A classe que nos falta
O Excelsior seria o 8.º clube com mais gente nas bancadas na liga portuguesa
IMAGINEM! Se a época acabasse agora, Portugal começaria a próxima, na Europa, a mais de 5,5 pontos do 6.º lugar, ocupado pela França, e a uns décimos mais da Holanda. A distância, que parece bem menor do que realmente é, ainda pode diminuir ou aumentar consoante a prestação de Benfica e Sporting do lado luso, Feyenoord e AZ do dos holandeses e ainda Nice, pelos franceses. É apenas reflexo de uma classe média instável e empobrecida abaixo dos quatro grandes e, sendo o ranking UEFA determinado pelos últimos cinco anos, uma prova de falta de regularidade. A verdade é que não temos seis equipas de qualidade europeia e que, seja como for, os quatro mais fortes vão ter de trabalhar muito para se regressar ao estatuto agora perdido. De nada vale responder um «aproveitem enquanto dura», como se realmente houvesse sinais de retoma.
A Holanda não apresenta uma liga perfeita, longe disso. Joga-se aí um futebol mais espectacular pelo privilegiar do ataque, e pela distância que existe entre os mais fortes e os outros. Há Ajax, Feyenoord, PSV, e o AZ pode equiparar-se ao SC Braga, embora se diferencie pelos dois títulos de campeão. Abaixo disso, o deserto. Tem 18 concorrentes, provavelmente mais do que devia, tal como por cá - há muito que sugeri 12 clubes e quatro voltas ou um modelo que multiplicasse os encontros entre os mais fortes -, mas mesmo assim o Excelsior, o pior do ranking do inimigo, tem uma audiência de 4300 espectadores, o que em Portugal lhe daria o 8.º lugar entre os emblemas com mais gente nas bancadas. Num país sem jornais desportivos, a cultura desportiva existe e é mais forte. Tal como a justiça. Não vigora um sentimento de impunidade permanente, nem subsiste o cheiro a terra queimada. Mais do que tempo de refletir, é tempo de agir. Afinal, será que os holandeses jogam num outro continente que não o nosso?