A classe média
Pedro Proença, presidente da Liga Portugal com algumas questões por redsponder
Foto: IMAGO

OPINIÃO A classe média

OPINIÃO10.09.202411:00

'Sentido de pertença' é um espaço de opiinão quinzenal do vitoriano André Coelho Lima

1- Li aqui n’A BOLA um artigo do Diretor Executivo da Liga Portugal regozijando-se com o que considerou ser «uma semana para emoldurar», frase com que inclusive intitulou o seu artigo, após se ter verificado o apuramento de todos os clubes portugueses para a fase de liga das diferentes competições europeias. E concretizou o seu raciocínio dizendo que «a demonstração de força da nossa classe média é absolutamente fundamental para voltarmos a um lugar que sentimos ser nosso, em condições normais». E sobre isto já entendo tecer algumas considerações. Porque o entusiasmo e a excessiva prolixidade não devem fazer-nos perder de vista que, quando escrevemos, representámos entidades.

2- Vou passar à frente a classificação aligeirada de »classe média», dirigida ao V.Guimarães e ao SC Braga, o que permite poder presumir-se serem todos os demais clubes classe baixa; não é feliz. Mas mais do que a infelicidade hierárquica, está em causa que a um alto dirigente do nosso futebol não deve competir, tão somente, a manifestação de regozijo pelas conquistas mas antes, diria mesmo sobretudo, procurar perceber qual é o papel da Liga para algo fazer para que este facto, pelo qual tantas vozes se ergueram em júbilo, seja frequente e não pontual. Essa é que é a discussão que interessa ter.

O que pensa a Liga fazer relativamente aos direitos televisivos? Manter o atual estado que distribui proventos de modo significativo pela »classe alta» deixando as classes média e baixa à míngua de migalhas e jogadores emprestados? Que projeto tem a Liga fazer para a promoção do espetáculo desportivo, por forma a o poder tornar vendável noutras geografias e, como tal, mais rentável para quem detenha os seus direitos? Durantes quantos mais anos, ou décadas, continuaremos a discutir de modo totalmente inconsequente sobre como o campeonato inglês e o espanhol (só por coincidência os mais competitivos e com clubes mais fortes) têm critérios de distribuição dos direitos televisivos que favorecem a competitividade enquanto o nosso se mantém tristemente subserviente às classes altas? A função dos altos responsáveis pelo nosso futebol é pugnar por que aquilo pelo qual tanto regozijo manifesta não seja uma obra do acaso, mérito exclusivo dos clubes em causa numa luta permanente de David contra Golias, mas fruto de alterações estruturais que promovam o espetáculo e sobretudo a competitividade. Para isso, é preciso coragem reformista, palavras não bastam.

3- Queria informar que entendi dever partilhar este espaço que A BOLA atribuiu ao Vitória com outros vitorianos que, como eu, assumem orgulhosamente o seu sentido de pertença a um clube e à representação que este faz de uma região e da sua comunidade. Pelo que, doravante, partilhei este espaço possibilitando que, bimestralmente, ele seja utilizado por outros vitorianos, por mim convidados, com vista a demonstrar a diversidade e a abrangência social deste clube e a relevância dos seus adeptos para o país em diferentes áreas e setores visando demonstrar que talvez se deva olhar um pouco mais para as classes médias e para o peso que estas podem ter para o crescimento do país.