A oposição é um fator de progresso!

OPINIÃO11.02.202305:30

Ganhar e perder não é a mesma coisa; mas não pode valer tudo para chegar ao sucesso

A competição sempre presente no nosso dia a dia, constitui um apelo constante à superação; significa dar o nosso melhor, tentar ser excelente quanto possível. Exige a clarificação entre os melhores e os piores. Os mais e os menos capazes. Sem adversários, não há oposição. Sem oposição, não há progresso. Sem o apelo constante a objetivos mais exigentes, não haverá superação.

Quer os que connosco competem, como os que fazem parte da nossa equipa, são igualmente importantes pois proporcionam-nos as condições necessárias para nos superarmos.  

Mas por favor não se confunda o que acabamos de dizer, com aquilo que por vezes alguns defendem. Não se trata de obter sucesso a todo o custo. Muito menos aceitar a tese que se trata de vencer, ou morrer! Que vale tudo, desde que se obtenha sucesso!

Mas também não aceitem o oposto! Que não importa ter sucesso, que ganhar e perder é a mesma coisa!

Se for assim, então para quê competir? E se não competirmos, onde vamos encontrar os estímulos que nos fazem falta?

Mas existe um ponto intermédio.

O de sermos capazes de valorizar a participação na competição fazendo ressaltar acima de tudo o esforço que desenvolvemos todos os dias no sentido de alcançarmos o sucesso que almejamos. Até porque a qualidade da competição requer de todos nós um enorme grau de empenhamento.

Ter sucesso é realmente importante. Logo, participar de modo empenhado na busca desse sucesso não tem nada de negativo! A busca do nosso melhor só é possível por via da competição com alguém. Exige trabalho árduo, determinação, treino. Sem trabalho, não há predestinados que resistam. Requer talento. Mas só o talento nada resolve. Grandes atletas, treinadores, músicos, escritores, empresários, há muito que nos dizem que mais do que a inspiração, o que lhes valeu foi a transpiração inerente à sua total entrega na busca do sucesso pretendido.

Eis porque não há que ter medo da competição e muito menos abdicar de todos os dias procurarmos ser melhores.

COMO verdade incontornável, sem companheiros de equipa que connosco cooperem e adversários que nos confrontem e desafiem, seria praticamente impossível atingirmos a excelência. Precisamos uns dos outros!

O que torna claro que, quanto maior a oposição, melhor! Impõe-se por isso respeitar não só os nossos adversários, como os nossos companheiros de equipa, criando por essa via as melhores condições para alcançarmos os objetivos a que nos propusemos.

E atenção! Quando dizemos que devemos respeitar os adversários, não nos referimos a ser gentis ao ponto de não lutarmos até à exaustão para os vencer! Tudo o que seja inferior ao esforço máximo que temos de desenvolver para ter sucesso, significa não respeitar os que connosco competem! Devemos aos nossos adversários, o nosso melhor! Respeito pelo adversário, não pode nem deve significar perda de competitividade.

MAS não se compete só com os adversários. É igualmente fundamental a competição interna, com os próprios companheiros de equipa ao serviço de objetivos comuns. Respeitar os companheiros de equipa, está para além de cooperarmos com eles. Sem a oposição interna, representada no facto de possuirmos companheiros de equipa que permanentemente nos possam pôr em causa, alguém duvida dos perigos contidos em nos acomodarmos?

Oposição externa e interna, cooperação e respeito mútuos, eis afinal os ingredientes base que nos impulsionam para a necessidade de melhorarmos continuamente as nossas competências.

SEGUNDO Daniel Pink, em ‘A nova inteligência: treinar o lado direito do cérebro’, de 2009, o sucesso pessoal e profissional futuro pertencem a um novo perfil de pessoas: os designers, os inventores, os criativos, contadores de histórias. Ou seja, pessoas imaginativas, intuitivas, capazes de gerar empatia e emoções. Como tornar extensiva esta opinião para treinadores e jogadores? Como consegui-lo? ‘Aprendendo a fazer, fazendo e treinando como se joga’: treinar em contextos e circunstâncias o mais idênticos possível à competição ao mais alto nível; e como ‘tudo se treina e em tudo se melhora’, esses treinos, nomeadamente os que se dirigem aos mais jovens, não só devem integrar preocupações de mudança comportamental, como também devem envolver pais e dirigentes. Principalmente que os treinadores, além de revelarem essas capacidades, sejam capazes de ensinar os respetivos jogadores incentivando-os a não terem medo de errar e assumirem os riscos inerentes a quem nos diferentes processos de tomada de decisão pretenda fazer diferente para melhor.

EDUARDO PUNSET, em ‘Viagem ao poder da mente’, de 2010, defende que «o cérebro está preparado, embora não lhe agrade, para mudar de opinião; que construímos o futuro em torno do passado; que nem todos os sistemas irracionais da mente são válidos; que estamos programados mentalmente para sermos únicos e que nisso reside, talvez, a explicação para a capacidade infinita dos seres humanos para serem felizes».

Já Merleau-Ponty, na sua ‘Phenomenologie de la Perception’, de 1945, acrescenta que «para que percebamos as coisas temos de as viver.»

Urge assim que os treinadores se preocupem com o fazerem emergir do seu trabalho jogadores criativos, capazes de fazerem a diferença pela inspiração que provocam naqueles que os rodeiam; principalmente através dos hábitos que revelam de não ter medo de errar nos respetivos processos de tomada de decisão.

Precisamos de jogadores e treinadores que se expressem através de um comportamento com um profundo significado humano. Seres corpóreos disponíveis para tudo o que os envolve, num constante reaprender a olhar o mundo; que observam e percebem de forma continuada o meio envolvente; que lidam com as coisas e com aqueles com quem se relacionam através de uma forma de conivência pré-reflexiva, (inconsciente), prática, ao serviço dos objetivos comuns das equipas a que pertencem.  

ESTA conivência constitui a base e o lado invisível do comportamento. Lado invisível do comportamento que é uma relação à qual eu chego sempre tarde, e que já me determina desde sempre sem eu saber. Um saber desconhecido do corpo que nos permite chegar ao fundo do fenómeno do comportamento enquanto um plano pré-reflexivo de conhecimento prático (intencional e motor).

Como seres humanos, pensamos, interpretamos, temos emoções. Erramos, aqui e ali. Por vezes até acontece sermos preguiçosos ou pouco ambiciosos. Razões mais do que suficientes para que nos estimulem quanto baste, a ponto de conseguirmos superar-nos a caminho da excelência. O que não invalida a necessidade de sermos ensinados e treinados desde muito cedo a gerir de modo adequado as nossas atitudes e os nossos comportamentos. Bem como a combinarmos adequadamente esses recursos com as fontes energéticas requeridas pelas atividades a que nos dedicamos.

Quem não viu já o modo desordenado e extremamente cansativo em termos de gasto energético com que um iniciado aborda um gesto desportivo? É ou não profundamente diferente do modo económico e eficaz como procede um atleta de alto rendimento? Bastante! O que significa que, para otimizar o nosso rendimento, é fundamental aumentarmos os nossos conhecimentos operacionais e comportamentais de forma a conseguirmos ser verdadeiros especialistas na leitura antecipada das situações que se nos deparam.

A busca da superação, não é uma meta impossível. Pelo contrário! É a única alternativa para quem pretenda ter sucesso. Perante a complexidade e as dificuldades contidas na realidade com que nos confrontamos, ou nos superamos, ou ficamos muito aquém da afirmação pessoal e profissional pretendida. E atenção que não basta para isso estar preparado para o esperado. Muito menos ter habilitações académicas quanto baste. É fundamental também, sermos capazes de gerir o inesperado e a turbulência do dia a dia. Adquirir as atitudes e os comportamentos necessários conscientes de que as soluções de hoje tendem a, rapidamente, deixar de o ser.

Mas insisto! Procurar a superação não é o mesmo que dizer que temos de vencer a todo custo! Competir envolve perder e ganhar e é fundamental que, quer num caso, quer noutro, esteja sempre presente a intenção de aprender, de desenvolvimento pessoal e coletivo.

NA constante busca dos melhores e piores, dos mais e dos menos capazes, não pode nem deve desaparecer nunca a solidariedade necessária para que a vitória momentânea de uns, tenha de representar necessariamente o esmagamento dos outros. Bem pelo contrário! É de decisiva importância saber implementar uma fundamental preocupação com quem competimos. Quer sejam companheiros de equipa ou adversários. Cuja melhoria gradual constituirá o incentivo que necessitamos tendo em vista os progressos que almejamos alcançar.

Vencer a todo o custo não conduz ao desenvolvimento pretendido, pois assenta desde logo numa enorme falta de respeito e consideração por aqueles que connosco competem. Num clima social onde domine o vencer a todo o custo, emerge acima de tudo a natural desmobilização dos derrotados. Muitas vezes a sua desistência. E dessa postura social dificilmente resulta progresso e desenvolvimento.

Vencer a todo o custo? Não! Ser cada vez melhor ao serviço da equipa?  Sim!

Perceber que, afinal, quanto maior a oposição que se nos depara, melhores condições temos para o desenvolvimento das nossas capacidades.