A bandeja

OPINIÃO19.10.201804:38

As declarações do presidente do FC Porto sobre o fim do contrato de Herrera e a eventual renovação podem ser vistas de duas maneiras. Por um lado, a invulgar decisão de tornar público um assunto que há um par de anos o presidente do FC Porto consideraria absolutamente confidencial, num claro sinal de que os tempos são realmente outros.

Por outro, manifestará a intenção do líder portista de assumir, às claras, um potencial conflito com o capitão de equipa, num jogo já bastante mais de acordo com o estilo do presidente, naturalmente sempre desfavorável ao jogador.

O que o presidente do FC Porto fez pode ter surpreendido muita gente, ao revelar que Herrera pediu seis milhões de euros para renovar o contrato justificando, com isso, a impossibilidade de o clube o aceitar.

Claro que ao mesmo tempo que defendeu a posição do FC Porto, não deixou de servir de bandeja a cabeça de Herrera aos adeptos.

Não costumava o presidente portista tornar públicos negócios privados. É verdade. Mas sempre que precisou também nunca deixou de assumir publicamente qualquer que fosse a divergência com um jogador.

Foi assim no passado com António Oliveira ou Fernando Gomes, ou mais nos anos mais recentes com Jorge Costa ou Baía.

Sobretudo, quase nunca o presidente protegeu os jogadores que pudessem viver situações de potencial conflito com o clube.

Deixou sempre, aliás, que fosse muitas vezes o clã de adeptos em que se transformou a claque Super Dragões a julgar os jogadores e talvez por isso muitos tenham, historicamente, passado no FC Porto algumas passas… do Algarve!

A partir de agora, Herrera, até aqui, como bem sabemos, tão depressa odiado como amado, não mais estará em bons lençóis, a não ser que renove rapidamente o contrato ou faça fantásticas exibições.

Caso contrário, está encontrado um dos culpados sempre que a coisa não correr bem.

Estratégia, essa sim, à Porto.

APANHOU o Benfica um adversário muito generoso mas demasiado tenrinho nesta primeira exibição dos encarnados na Taça de Portugal 2018/2019. Fez o Sertanense o que pôde mas o que pôde foi manifestamente pouco, como se esperava, para impedir o Benfica de cumprir o que sempre pareceu obrigatório, que era vencer o jogo e sem margem para dúvidas.

Claro que pode um jogo futebol ser uma caixinha de surpresas quando se trata de uma competição desta natureza.

Mas sejamos sérios: ninguém esperaria que pudesse o modesto Sertanense ser tomba-gigantes vendo-se obrigado a deslocar o jogo do seu campo, na Sertã, para um palco maior como é o do municipal de Coimbra.

Se é para se passar a vida a impedir, por esta ou por aquela razão, que os mais pequenos joguem nos seus campos, então porque não se acaba com a decisão de obrigar os maiores a jogar esta eliminatória fora de casa?

Para ter de jogar em Coimbra, talvez os jogadores do Sertanense, e já agora, o tesoureiro, preferissem jogar no Estádio da Luz.

Ou estarei a ver mal o filme?

O mesmo se aplica, evidentemente, ao Loures-Sporting, que vai jogar-se em Alverca, e a outros jogos que tais. À luz destas alterações, o que parece a decisão de obrigar os grandes a jogar fora senão o que realmente é? Uma hipocrisia, claro!

DO jogo de Coimbra fica sobretudo o regresso de Jonas ao golo e o grande golo de Gedson, um miúdo que enche realmente as medidas a quem gosta de futebol e que deixou igualmente marca no último encontro da Seleção, com aquele magistral passe para o magistral golo de Bruma frente à Escócia.

A propósito da Seleção Nacional, aliás, é também da mais elementar justiça destacar o talento de outro jovem médio do futebol português que promete ganhar, rapidamente, não apenas o seu lugar na equipa das quinas como também o salto para carreira de sucesso num dos grandes clubes da Europa.

Refiro-me, creio que será óbvio, a Rúben Neves, um dos jogadores portugueses em maior destaque no surpreendente Wolverhampton de Nuno Espírito Santo.

Este Rúben Neves está mais crescido que nunca. E só tem 21 anos! Defende e ataca; joga com o direito e com esquerdo, passa longo e passa curto, apoia os centrais e logo organiza o ataque, desmarca e ocupa o espaço como um médio já de altíssima qualidade. Um espanto!

O passe do jovem Neves a deixar Rafa na cara do guarda-redes da Polónia (e conseguir golo) foi absolutamente portentoso.

Com um Rúben Neves destes e com o fantástico William Carvalho - que só se não quiser é que não consegue ser um dos melhores da Europa na posição -, além de jovens muito talentosos como é o evidente caso de Gedson, bem pode a Seleção estar descansada no que diz respeito ao bloco central da equipa.

E não é no meio que está a maior das virtudes?!

APESAR do atraso, creio-me ainda muito a tempo de deixar opinião sobre o que sucedeu após o apito final no último clássico, na Luz, entre Benfica e FC Porto, com aquela lamentável decisão de algum responsável do clube (só pode ter sido alguém responsável, quanto mais não seja, responsável pelo som que se ouve no estádio) de pôr a tocar música que facilmente se identifica com… as touradas.

Não se trata apenas do evidente mau gosto; trata-se sobretudo da absoluta falta de fair play e de respeito institucional pelo adversário. Dir-se-á que já todos, no caso dos chamados três grandes, serviram estupidez semelhante. De acordo. Mas isso não atenua.

Só agrava!