9 março 2024, 13:28
«Era diferente com Gonçalo Ramos, os avançados que temos não são tão consistentes»
Treinador em conferência de imprensa a explicar a dificuldade em fixar um avançado na equipa do Benfica
Para superar estas fases negativas é fundamental perceber as causas pelas quais a equipa teve prestação muito aquém da esperada
Esta foi uma semana dura para o Benfica. Com a aproximação dos momentos de decisão, os encarnados falharam o primeiro round. O único ponto positivo que Roger Schmidt (RS) pode retirar destes últimos três jogos, em competições distintas, é que as derrotas frente a Sporting e FC Porto e o empate frente ao Rangers não colocam em causa os objetivos em qualquer uma das provas. Por norma, para ultrapassar estas fases negativas é fundamental perceber as causas pelas quais a equipa teve uma prestação muito aquém da esperada.
Muitas vezes os resultados acabam por nos iludir. Parece-me que este tem sido um dos problemas de Schmidt e da estrutura encarnada. Se é verdade que o Benfica não perdia (no tempo regulamentar) desde 8 de novembro frente à Real Sociedad, também é verdade que as vitórias camuflavam muita coisa. Tenho vindo a referir desde o início da época que o Benfica apresenta as mesmas debilidades há muito tempo e que teima em não as corrigir. As dificuldades na transição defensiva são muito evidentes.
Os adversários percebem e preparam bem esse momento. Com relativa facilidade, conseguem ultrapassar a primeira e segunda linhas de pressão dos encarnados. Quanto maior qualidade tiverem os adversários mais este facto fica evidente. Isto não se corrige com a troca de um jogador por outro, apesar de existirem jogadores que, através das suas características, conseguem fazer com que a equipa fique menos exposta, como por exemplo Florentino. A pressão ofensiva e a forma como o Benfica tenta condicionar os adversários também tem muitas deficiências, parecendo muito mais uma pressão individual do que coletiva.
Em termos ofensivos, a equipa vive da imaginação e da criatividade individual. Não existem movimentos coletivos que potenciem as qualidades de cada um dos intervenientes no relvado. Os movimentos não estão padronizados ou mecanizados.
A realidade é que, mesmo com todas estes problemas, o Benfica não perdia desde 8 de novembro e está a um ponto da liderança (com mais um jogo) e a disputar as meias-finais da Taça de Portugal e os oitavos de final da Liga Europa. Isto acontece porque, nas provas internas, a qualidade do plantel encarnado é muito superior à maior parte das equipas, o que faz com que a qualidade individual resolva jogos. O problema é que quando chegamos aos momentos de decisão, sobretudo nas provas internacionais, a qualidade dos adversários aumenta e as fragilidades da equipa ficam expostas.
O primeiro erro foi querer jogar da mesma forma que no último ano. O treinador encarnado pensou que bastaria colocar jogadores diferentes nas mesmas posições para a equipa apresentar a mesma performance.
Se é verdade que o Benfica investiu forte e trouxe jogadores de qualidade (e outros de qualidade duvidosa), a realidade é que Schmidt não percebeu que, com jogadores de características diferentes, a forma de jogar teria de ser alterada.
Na sua cabeça, bastaria trocar uma peça por outra para o sucesso se manter! O segundo erro na gestão de RS prende-se com a desvalorização dos adversários.
É sempre importante colocar o foco na sua equipa, nos seus jogadores e na estratégia que pretende para cada jogo. Também é fundamental saber analisar os adversários e os contextos dos jogos. Quando o treinador encarnado pensa que pode ter frente ao Sporting a mesma abordagem que teve com o Portimonense, percebemos claramente que a equipa técnica encarnada não analisou devidamente a dimensão e especificidades de cada uma das equipas em questão.
Outro exemplo foi a abordagem ao jogo do Dragão. Roger Schmidt apresentou o onze que, segundo o treinador encarnado, conseguiu dominar o Sporting na segunda parte. Neste caso, não teve a capacidade de analisar devidamente o contexto. Ora, quando entraram Tengstedt e Kokçu foi para a esquerda, o Sporting, sem opções para refrescar devidamente a equipa, caiu fisicamente, dando a ideia de que o Benfica teria dominado durante alguns minutos.
Além de esta conclusão não fazer sentido, o contexto e a forma de jogar do FC Porto são completamente diferentes dos do Sporting. As características, os pontos fortes, a abordagem e a estratégia de FC Porto e Sporting em nada se assemelham.
Adicionalmente, na preparação dos encontros, existem pormenores que não devem ser descurados. Por norma, o Benfica quando vai ao Norte costuma efetuar estágios. No último jogo frente ao FC Porto optou por ir no próprio dia, com uma viagem de 3 horas de autocarro.
Se há momentos em que o risco de alterar é muito maior são nestes jogos, de grau de dificuldade elevado. Aliás, acredito inclusivamente que este ponto foi utilizado por Sérgio Conceição para espicaçar os seus jogadores.
Na realidade, o que perdia o Benfica em manter as rotinas habituais? E o que ganhou em alterá-las? Não fazia mais sentido alterar as rotinas em jogos de grau de dificuldade inferior, de forma a perceber a eficácia da alteração pretendida? Qual o motivo para se alterar a rotina num jogo de grau de importância tão elevado?
Outro erro que tem sido cometido por RS, ao longo de todo este ano, é a troca de sistema tático e a forma como tem tentado implementar uma abordagem ofensiva sem um avançado centro.
9 março 2024, 13:28
Treinador em conferência de imprensa a explicar a dificuldade em fixar um avançado na equipa do Benfica
A experiência de três centrais acabou por não ter sucesso e rapidamente RS recuou nas suas ideias. Já a colocação de Rafa como homem mais avançado foi testada várias vezes e (quase) sempre em jogos de grau de dificuldade elevado.
As questões que coloco são: o que ganha o Benfica com Rafa como homem mais avançado? Rafa nessa posição consegue potenciar as suas qualidades? A jogar de costas Rafa é uma mais-valia? Tem Rafa as características para ser a referência ofensiva quando a equipa quiser bater na frente? E por que motivo Arthur Cabral saiu da equipa no momento em que se começava a afirmar?
Após o jogo com o FC Porto, RS referiu que não tem de pedir desculpas. Sinceramente percebo e até concordo com o treinador encarnado.
Não há ninguém que fique mais chateado e incomodado com uma derrota desta dimensão, do que os jogadores e treinadores. É verdade que pedir desculpa é algo que fica bem perante os adeptos, mas trata-se apenas de um discurso populista.
Um possível pedido de desculpas por algo que não foi premeditado não iria acrescentar nada de novo. Nestes casos, em que as coisas não correm bem, o que os adeptos pretendem ver são reações.
A começar no relvado, na flash-interview, onde vimos o menino João Neves, mais uma vez, a dar a cara, enquanto outros se esconderam.
O que os adeptos também querem ver é um treinador que saiba interpretar a realidade. Que chegue depois dos jogos e que não os tente iludir. Que lhes diga a verdade. Que assuma as dificuldades e debilidades que a equipa tem e que as tente corrigir.
No caso de Roger Schmidt é isto que custa a muitos adeptos entender. Parece que o treinador alemão vê jogos diferentes, que não percebe que as exibições têm deixado muito a desejar.
O problema é que ao não perceber que o processo não está a funcionar, também não vai ter necessidade de o alterar. Outra questão é tentar desculpar as derrotas com os árbitros ou colocar todo o foco da discussão do jogo num lance polémico de arbitragem.
Aconteceu no pós-jogo com o Sporting. Schmidt centrou todo o seu discurso na atuação do árbitro. Esta abordagem populista, que penetra bem nos sócios mais fanáticos, acaba por ter o efeito contrário quando os resultados deixam de aparecer, fazendo com que a insatisfação seja ainda maior.
O exemplo foi o jogo contra o FC Porto. Foi tão evidente a supremacia azul e branca que nem o «contra tudo e contra todos» utilizado por Di María, várias vezes ao longo do ano, sempre que o Benfica perdeu pontos, pode ser empregado.
Estando o Benfica em todas as frentes, e com a época a caminhar para o fim, não me parece que o treinador encarnado tenha a capacidade de alterar os problemas coletivos que a equipa apresenta.
Assim sendo, só lhe restam duas soluções: colocar os jogadores certos nos sítios certos e esperar que estes consigam resolver os problemas por si sós, com a sua qualidade e criatividade, e ter, ele próprio, uma maior capacidade de ler o jogo (antes e durante).