A conclusão das competições
Embora o futebol seja, neste período, tema secundário, a discussão em torno da conclusão da época voltou à ribalta. A esse respeito, a questão é simples: será que o melhor é dá-la por terminada ou concluir o que falta, assim que possível?
Reconheço que é um assunto muito delicado, que mexe com variáveis importantes. Demasiado importantes. Mas enquanto ex-árbitro e cidadão consciente, confesso que o tema levanta-me várias dúvidas.
Para começar, gostava de ouvir a opinião dos verdadeiros atores. De quem tem que ir lá para dentro. Gostava de saber o que pensam sobre isto. Preferem terminar o campeonato ou isso não está nos seus planos?
Outra questão que queria perceber é a data estimada para um eventual recomeço, ainda que ciente da janela de oportunidade que o adiamento do Euro-2020 proporcionou. É que a referência oficial para o «decréscimo da curva» da pandemia aponta para o início de junho. Será que, a partir daí, todos se sentirão seguros para retomar a sua atividade? Em que estado psicológico e motivacional se encontrarão os protagonistas maiores do jogo, nessa altura?
E em termos operacionais/logísticos? Será correto deduzir que os atletas que estão no estrangeiro irão regressar sem quaisquer constrangimentos? E como se ultrapassarão eventuais condicionantes contratuais, que se levantarão no final desse mês?
Há a dedução normal que todos terão que cumprir quarentena obrigatória. Essa medida será também extensiva a árbitros, médicos e terapeutas, delegados e dirigentes, apanha-bolas e operadores de imagem, ou seja, a quem for de presença indispensável em cada jogo? Quando todos terminarem esse período e forem testados, de quanto tempo precisarão para estarem fisicamente aptos? Quem garante que, nessa mini pré-época, ninguém será entretanto infetado? Continuarão aí em isolamento, longe da família e amigos?
E os campos de treino e balneários, estarão permanentemente desinfetados? O material de treino também? E se alguém lesionar-se e necessitar de cuidados médicos? Haverá um hospital de prevenção por cada local de treino? E depois, haverá também um por cada local de jogo?
E os estádios, serão descontaminados em permanência? Há garantia de higienização durante as viagens feitas nos autocarros das equipas? E em relação aos voos de e para as ilhas, com toda a logística que isso envolve, também? Depois de quarentenas, pré-épocas e reinício dos jogos, os intervenientes poderão estar com aqueles que mais amam? Se sim, como controlar esse risco? Se não, como motivá-los?
Para que fique claro, adoro futebol e estou doido por vê-lo de regresso. Acho, no entanto, que há questões que devem ser acauteladas com máxima responsabilidade e cautela e tenho a certeza absoluta que é isso que será feito.
Ninguém pode dar-se ao luxo de ver o seu nome associado a um momento infeliz, por causa de uma decisão precipitada.
Prioridade ao que é prioritário.