Benfica-Sporting: Muito mais que um jogo
No final do dérbi, se verá no resultado o que acabou por ter mais peso: se o contexto, se a tradição
O futebol tem-se vindo a transformar, cada vez mais, numa indústria. O ecossistema em redor deste desporto é cada vez mais complexo e abrangente. É difícil encontrar outro sector ou outra atividade que tenha tanta influência e mediatismo como o futebol. Num mundo cada vez mais artificial, vale a pena relembrar o motivo pelo qual todos nós adoramos este desporto.
UM DÉRBI APAIXONANTE
SE pensarmos na evolução do futebol em Portugal, lembramo-nos sempre de dérbis ou clássicos que assistimos ou os que nos foram contados pelos nossos familiares. O dérbi lisboeta é um dos jogos com maior rivalidade, com mais histórias e com muitos protagonistas de qualidade que nos fazem recordar, com saudade, momentos inesquecíveis. O impacto destes jogos vai muito alem de uma simples derrota, vitória ou empate. A rivalidade que foi sendo construída ao longo dos anos mantém-se bem acesa e faz com que este jogo seja especial para adeptos dos dois clubes, rivais, jogadores e treinadores. Estes são os jogos que qualquer atleta quer jogar. Num mundo cada vez mais global, onde muitos dos jogadores que compõe os plantéis são estrangeiros, torna-se fundamental existirem pessoas nas estruturas que expliquem a dimensão e o grau de importância destes jogos. É verdade que no final estarão em causa apenas três pontos. Mas, de uma forma indireta, está muito mais. O sentimento que estes dérbis carregam, tornam-nos imprevisíveis. A ansiedade nas bancadas é grande, a rivalidade e o desejo de vencer faz com que adeptos e jogadores sintam um frio na barriga antes da bola começar a rolar. A preparação do jogo por parte das estruturas dos clubes é diferente. Do lado dos adeptos, a predisposição para estarem mais ativos nas bancadas também aumenta. A rivalidade quando é sã, transforma momentos e cria emoções difíceis de explicar. E são estas sensações que fazem com que estes duelos entre estas duas grandes equipas de Lisboa sejam especiais e marcantes. Numa indústria em que o dinheiro ganhou um papel de destaque pela forma como pode desequilibrar competições, também é interessante perceber que nestes jogos existem coisas que o dinheiro não pode e não consegue comprar: mística, história, rivalidade, tradição e emoção, que devidamente conjugadas colocam estes dérbis entre os mais especiais do mundo.
CONTEXTO VS JOGO DE TRIPLA
QUEM gosta de futebol, de imprevisibilidade e de grandes jogos para definir competições, ficou agradado com o sorteio relativo à época 2022/2023, já que iriamos ter um Benfica Sporting à 16º jornada e o inverso à 33.ª. Tendo em conta as últimas épocas e a forma como estas duas equipas se têm comportado, nada fazia prever a situação em que as duas se encontram nesta fase. Por um lado, um Benfica dominador com 40 pontos em 45 possíveis e, do outro, um Sporting com apenas 28 pontos (já perdeu tantos como nas duas ultimas épocas), que perdeu três jogadores fundamentais e que ainda está a tentar reencontrar-se. Se acrescentarmos o facto de o jogo ser no Estádio da luz, naturalmente que atribuímos o favoritismo ao Benfica. Contudo, é importante ter em atenção que estes jogos são mesmo especiais. Que muitas vezes quem ganha não é quem chega melhor ao dérbi. Até porque a motivação que está por trás destes encontros faz com que todo o contexto seja esquecido, com que a concentração e o foco dos jogadores se centrem nos 90 minutos que irão ter pela frente. No final do jogo iremos saber qual dos dois se irá sobrepor: contexto ou tradição.
QUEM ESTÁ MAIS PRESSIONADO
PODEMOS também tentar perceber quem tem mais pressão no jogo de hoje. O Sporting não pode perder mais pontos, até porque muito mais do que olhar para o título, tem de estar atento ao comboio da Liga dos Campeões.
Já o Benfica, deverá demonstrar de uma vez por todas que o desaire em Braga foi uma exceção e que a equipa voltou ao normal na era de Roger Schmidt, caso contrário, os fantasmas poderão começar a aparecer e a motivação dos adversários irá aumentar.
OPORTUNIDADE PARA A LPFP
ABORDAMOS constantemente a questão da pouca visibilidade que a nossa liga tem no exterior. Estes são os jogos que nos permitem ganhar pontos e que a liga deverá saber aproveitar. Para atrairmos investidores, estes têm de perceber o potencial do nosso produto. Os dérbis ou clássicos trazem muito valor ao nosso futebol. A envolvência que se cria, a dinâmica nas bancadas, a euforia, a desilusão, a ansiedade, a alegria e tristeza, a incerteza e rivalidade, são pressupostos que qualquer investidor gostaria de experienciar e de potenciar. Conseguindo complementar estas características com qualidade de jogo dentro do relvado, o nosso produto ganha valor e justifica uma promoção especial destes eventos. Se queremos efetivamente aumentar o bolo da centralização dos direitos de TV, temos de nos saber promover. É difícil encontrar no mundo um país com tantos e tão bons embaixadores no futebol como nós temos. Jogadores que jogam nas melhores equipas do mundo e treinadores que treinam nas melhores ligas. Podemos ainda acrescentar a capacidade em promover e desenvolver talento (português e estrangeiro) e que sai de Portugal com um selo de qualidade. Todos estes fatores, em conjunto, dão-nos argumentos para valorizar e muito o nosso produto no exterior.
BRAGA-GUIMARÃES
DEIXO aqui uma última nota para o dérbi do Minho. Que jogo fantástico! Uma rivalidade cada vez maior e que faz falta ao futebol português. Duas equipas com condições diferentes, mas que dentro do campo se equivaleram. Um jogo com grandes golos, incerteza e com muita emoção e paixão. Mais uma vez, este é o melhor cartão de visita que podemos ter para apresentar o nosso produto.
A VALORIZAR
Casa Pia — Parece que já está na primeira divisão há anos. 5º lugar à 16 jornada, com a manutenção praticamente assegurada e presença garantida nos quartos de final da Taça de Portugal. O que se passa no relvado é o reflexo de toda uma máquina que está bem oleada e que sabe o caminho que deve seguir, sem pressa, com rigor e com os pés bem assentes no chão.
Jorge Costa — Chegou, perdeu o primeiro jogo e desde então está há 14 jogos sem ser derrotado: 14 vitórias e 4 empates. Está em 3º na Liga2, na Final Four da Taça da Liga e nos quartos final da Taça de Portugal. Sem dúvida, um trajeto incrível e que merece ser acompanhado de perto.
A DESVALORIZAR
João Félix — Um dia após ter chegado, foi titular no Chelsea e teve imprudente entrada que originou expulsão, enfraquecendo a sua equipa. Irá ficar castigado nos próximos três jogos. Não foi o melhor cartão de visita, nesta nova oportunidade de demonstrar toda a qualidade que tem.