‘Bazuca’ e Portimão

OPINIÃO23.03.202106:00

Linha que separa o limite máximo da frustração da ‘pré-violência’ tem que estar bem calibrada

HÁ não muito tempo, o Conselho de Ministros aprovou reforço importante para o desporto português: uma injeção extraordinária de 65 milhões de euros, montante que será gerido pelo Instituto Português da Juventude e do Desporto (IPDJ). O valor em questão - reflexo de um esforço que importa mais aplaudir do que censurar - será para aplicar da seguinte forma:
- €30 M a fundo perdido, através da medida Reativar Desporto e que serão concedidos aos clubes que iniciam o seu processo de retoma à atividade desportiva federada;
- €3 M para o PRID -2021 (Programa de Reabilitação de Instalações Desportivas), que passará assim a dispor de um orçamento global de 5 milhões de euros;
- €2 M para o PNDtP-2021 (Programa Nacional de Desporto para Todos), passando assim o bolo total desta rubrica para três milhões: esta verba adicional destina-se a criar condições para que os clubes possam desenvolver atividades desportivas para a população (presenciais ou à distância), ajustadas ao contexto da pandemia;
- Os restantes €30 M traduzir-se-ão no lançamento de uma linha de crédito no âmbito do programa Federações+Desportivas e que apoiará as federações com estatuto de utilidade pública desportiva.
Após análise do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), temeu-se que o desporto ficasse de fora da bazuca europeia, mas esta boa notícia, que sai fora dos apoios europeus, que o desporto ainda ficará à espera, diluiu significativamente essa preocupação. Não resolve tudo, mas ajuda muito e essa é a perspetiva que vale a pena olhar agora.
Já muito se disse e escreveu sobre o que aconteceu em Portimão. Foi feio sim. Foi feio e roçou o vergonhoso. Ao contrário do que se possa benevolamente pensar, não são coisas normais e não são coisas que acontecem: são coisas anormais e são coisas que nunca podem acontecer. O futebol profissional não se joga apenas onde se joga. Joga-se em casa de muita gente, que paga muitos euros por mês para ver os seus ídolos. Para ver bons exemplos. Para ver espetáculo. Não se pede a quem está lá dentro que seja santo ou que não erre. Todos nós (eu que o diga) já ultrapassámos limites sob pressão. Todos já dissemos o que não queríamos e fizemos o que não devíamos. Acontece... mas pontualmente.
A linha que separa o limite máximo da frustração da pré-violência tem que estar bem calibrada. Os treinadores sofrem muito nos bancos e isso é respeitável. Têm muito a ganhar e a perder. Moram em zona próxima do descontrolo e são sistematicamente questionados sobre a sua competência e capacidade de produzir resultados. Não é fácil. Mas ali, nos bancos, têm que perceber que são os timoneiros. São quem comanda a embarcação. São os líderes e as referências para quem está lá dentro.
O Paulo e o Sérgio são pessoas boas, pessoas de bem. São mesmo, acreditem. São excelentes profissionais, excelentes chefes de família e seres humanos de enorme qualidade. E também são inteligentes. Saberão perceber que aquilo que aconteceu nunca mais se pode repetir.
Agora, em frente. Chega de bater no ceguinho. Venha o futebol positivo, com grandes golos, excelentes jogadas e muitas coisas boas para nos deliciarmos.