A opção

OPINIÃO27.09.201904:00

É a questão do momento: será Silas uma boa opção para treinador do Sporting? À partida, parece. Mas, como sempre, só os resultados o dirão. O que joga a favor: é português, meteu as mãos na massa por ter sido jogador e por ter sido treinado pelos dois melhores treinadores portugueses, José Mourinho e Jorge Jesus, sente-se que tem profunda paixão pelo jogo e, agora, pelo treino, conhece a realidade, a difícil realidade do Sporting, é ainda capaz de ter, lá no fundo, umas quantas costelas de sportinguista, e vai dar tudo o que tem e o que não tem para conseguir sucesso em Alvalade, porque tem a noção de quanto isso será importante para a sua ainda tão jovem carreira de treinador.

Além disso, Silas parece ter realmente o ADN de treinador, no sentido em que procura olhar para o jogo com criatividade e estilo próprio, e no sentido em que procura escolher jogadores que possam traduzir em campo o que ele, Silas, quer do jogo. Dá ainda a ideia de estabelecer boa ligação com os futebolistas, o que é, como se sabe, fundamental para se vencer. Percebe-se que Silas escolheu ser treinador pelo que sentiu ainda como jogador e percebe-se, também, que ele já era como jogador alguém que procurava olhar para o jogo, um pouco, como treinador.

Ninguém pode saber se Silas vai ou não ter sucesso no Sporting e ajudar o Sporting a chegar ao sucesso que tão ansiosamente procura e que tão dramaticamente lhe tem escapado, antes e depois de Jorge Jesus quase ter conseguido devolver ao leão um título nacional.

O que se sabe é que o Sporting precisava evidentemente de renovar a expectativa dos adeptos, após este infeliz magistério de Leonel Pontes, e precisava de o fazer contratando um treinador português, porque para estrangeiro - dentro das possibilidades do clube - já bastou  o frio Marcel Keizer, um treinador que me pareceu sempre muito inapropriado para um clube que tem o orgulho tão ferido, está assustadoramente ainda tão dividido e sente a alma ainda tão dilacerada.

O problema do Sporting está longe de ser um problema de jogadores ou de treinadores. É bem mais profundo, é estrutural, e, portanto, ninguém pode esperar que se resolva por se mudar apenas de camisa. É, aliás, já tão grave, que quase se torna indispensável mudar alguma coisa mesmo correndo o risco de tudo ficar na mesma.

Reduzindo o problema, no caso do futebol, e no momento, à questão do treinador, creio então que a chegada de Silas a Alvalade parece ter tudo para fazer bem ao leão. Renova-lhe o ar, renova-lhe sobretudo o discurso, a ambição, a determinação, a vontade de ganhar, e dá-lhe um rumo, que é o que o Sporting dá ideia de não ter tido desde que despediu o treinador holandês em quem o presidente Varandas tanta esperança parecia depositar.

É verdade que parece o Sporting ir agora de remendo em remendo, talvez sem a coragem de tomar medidas mais profundas ou de mexer mais na estrutura, alterando pessoas mas também alterando porventura hábitos e alguns poderes instalados.


Em todo o caso, já que tem - e tinha mesmo - de mudar de treinador (Leonel Pontes deve ter percebido a ausência de clima, de confiança e de aura positiva para um mandato mais estável), que o faça apostando num jovem treinador português com o perfil de Silas, na impossibilidade de resgatar Abel Ferreira, ou de voltar a ter (a não ser em sonho) Leonardo Jardim, já para não falar da surpreendente - e inacreditável - tentativa de saber se José Mourinho estaria disponível para vir para Alvalade...

Na recente entrevista que Silas deu a este jornal e ao canal de televisão deste jornal - a primeira entrevista de Silas, aliás, depois de abandonar a SAD do Belenenses - foi possível confirmar o que ele sempre deu a ideia de ser: inteligente, humilde, com uma tremenda vontade de aprender e crescer como treinador, mas, principalmente, com uma profunda confiança nas capacidades e um enorme desejo de ter a oportunidade certa, porque às vezes é mesmo disso que se trata, da oportunidade e do momento certos para mostrarmos o que valemos.

Gosto especialmente da forma como Silas fala, porque mostra saber muito bem o que quer e qual o caminho que quer trilhar. Tem um discurso firme, muito assertivo. Se isso será suficiente para levantar o leão - como diria António Oliveira, agora colunista deste jornal - só o tempo, como sempre, trará a resposta. A Silas não faltará, certamente, coragem. Mas precisava de um clube unido, e volta a não ter!

PS: Que barraca a votação para melhor jogador do ano da FIFA, com tanta suspeita de votos truncados ou viciados. Uma vergonha!