Brasil: emigrantes sim, imigrantes não
'JAM sessions' é o espaço de opinião semanal de João Almeida Moreira, correspondente de A BOLA no Brasil
O Brasil exportou 1217 jogadores de futebol em 2023, segundo o relatório anual de transferências da FIFA daquele ano. O valor dos negócios envolvendo atletas do país do futebol respondeu a 10%, o equivalente a 935 milhões de dólares, do valor total movimentado no planeta.
No contexto da globalização, as exportações de pé de obra cresceram 66% em 10 anos, com franceses e argentinos no segundo e no terceiro lugares, dizia ainda o estudo.
Noutra pesquisa, do site Trivela, daqueles mais de 1200 jogadores brasileiros, 195 atuavam nas sete ligas mais fortes da Europa, a Premier League, a La Liga, a Bundesliga, a Serie A, a Ligue 1, a Eredivisie e a Liga Portugal, a mais concorrida, com 108 atletas do maior país sul-americano. Somadas todas as divisões portuguesas, o número disparava para 684. Destinos surpreendentes, como Malta, Tailândia e Emirados Árabes Unidos, faziam parte do top-10.
É, portanto, estranho, tão estranho como Donald Trump, filho de uma escocesa e neto de um casal de alemães, iniciar uma cruzada contra os emigrantes nos EUA, que o Conselho Técnico da CBF, realizado na terça-feira dia 12, tenha servido de embrião à política de restrição à contratação de atletas estrangeiros no Brasil.
De nove (número aprovado muito recentemente), o grupo de representantes dos 20 clubes da Série A, sob a liderança de Marcelo Paz, CEO do Fortaleza, quer passar para seis, mal os contratos atuais deixem de vigorar.
O país com mais futebolistas emigrantes quer ter menos futebolistas imigrantes. Exportar? Sim, como mais ninguém no mundo. Importar? Menos, para não prejudicar a seleção, conforme verbalizou Dorival Júnior, o selecionador curiosamente com maior campo de recrutamento do mundo. O que dirão os selecionadores de Malta, Tailândia e Emirados Árabes Unidos, países à míngua de talento nacional, sobre o prejuízo às suas seleções causado pelos batalhões de brasileiros nos seus campeonatos?
Tudo isso porque o país que mais exporta jogadores sentiu um sopro do reverso da medalha nas duas últimas temporadas: após o fecho da janela de verão (de inverno, na Europa), a Série A do Brasileirão soma 137 estrangeiros, mais sete do que em 2024, de 18 nacionalidades, com o Grêmio e o Vasco da Gama na liderança com uma equipa inteira, 11, de gringos, como são apelidados os não brasileiros no país, e o Mirassol, 100% nacional, na outra ponta da tabela.
Dos sete países europeus contemplados, o mais procurado foi Portugal com seis jogadores, Cédric (São Paulo), Nuno Moreira (Vasco da Gama), Rafael Ramos (Ceará), Gonçalo Paciência, João Silva e Sérgio Oliveira (Sport).
A balança comercial entre Portugal e o Brasil, entretanto, ainda é favorável ao segundo por 684 a seis.