Amorim aposta tudo na Champions
Afirmar que o Benfica tem melhor treinador e melhor preparação dos jogadores é um ato de muita coragem, mas prevejo tempestade forte no horizonte
A NTES da viagem a Arouca, Rúben Amorim não poderia ter sido mais explícito ao afirmar que vencer era a melhor forma de preparar o jogo com o Eintracht Frankfurt. E disse também que o Sporting ainda tem uma palavra a dizer na luta pelo título porque vai jogar contra todos e o objetivo será «ganhar os jogos todos».
Depois do desafio, confrontado precisamente sobre a questão do título, foi astuto ao responder que… «isso não interessa». Uma correção na lógica do discurso em tão pouco tempo por causa de uma derrota não prevista, mas que só poderá ter surpreendido quem não assistiu à partida. Quem a viu, no local ou pela televisão, percebe o que se passou, a começar pela equipa apresentada por Amorim, na sequência do que se observara diante do Tottenham, impregnada de uma juventude que provocou admiração. Em Inglaterra, o empate conseguiu calar as vozes críticas. Em Arouca, as coisas não correram bem, ficando por saber-se se a culpa pela derrota residiu numa aposta precipitada em praticantes jovens e inexperientes ou se os ruídos na engrenagem leonina são consequência de outros problemas, porventura mais profundos e difíceis de solucionar.
AO contrário de Sérgio Conceição, que assistiu ao jogo do FC Porto com o Santa Clara num camarote devido a castigo e voltou a esconder-se atrás dessa inibição para não comparecer na conferência de Imprensa, sem se dar conta que perdeu oportunidade magnífica para enfrentar os jornalistas, produzir outra declaração em tom agreste, tal com fez a seguir à derrota com o Benfica, e dar um palmadão no tampo da mesa ainda mais estrepitoso só pelo prazer de fazer barulho, ao contrário desse tipo de atitudes pouco recomendáveis, Rúben Amorim teve um comportamento sem mácula, de acordo com a grandeza do clube que representa.
Não só deu o peito às balas como teve a hombridade de dizer ao seu assessor de Comunicação para não se preocupar. «Deixa fazer todas as perguntas que eu respondo», foi mais ou menos isto que lhe disse. E respondeu, por respeito aos jornalistas e, principalmente, aos adeptos, ansiosos por ouvirem da voz do seu treinador uma explicação razoável para mais uma derrota na Liga.
E LE deu essa explicação, mas o que parece cada vez mais evidente aos olhos de toda a gente é o seu desconforto, até aqui apenas detetado em ligeiras oscilações na coerência da retórica, sintoma provável de quem já não sabe o que dizer hoje sem correr o risco de se desdizer amanhã. No entanto, que me lembre pela primeira vez, como esse desconforto estará a subir de tom, sentiu necessidade de salvaguardar a sua capacidade para continuar a trabalhar como sabe e gosta .
A manutenção do lugar não o preocupa, mas a confissão de todos os dias avaliar se será a pessoa certa para o futuro do Sporting é indício iniludível de que se aproximará a hora de ceder o lugar a outro. Além disso, na tacanhez do futebol luso, sobretudo ao nível da mentalidade da classe dirigente, que parou no tempo, salvo honrosas exceções que apenas confirmam a regra, afirmar que o Benfica tem melhor treinador e melhor preparação dos jogadores, se foi dito com sinceridade e sem qualquer segunda intenção que não enxergo, é um ato de muita coragem e só tenho de me curvar perante o seu exemplo, mas adivinho tempestade forte no horizonte.
RÚBEN AMORIM teve o mérito de, em tão pouco tempo, dar ao Sporting o que nem os adeptos mais céticos esperariam que ele pudesse dar. De salientar o título de campeão nacional depois de um jejum de dezanove anos, um projeto de mudança elogiado, seguro e adequado à realidade do clube e, ainda, a forte possibilidade de voltar a colocar o leão, pelo segundo ano seguido, entre os dezasseis notáveis da Europa, com as generosas contrapartidas financeiras que isso representa.
Esta época, eliminado da Taça de Portugal e mal posicionado no Campeonato, a passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões poderá ser o lenitivo que falta. Talvez a pensar nisso Rúben Amorim ousou apostar as fichas todas no jogo desta noite, diante do Eintracht, e devolver a confiança ao mundo leonino.
Fez bem, apesar de Frederico Varandas ter classificado de louco quem visse esse objetivo como obrigação e responsabilidade, apenas como ambição e sonho de passar a fase de grupos, isto é, sem se comprometer.
Com o presidente a distorcer a mensagem que o treinador quer passar aos jogadores, que é a de exigência e de superação, torna-se mais complicado. É claro que Varandas não faz por mal, mas vai fazendo, e, aqui para nós, muita paciência tem tido Amorim para não perder a vontade de acreditar e… de sorrir.