Ai Jesus

OPINIÃO16.11.201803:23

O regresso de Jorge Jesus ao futebol português, presumivelmente no final desta época - após compreensivelmente difícil experiência na Arábia Saudita, até agora a correr desportivamente de forma brilhante - promete aquecer de novo os termómetros do futebol português, porque é inevitável que promova discussões apaixonadas, debates calorosos e exercícios, mais ou menos especulativos, sobre o destino do grande treinador que Jorge Jesus já não precisa de mostrar que é. Todos sabem como Jesus nunca escondeu que precisa do futebol português e foi ele próprio, aliás, no dia em que partiu para a Arábia Saudita que deixou a promessa de voltar a Portugal logo após o contrato de um ano com o Al-Hilal.

O que talvez nem todos sejam capazes de reconhecer (ainda que me pareçam poucos...) é que mais do que Jesus precisar do futebol português é o futebol português que muito precisa realmente de Jorge Jesus, porque sem ele, na verdade, o nosso campeonato ficará sempre mais pobre.

Na extensa entrevista que Jesus concede nesta edição de A BOLA, num fantástico exclusivo do André Pipa no Dubai, dá perfeitamente para perceber a falta que Jesus nos faz. A nós, jornalistas, sim senhor, não há como escondê-lo, mas sobretudo a todos os que se sentem verdadeiramente ligados por este jogo.

Jesus é intenso. É corajoso. É apaixonado. Está na vida e no futebol por inteiro e não às metades. Arrisca. Luta. Sofre. E vive o futebol como apenas vivem os genuinamente obcecados. E são os genuinamente obcecados os que mais deixam marca. Os outros, mesmo os que por vezes ganham, passam mas quase nem deixam rasto.

Nunca será desses que a história se recordará!

REVELOU de forma clara o novo presidente do Sporting os quatro pontos do perfil de treinador que procurou para o clube, no dia em que apresentou o holandês Marcel Keizer, já em Alvalade. «Competência técnica, liderança, gestão de grupo e comunicação», disse Frederico Varandas, são os traços essenciais do perfil, sublinhando que de acordo com esses traços o homem que melhor lhe pareceu encaixar no perfil é este Marcel Keizer que quase ninguém conhece, mas que na realidade não pode ver-se questionado por falta de currículo, porque nem Mourinho tinha currículo quando chegou um dia ao Benfica - com as capacidades que logo se perceberam - nem Guardiola tinha currículo quando um dia os responsáveis do Barcelona decidiram entregar-lhe a equipa principal, que ele veio a transformar naquela que provavelmente ficará ainda por bons anos para muita gente como a melhor da história.

Pareceu-me Frederico Varandas, com toda a franqueza, muito mal em todo o processo de despedimento de José Peseiro. Mal sobretudo na forma, apesar de parecer que também não terá estado lá muito bem no conteúdo. Mas, agora, Frederico Varandas tem o direito de reclamar o benefício da dúvida. Fez uma opção arriscada, e é para isso que está no Sporting como presidente, para tomar decisões e decisões que nem sempre são as mais confortáveis.

No caso de Marcel Keizer, a questão que eventualmente colocaria nem tem, como é óbvio, que ver com qualquer dos traços do perfil traçado pelo novo presidente leonino; tem mais a ver com a conjugação de uma personalidade holandesa com este nosso espírito às vezes tão difícil de organizar e governar. Veremos se Keizer contraria o que penso.

POR falar em Frederico Varandas, ninguém pode ignorar-lhe a coragem de enfrentar alguns direitos anormalmente adquiridos e vícios privados de uma das claques do Sporting, a tão falada Juventude Leonina, a principal claque do Sporting, criada com tão bons propósitos pelos filhos do saudoso João Rocha, mas hoje transformada numa espécie de segunda locomotiva do clube, para o bem e, infelizmente, também para o mal, como se viu nos lamentáveis acontecimentos para sempre designados por invasão de Alcochete, que ainda esta semana levaram à detenção para interrogatório do ex-presidente leonino e do atual líder da referida claque, suspeitos de ligações ao ataque que chocou o País, em maio último.

É por estas e por outras que sou levado a recordar a atitude do presidente do Benfica relativamente às claques. Concorde-se ou não com a visão de Luís Filipe Vieira, a verdade é que nunca o vi, nem eu nem ninguém, refém de qualquer claque e muito menos de um qualquer líder de claque, como Nuno Mendes (ou Mustafá, como chama ao líder da Juventude Leonina) ou Fernando Madureira (o famoso macaco, alcunha do líder da claque SuperDragões, a principal claque do FC Porto), duas personagens que todos nos habituámos a ver com suficiente protagonismo para podermos suspeitar do peso e influência que possam ter na vida de cada um dos clubes.

A Vieira ninguém pode acusar de andar acompanhado de enigmáticas figuras de claques, seja em ações eleitorais, momentos desportivamente mais tensos ou festas do clube, e muito menos (a líderes e acompanhantes…) de os meter no avião onde viaja a equipa principal de futebol, que foi, pelos vistos, o que o Sporting andou a fazer e Frederico Varandas, o jovem presidente sportinguista,  quer, agora, cortar pela raiz, num sinal claro, e indiscutivelmente corajoso, de querer colocar a(s) claque(s) no seu devido lugar.

O problema, como há muito está bom de ver, não é, nem nunca foi, o de existirem ou não claques, o de estarem mais ou menos organizadas, e muito menos no espírito que as devia mover. Todos sabem onde está o problema, a começar pelo próprio Estado, que tem obrigação de o conhecer muito bem mas continua sem impor na matéria a respetiva autoridade.

Com o resultado que se vê!

E por falar em Luís Filipe Vieira, é muito difícil ignorar que não lhe ficou nada bem - para não ir mais longe... - o cenário em que se expôs ao ter sido apanhado, num hotel de Lisboa, na companhia do seu ex-diretor jurídico no Benfica, o inabalável e famigerado Paulo Gonçalves, bem como do agente do extremo encarnado Salvio.

Ter-se mostrado ao País num hotel de cinco estrelas vestindo fato de treino não foi propriamente o melhor daquele dia do presidente do Benfica, mas isso até foi o menos comparado com o aparato que sempre suscita este tipo de encontros e reencontros, dando azo a justificadas especulações ou inauditas conclusões.

POR falar Salvio, lamento, sinceramente, como apaixonado do futebol, que não deva continuar no futebol português para lá da presente temporada, pela impossibilidade, segundo as informações que correm cada vez com maior insistência, de chegar a acordo com o clube para a renovação de um contrato que começou, definitivamente, em 2012 e termina em junho do próximo ano.

É compreensivelmente difícil para os clubes, mais ainda para os clubes portugueses, quando chega o momento de quererem renovar contrato com um jogador com mercado internacional e que procura praticamente o último e grande contrato da vida.

Acontecerá com o Benfica e com Salvio mais ou menos o mesmo que sucederá com o FC Porto e com Herrera, em ambos os casos, tratando-se de jogadores muitíssimo influentes na Luz e no Dragão.

Mas se gosto de um jogador mal amado como Herrera, que deixa sistematicamente a pele em campo e dá tudo pela equipa, confesso-me um admirador absolutamente incondicional de Salvio, a par de Jonas, o melhor futebolista que está na Liga portuguesa no conjunto de todas as avaliações que podemos fazer um jogador desta natureza.

Foi o Benfica que não cuidou bem do problema, é Salvio que está a forçar o Benfica a baixar os braços? Não sei. Sei que Salvio é uma estrela, não por acaso uma das estrelas preferidas de sempre do nosso Jorge Jesus.

Não parece Salvio dentro do campo um pouquinho do que é Jesus fora dele?!...

DIZ Maradona que Cristiano Ronaldo recuperou na Juventus a «alegria de jogar». Percebo o que possa ter querido dizer Maradona, mas também não posso deixar de lembrar que se há coisas que Ronaldo praticamente nunca perdeu foi a alegria de jogar, a furiosa determinação, a sede de vencer, a impressionante capacidade de competir. Não podia estar mais de acordo com Jorge Jesus, quando ele questiona e afirma: «A Seleção joga melhor sem Ronaldo? Tenham mas é juízo!»

PS: É preciso que a Justiça mostre de forma inequívoca - seja com quem for, e trate-se de quem se tratar - que funciona na imparcialidade dos nossos magistrados e no espaço sagrado dos nossos tribunais e não nessa espécie de ‘tribunais populares’ em que alguns parecem querer transformar as televisões.