A nova APAF e a navalha voadora
Luciano Gonçalves (CARLA CARRICO/ASF)

A nova APAF e a navalha voadora

OPINIÃO16.04.202408:41

O atual presidente da APAF é, de facto, uma pessoa de bem, honesta, humilde e muito trabalhadora

Luciano Gonçalves e a sua equipa foram eleitos para mais um mandato à frente dos destinos da APAF - Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol.

Tal como qualquer árbitro, ex-árbitro, comentador, observador, técnico ou dirigente de arbitragem, o Luciano é tantas vezes esmagado em praça pública por aquilo que diz e faz ou por aquilo que não diz e não faz. E é não apenas para quem vê futebol a cores, como por meia dúzia de wannabes maldizentes dentro da própria classe. Sim, nós também os temos.

A verdade é que está para nascer alguém que, nesta área, seja permanentemente consensual, elogiado ou enaltecido pelo trabalho e integridade. Pela competência e seriedade.

Mas essa visão mais apaixonada de alguns não pode toldar a verdade para muitos: o atual Presidente da APAF é, de facto, uma pessoa de bem, honesta, humilde e muito trabalhadora. E digo mais: a forma como agarrou neste desafio e o superou ano após ano em contextos tantas vezes adversos, surpreendeu a maioria dos árbitros, inicialmente desconfiados sobre o que viria dali.

É que ao contrário de outros distintos dirigentes daquela casa, a carreira do Luciano na arbitragem foi modesta, essencialmente por causa de um imprevisto que ninguém merecia passar. Mas resiliente como é, ultrapassou o problema com a distinção dos grandes, abraçando este projeto com tudo o que tinha.

«Não enganemos ninguém: os árbitros não são profissionais»

9 abril 2024, 10:47

«Não enganemos ninguém: os árbitros não são profissionais»

Duarte Gomes passou quase metade da sua vida como árbitro, chegando ao topo da pirâmide, ou seja, a internacional. Quando arrumou o apito, manteve-se fiel à ‘arte’ e dedicou-se ao comentário de arbitragem na Comunicação Social. Voz lúcida e respeitada, Duarte Gomes aproveitou a presença no ‘Conselho de Estádio’, de A BOLA TV, não só para apontar as múltiplas insuficiências de que a arbitragem ainda padece, mas também para propor soluções que podem trazer um futuro melhor...

Eu sei que a maioria das pessoas não terá noção, mas a APAF é hoje mais, muito mais do que era há dez ou vinte anos. Os árbitros começam a ter algumas condições, mais meios e até alguma proteção (nomeadamente jurídica), sobretudo ao nível da formação e dos distritais, onde tantas e tantas vezes pareceram estar esquecidos. A associação tem hoje uma casa nova, que honra a memória daqueles que muito deram à arbitragem. Um espaço físico digno, porque a arbitragem merece dignidade.

Mas apesar dos seus méritos inegáveis, o Luciano sabe que o futuro é extremamente desafiante: os árbitros continuam a ser profundamente amadores (mesmo os do futebol profissional), continuam a dirigir muitos jogos sem policiamento, continuam a pagar parte dos seus equipamentos e acessórios de arbitragem, continuam a não ter estatuto de carreira, continuam a ser mal remunerados na base e continuam sem saber o que fazer quando terminam a carreira. Somos menos de metade dos que devíamos ser e precisamos de mais força e ferramentas para sermos melhores do que somos. Cabe a esta nova APAF assumir essa luta, seja onde for, com quem for. Independência, caminho próprio e coragem. E o Luciano, que sabe sorrir, ser polido e diplomático quando é necessário, também saberá bater o pé para defender aquilo para o qual foi novamente eleito: o interesse da arbitragem e dos árbitros. Sempre e só.

Alerta navalha (aberta)

Estavam decorridos 88 minutos do Arouca-Boavista quando um adepto identificado como sendo da equipa visitante, arremessou um navalha aberta (vou repetir devagarinho: navalha... aberta!!) na direção de um dos árbitros assistentes.

No meu tempo, a coisa ficava-se por garrafas de água, isqueiros, baterias de telemóveis, bolas de golfe, sapatos e, com azar, pequenos transístores ou bolas de snooker. Confesso que navalhas abertas nunca tinha visto.

O que está em causa é algo de uma gravidade tremenda, que espero tenha a maior e melhor atenção da instituição Boavista, da Liga Portugal (convém perceber como é que uma arma branca, capaz de matar pessoas, entra ou é colocada dentro de um estádio da Primeira Liga) e das instâncias disciplinares e judiciais.

A questão é fácil de perceber: se aquela lâmina tivesse atingido as costas, o peito, uma perna ou a cara daquele árbitro assistente, o que estaria o país a discutir hoje? Não deixemos que o acaso da consequência (por sorte, não acertou) retire essa preocupação.

Isto é algo que nunca mais pode voltar a acontecer e que tem que ter consequências absolutamente exemplares.

Assunto a seguir com atenção.