entre muitas, que moram na história do futebol profissional em Portugal. Depois de nove meses, trinta e quatro jornadas, centenas de jogos disputados e milhares de minutos de bola, as contas do campeonato maior estão agora encerradas. Está tudo está definido, tudo resolvido, tudo terminado. Enquanto uns saboreiam o sabor da vitória, outros conformam-se com a infelicidade de não atingirem os seus objetivos. Também aí, tudo normal. É assim agora, como foi no passado, como será sempre no futuro.


Os golos de antologia e as jogadas talentosas, os lances inesperados e as decisões apertadas, as táticas de mestre e as opções de risco tiveram a assinatura exclusiva de três agentes do jogo. Três agentes que fazem a diferença. Os três que verdadeiramente importam. Jogadores, treinadores e árbitros são - por essa ordem de relevância -, os operários de serviço. Os únicos que fazem com que o jogo aconteça. Aqueles que estão lá dentro, a defender a sua dama. A honrar e a suar a camisola. São eles que criam a arte, o entusiasmo e a sensação exterior de justiça. São eles que entregam ao jogo o talento, a emoção e a integridade. Cabe-lhes a responsabilidade de desfilar competência, qualidade e respeito.
Jogadores, treinadores e árbitros são os únicos agentes desportivos que arregaçam as mangas para tentar fazer a diferença. Para dar ao mundo o espetáculo que o mundo pede, precisa e merece. O jogo, que é saboreado por tantos, só existe por causa deles. Por causa daqueles noventa minutos de adrenalina em que, sentados cá de cima, os vemos a trabalhar empenhados, lá em baixo. É a eles - e só a eles - que devemos tudo. Tudo o que mexe connosco. Tudo o que ora nos alegra ora entristece. Tudo o que ora nos ilude ora desilude.


Esta evidência parece ser, por vezes, esquecida. É como se, numa qualquer peça de teatro, as pessoas que mais se destacassem não fossem os talentosos atores que a protagonizam, mas sim os guionistas, figurinistas e coristas, que à partida ninguém conhece. Ninguém sabe quem são. Ninguém ouviu falar. O acessório é importante, mas o seu raio de ação deve estar sempre por detrás da cortina. É o essencial que tem que brilhar à frente dela.


Não faz sentido que (alguns) departamentos de comunicação, (alguns) comentadores afetos a clubes, (alguns) dirigentes, autarcas, empresários e até jornalistas queiram ser, no futebol, mais do que não são. Mais do que nunca foram. Mais do que jamais serão. Quando isso acontece (e infelizmente acontece com frequência), a pirâmide fica invertida. O jogo fica de pernas para o ar. O paradigma muda por completo.
Sabendo disto (todos sabemos disto), porque é que continuamos a dar tempo de antena a quem não deve ter antena? Porque insistimos na rábula de viver o jogo de fora para dentro? Porque alimentamos o animal que tanto criticamos? Seremos todos incultos? Mal formados? Burros? Ou, pior, apenas mal intencionados?  Que a pausa que aí vem seja boa conselheira. Falar de futebol positivo é, sem dúvida, o caminho, mas resolver o negativo tem que ser a prioridade.


Quem não se lembra de Mohammad Said Al-Sahaf, Ministro da Informação de Saddam, que tinha a casa a arder e dizia, a sorrir, que os americanos estavam a ser esmagados?