A (tão) almejada centralização

OPINIÃO22.01.202103:00

A centralização jamais se concretizará sem a vontade do trio dominador do futebol

A queda do valor dos direitos televisivos nos eventos desportivos em €4,9 mil milhões, conforme relatou o Global Media, não afasta a intenção da Liga em tentar a centralização. Sou solidário e a favor desde que não se volte a assistir a um filme - que teve tanto de ironia como de terror - como o processo Ledman. Este devia deixar envergonhado qualquer dirigente desportivo quer ao nível do que ocorreu com o tratamento do patrocínio em si (e que terminou com um processo judicial relacionado com a utilização abusiva da marca pela própria Liga) quer ao nível de uma estranha estratégia de inscrição de jogadores asiáticos que era descabida. Mas não perdi a fé que a centralização poderá acarretar mais equilíbrio e competitividade às nossas ligas profissionais que são pouco apelativas para o estrangeiro, com ressalva feita aos PALOP.
Outra contribuição historicamente negativa reside no fosso existente entre SLB, FCP e SCP e os restantes oponentes. Reconhece-se um Braga mais forte mas titubeante e um ou outro outsider que, quando o rei faz anos, vai às provas europeias. A centralização jamais se concretizará sem a vontade deste trio dominador do futebol nacional por serem eles que mais contribuem para o sucesso da competição e que mais clientes arrastam para a compra do produto. Também existem contratos em vigor com as operadoras, pelo que o trio jamais aceitará auferir menos.
Portanto, em caso de impasse, resta uma solução: o Estado força o futebol através de uma Lei que concentre os direitos televisivos. Haverá coragem? Em Espanha houve com o Real Decreto-Lei 5/2015 onde 50% do dinheiro é repartido igualitariamente por todos os clubes, 25% de acordo com a classificação e os restantes 25% destinam-se aos clubes com maior implantação social com base na angariação de sócios e bilhética das últimas cinco temporadas e pela influência na obtenção de recursos na comercialização das transmissões.