A natureza está cansada

OPINIÃO07.04.202004:00

NÃO seria má altura reconhecermos, com dose volumosa de sinceridade e humildade, que andamos a brincar com a Mãe Natureza há demasiado tempo. A questão é porquê.


Leviandade? Inconsciência? Ignorância? Um pouco de cada? Qualquer que seja a razão, é má. Não colhe. Não justifica nem atenua o prejuízo.
Se virmos bem, a natureza é uma das poucas coisas que a humanidade tem em comum. Nascemos, crescemos e evoluímos na sua casa, sob a sua proteção. É dela que colhemos os frutos que nos alimentam e o ar que nos mantém vivos e saudáveis. É ela que nos dá o equilíbrio e as condições para crescermos, dia após dia. Com saúde. Com tudo o que precisamos. Graciosamente. Sem contrapartidas nem exigências.


Penso que, até hoje, não tínhamos bem essa noção. Não todos, pelo menos. O que fazíamos, pontualmente, era refletir sobre isso, através de crises de consciência que duravam pouco. Duravam até que uma qualquer ligeireza quotidiana voltasse ao pensamento e nos transportasse, de novo, para as banalidades habituais.
A verdade é que, de repente, tudo mudou.


Mais do que o irmão que nos roubou ou da dor que causou, o vírus parece ter também outra missão. Parece querer lembrar-nos que não temos sido bons filhos. E a verdade é que, de um modo geral, temo-nos comportado como crianças ingratas e gananciosas, que partem brinquedos valiosos só porque querem construir outros novos, a toda a hora.


Ao ambicionar tanto e de forma tão descontrolada, poluímos o ar em demasia, cometendo harakiri (além de fragilizar a camada de ozono, causamos a morte a mais de 8 milhões de pessoas por ano - estudo efetuado pelo Instituto Max Plank e pela Universidade Johannes Gutenberg); sujamos e desperdiçamos água de tal forma que em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos; massacramos o solo em excesso, esquecendo que é dele que colhemos 90% dos nossos alimentos; destruímos florestas, desequilibrando o ecossistema e comprometendo o equilíbrio do planeta. Do nosso planeta.


Somos uns garotos mimados.


E agora, a natureza dá sinais de desilusão e fadiga. Quer descansar. Quer repor o seu equilíbrio, dando-nos uma lição muito dura. Uma que, curiosamente, só nos afeta a nós, humanos.


Está a dar-nos um beliscão enorme, porque foi isso que teve de nós durante séculos a fio.


Esta reflexão é tão profunda quanto o período em que vivemos e é tão metafórica quanto o leitor a quiser assimilar.


Importante é a mensagem que encerra:


- Temos mesmo de passar a ser melhores pessoas depois disto.


Temos de aprender a honrar os que partiram e as suas famílias, respeitando quem nos rodeia. Respeitando esta casa gigante em que todos vivemos.
A essência deve superar sempre o material. O respeito deve suplantar a imoralidade. O altruísmo tem de ser sempre maior do que o egoísmo, senão estará tudo trocado, ficará tudo desvirtuado e caminharemos constantemente para o local errado.