A mentira
Benfica, Roger Schmidt

A mentira

OPINIÃO10.03.202300:00

Parabéns a Roger Schmidt pela revolução no futebol do Benfica

Ao bater no teclado da primeira letra do início desta charla com quem gosta e vive do futebol e faz de A BOLA relvado onde espraia todo o seu potencial de conhecimentos técnico-tácticos do jogo, dando, está claro, a primazia do seu clube. Daí que em noite de glória parecida com tempos idos, matando as bruxas deixadas por Gutmann, os benfiquistas irão queixar-se deste pobre e velho escriba, arrimando-lhe ainda em cima umas lufadas de Alzheimer. Ora, numa noite de glória para o Benfica (mais uma) e para o futebol português, o tal que vive cheio de brilhantina mas não alinda o cérebro pensando numa vida nova e decente. O brilhantismo benfiquista e o igual patamar que sportinguistas e dragões venham a alcançar na saga europeia, chegará para ficar satisfeito, mas cada vez vendo mais cavar-se o amanhã do extraordinário joguinho que  todo o mundo abraça, uns para divertir outros a sério. Sabemos muito bem - e por isso corremos riscos do director João Bonzinho nos mandar pregar para outra freguesia - que não iremos encontrar muitos leitores que nos passem um atestado de boa sanidade.

Por isso, há que explicar as nossas razões. A primeira é que o futebol português é riquíssimo de qualidades para praticar o jogo, daí estar no topo daqueles que incendeiam os estádios como esta semana o Benfica fez no terrivel Inferno da Luz. A nação benfiquista viveu mais uma hora de euforia, motivando certamente os senhores procuradores do MP, recentemente tão preocupados com aqueles que têm de respeitar a herança moral de Cosme Damião, de repararem que nunca tiveram as queixas, as denúncia de um presumível réu com tantos e válidos argumentos para suportar as queixas e denúncias que estão plasmadas no cardápio da especulação nascida na mesa do café ou no lusco-fusco de um recanto de bar.

Tudo isto justifica as razões da mentira que adorna este texto. A mentira do modo de vida de um futebol pobre que quer fazer vida de rico, apesar de pouco mais de meia dúzia de clubes não terem receio do dia  30, embora muitas vezes as dores de cabeça dos dirigentes só passem com as aspirinas do ‘tempo de espera’ do senhor director bancário.

Uma pobreza que se espraia na organização sindical ou de protecção dos chamados profissionais de futebol, com grande maioria com salários em atraso e sem nenhum horizonte de vida que não seja prenúncio de futuro cinzento. Ainda recentemente lemos uma entrevista com profissionais de 35/36 anos que todos os dias pensam como vai ser o amanhã. Treinadores de futebol? Como salário mínimo, recebido, quantas vezes aos soluços.É este o futuro ou então irem jogar para o Cazaquistão. Há para aí um quarteirão que no estrangeiro ganha fortunas, mas a grande maioria tem uma vida de sacrifício e, ainda por cima, longe, muito longe dos seus.

Por outro lado, por cá, no Portugal soalheiro, há agora o uso e abuso das Sociedades Desportivas (SAD’s), em grande parte já em segunda e terceira edição  perdidas, já que a supremacia é da entrada de dinheiro para lavar e andar e outros capitais que não se sabe da procedência. Há SAD’s que se arrastam seguras pelo sacrifício de quem para elas trabalham. Por sua vez, os clubes a que dão nome ainda não têm voz activa, com uma lei em standby na Assembleia da República.

Neste país tão pequenino em território, insolvências das tais sociedades desportivas são o pão nosso de cada dia. E o escaravelho da maioria dos clubes. E para completar o leque, temos uma organização dos árbitros, mas  não temos árbitros… Nem sabem apitar no relvado e não se entendem a vigiar os jogos através das novas tecnologias.

Estamos num país em que há milhões a gostarem de futebol e muita gente a viver à custa do mesmo, enquanto só alguns eleitos, na maioria pela sua prosápia, estão na berlinda, mexendo e remexendo, dizem eles, no interesse do futebol. Dizem eles. Mas uma lei que abranja toda a gente não interessa, vai-se governando nos pingos da chuva ou da controvérsia.

Há muito a mudar e da boca de alto dirigente ouvimos um isso nunca quando alguém defendia uma Liga Ibérica (I e II) com seis equipas portuguesas e outras tantas epanholas. As receitas aumentariam e acabariam os estados às moscas. Uma II Liga com duas zonas (norte e sul) dos dois países, acabando com jogos com pouco mais de 70 espectadores.

Temos um futebol de buracos, só temos quem saiba jogar - e bem. Cabeças para dirigir só um número diminuto, sem o cérebro em off-side.

Agradecemos ao Benfica mais um feito de aplauso internacional. E nós servimo-nos desse êxito para chamar à razão todos aqueles que pensam que somos os melhores.

Na passada terça-feira, as camisolas vermelhas do Benfica levaram grande parte do País a uma satisfação que, até no íntimo, calaram fundo nos dragões e nos leões.

Parabéns a Roger Schmidt pela revolução no futebol do Benfica e de que Portugal beneficiará. Paz à alma de Gutmann e que fique com as bruxas e lhes parta as vassouras…

Por fim, uma VERDADE. A atitude de um grande futebolista e de um homem que sabe respeitar o seu semelhante. Rafa, ao ver-lhe concedido o titulo do melhor do jogo, entendeu que quem o merecia era o seu jovem companheiro Gonçalo Ramos e transmitiu-lhe a homenagem.

Pedimos perdão, somos assim: não gostamos de deixar fugir as oportunidades para desabafar. Obrigado, Benfica!