A reserva está feita
Benfica à beira dos quartos de final pela segunda época seguida (inédito) reforça, em Bruges, invencibilidade recorde na Champions: 12 jogos!
COM a vitória, ontem, em Bruges (2-0), num jogo que podia ter ganho de forma mais folgada, o Benfica reservou um lugar nos quartos-de-final da Champions. A confirmação fica aprazada para o Estádio da Luz, a 7 março, e será preciso o Benfica distrair-se muito para não vergar novamente o Brugge, que ontem confirmou todas as debilidades que a própria Imprensa belga lhe apontou nos artigos de lançamento do jogo. Pode ser uma fase má, mas esta é, de facto, uma sombra da equipa que surpreendeu FC Porto (4-0) e Atletico de Madrid (2-0) há quatro meses, na fase de grupos. O Benfica precisou apenas de ser minimamente competente para impor a sua superioridade em todos os capítulos e foi pena que alguns dos seus jogadores (António Silva, Rafa e Gonçalo Ramos, nomeadamente) não estivessem com a pontaria mais afinada. Para a história fica a vitória - sempre o mais importante - e a manutenção da impressionante invencibilidade de 11 jogos (12, se contarmos com o empate em Anfield que fechou a participação na época passada) que é a melhor sequência do clube nesta competição. As portas dos quartos-de-final estão abertas de par em par (mais 10,6 milhões em perspetiva) e o Benfica, pela primeira vez em 17 participações na Champions, prepara-se para atingir esse patamar em duas épocas seguidas. Acrescento que não lembro de ver o Benfica atingir as 30 vitórias (em 38 jogos oficiais) a meio de fevereiro e acrescento que o recorde do clube numa época (42), partilhado por Jorge Jesus (em 2013/14), Rui Vitória e Bruno Lage (2018/19) começa a estar em perigo.
No outro duelo da noite, mais equilibrado e bem mais entusiasmante, o Dortmund ganhou ao Chelsea no majestoso Westfalenstadion com um golo de Karim Adeyemi e confirmou o péssimo astral do treinador Graham Potter ao serviço da equipa londrina - o inglês escolhido pelo proprietário americano Todd Boehly para substituir o despedido Tomas Tuchel ganhou apenas um jogo em 2023 (1-0 ao Palace) contra quatro derrotas e quatro empates. No papel, a equipa tem talento para dar e vender (Mudryk, Félix, Enzo, Mount, Ziyech, Havertz, Sterling)… mas a verdade é que, seja qual for o motivo, não consegue passar da cepa torta. As gargalhadas de Tuchel (ah! ah! ah!) ouvem-se a 500 km de distância e os adeptos do Chelsea, desconcertados, devem estar a fazer interessantes contas de cabeça - por exemplo: 600 milhões a dividir por 16 contratações = zero.
PARIS JÁ ESTÁ A ARDER?
Sobre os jogos de terça feira. O Milan fez apelo ao seu velho ADN europeu e reapareceu com pose de campeão italiano: combateu com a ferocidade que lhe tem faltado na liga italiana e conseguiu ganhar vantagem mínima sobre um desfalcado Tottenham, que não parece carne… nem peixe. É uma equipa sem identidade, descaracterizada, volátil. Em Paris, o Bayern (sem Neuer, Sadio Mane, Lucas Hernandez e Mazraoui), ganhou com naturalidade e atiçou o incêndio que ultimamente tem consumido a equipa da casa. Escreveu o Daily Mail, sobre o duelo do Parc, que «o dinheiro não compra um plano de jogo ao PSG». Pois não. Assim como não compra aquilo que distingue o Bayern há muitos, muitos anos. A classe. A potência. A personalidade. A determinação. A pose, o caráter, a arrogância de grande a sério (daqueles que ganham mesmo e não ficam à porta, no quase).
A Champions tem duas equipas realmente capazes de ganhar em qualquer lado e em qualquer circunstância, como se estivesse escrito nos livros. Uma é o Real Madrid. A outra é o Bayern. É claro que a riquíssima coleção de joias do PSG comporta supercraques como Messi, Neymar e, sobretudo, Kylian Mbapée (a diferença que ele fez quando entrou…!), capazes de virar qualquer jogo e eliminatória do avesso… mas como não admirar a férrea disciplina e compacidade dos alemães, a estupenda geometria e elasticidade desta equipa que se alonga pelo campo como os tentáculos de um polvo antes de desferir, aqui e ali, marteladas precisas e quase sempre dolorosas. Sempre intratável o Bayern, esteja como estiver, jogue onde jogar.
SÉRGIO, DOMINADOR DE CLÁSSICOS
ESCREVE-SE Sérgio, lê-se campeão. O treinador do FC Porto mantém uma relação quase tóxica com o sucesso: aparentemente, não há título nem recorde que lhe resista. Bastaram-lhe pouco mais de trinta jogos contra Sporting e Benfica (36, para ser exato) para se tornar o treinador melhor sucedido em clássicos na história do futebol português. Sérgio já superou os desempenhos de todos os outros treinadores (nacionais e estrangeiros) com um mínimo de 20 clássicos na carreira.
Com 19 vitórias, 12 empates e apenas 5 derrotas num total de 36 duelos contra leões (21: 10-9-2) e águias (15: 9-3-3), Sérgio suplanta, de largo, as performances de técnicos tão reconhecidos como Joseph Szabo (recordista de clássicos, com 80), Otto Glória (56), Jorge Jesus (52), José Maria Pedroto (44), Artur Jorge (44), Béla Guttmann (30), Fernando Santos (28), Eriksson (28), Jesualdo Ferreira (28), Cândido de Oliveira (28) e Jimmy Hagan (21), entre muitos outros. Nos dez com mais clássicos, não há nenhum com uma diferença tão grande como a de Sérgio entre jogos ganhos (52,7%) e perdidos (13,8%). No caso portista, há um treinador com percentagens ainda melhores (70% de vitórias contra 10% de derrotas), mas num universo muito mais reduzido - dez clássicos. O seu nome? José Mourinho… claro!
Nota: entre os 12 empates de Conceição, quatro terminaram com derrotas no desempate por penáltis - todos frente ao Sporting