Assumir erros não é para todos
No futebol é comum vermos esse sacudir de responsabilidade quando as coisas não correm bem
Avida raramente nos oferece, de mão beijada, o que quer que seja. A maioria de nós tem que batalhar no duro, tem que trabalhar arduamente para conseguir alcançar as suas metas, para conseguir conquistar o seu espaço. Muitos não chegam lá, nunca chegam lá. Se o mundo fosse um lugar justo e perfeito, tudo seria diferente mas esse é um conceito idealista e romântico, que a realidade pura e dura insiste em contrariar.
Não é por isso de estranhar que, algures no tempo, todos nós já fomos confrontados com pequenos fracassos, com insucessos pontuais difíceis de digerir e explicar. Difíceis de aceitar.
Nesses momentos, não é qualquer um que tem a capacidade superior de assumir que planeou mal, que falhou aqui ou errou ali. É um estado difícil de atingir, esse, o da humildade suprema. É pior ainda para aqueles que são donos de personalidade forte ou de orgulho maior. O ego não lhes dá tréguas.
É pena que assim seja. Tenho para mim que, quando não concluímos as tarefas a que nos propomos, quando não chegamos onde queremos, somos quase sempre os principais responsáveis. A culpa é nossa, não é dos outros.
Isso é ainda mais verdade quando o objetivo traçado é de médio/longo prazo. Aí é ainda mais difícil que a falha não seja quase exclusivamente nossa. E mesmo quando não é, mesmo quando surgiram obstáculos colocados por alguém, fica bem - muito bem, até - reconhecer que esses foram parte insignificante de um percurso maior, que foi planeado, definido e percorrido por nós. Em última instância, foram as nossas escolhas, as nossas opções, que ditaram o resultado final.
No futebol é muito comum vermos esse sacudir de responsabilidade quando as coisas não correm de feição. Quando os objetivos esperados não são atingidos. É como se a única forma de aceitar o erro fosse imputá-lo a circunstâncias adversas.
Tenho por todos os agentes desportivos enorme respeito e admiração, embora seja crítico acérrimo de algumas condutas que protagonizam, por destruírem o que considero ser a essência e bom nome do desporto. Mas se há coisa que me entristece (de verdade) é a pequenez de espírito que alguns evidenciam em momentos de maior aperto, por serem nesses, precisamente nesses, que se esperava o exato oposto. É a tal incapacidade em fazer mea culpa quando a mea culpa é a forma mais justa e correta de justificar o insucesso pontual.
Consigo entender que, em jogos a eliminar, a influência de variáveis externas - aquelas que nem sempre controlamos - possa ser grande: uma má decisão do árbitro, uma tempestade imprevista ou uma indisposição coletiva dos jogadores podem sim, afetar o rumo do encontro ou o resultado de uma eliminatória.
Mas em provas de longa duração, em campeonatos que duram meses a fio e que têm tantas e tantas jornadas, isso não tem peso relevante. Não tem mesmo. É assim no desporto-rei e é em qualquer outra competição que perdure no tempo. Ganham sempre os mais consistentes e capazes, perdem sempre aqueles que, nesse ano, falharam mais e ganharam menos.
Certo, certo e que não há mal nenhum em perder, em não chegar lá. Não a título pessoal. Profissionalmente pode ter consequências (faz parte), mas o trajeto evolutivo de cada ser humano pressupõe fracasso. Qualquer pessoa que hoje tem sucesso, foi um dia um perdedor. É um percurso inevitável, uma fase de aprendizagem, que vista à distância é tida como fundamental.
Não faltam por aí exemplos de estrelas que quase desistiram dos seus sonhos, tal o número de derrotas com que tiveram que lidar. Futebolistas, basquetebolistas, atores de cinema, políticos, treinadores, empresários... ninguém caiu do céu em cima do sucesso. Os que caíram não duraram lá muito tempo.
Humildade, cabecinha levantada, mente desassombrada e capacidade de olhar em frente, porque o futuro começa já hoje. É assim que faz o verdadeiro vencedor.