A arbitragem portuguesa

OPINIÃO27.04.202107:00

A voz que se ergue para censurar deve ser a mesma que tem a humildade de elogiar

NOMEAÇÕES INTERNACIONAIS — Depois de ausência no último Campeonato da Europa (2016), que originou uma espécie de descrença generalizada, a arbitragem portuguesa volta a estar presente nas grandes competições internacionais de futebol. Artur Soares Dias e a sua equipa (Rui Licínio e Paulo Soares como árbitros assistentes, João Pinheiro e Tiago Martins na função de videoárbitros) foram agora nomeados para participarem em dois eventos maiores, que decorrerão em breve: o Euro-2021 (2020) e os Jogos Olímpicos de Tóquio. Estas são, sem dúvida alguma, excelentes notícias para todos. Notícias que nos devem fazer sentir orgulho redobrado.
Aliás, a representação nacional além-fronteiras - qualquer que seja - deve ser sempre motivo de satisfação e regozijo, mesmo para aqueles que tenham mais facilidade em criticar do que em aplaudir. A voz que se ergue facilmente para censurar deve ser a mesma que, no momento certo, tem a humildade de elogiar. Este voto de confiança - dado quase em simultâneo por UEFA e FIFA - não é um prémio de consolação nem um acaso divino. Não é assim que as coisas funcionam nas mais altas instâncias internacionais. Esta é uma aposta no mérito, na competência e na resiliência, depois de várias épocas de trabalho produzido, com bons resultados.
Para quem não se recorda, convém lembrar que Soares Dias foi videoárbitro no Campeonato do Mundo de 2018 e já representou a arbitragem portuguesa no último Mundial de Clubes e na Taça das Confederações. Dirigiu, pelo meio, vários jogos relevantes de qualificação (seleções nacionais), Liga dos Campeões e Liga Europa. Por cá, é o atual árbitro do ano e soma finais, dérbis e classificações de excelência. Nada acontece por acaso e a mensagem que agora é passada deve servir de motivação para todos os jovens árbitros que têm o sonho de chegar longe na carreira. Vale a pena o esforço, a dedicação e o compromisso. Espero e desejo que a equipa de arbitragem agora indicada possa, no mínimo, seguir as pisadas de outros nomes relevantes da nossa praça, como os de Pedro Proença, Olegário Benquerença, Vítor Pereira ou Lucílio Batista.

INTERCÂMBIO DE ÁRBITROS — Na sequência de notícias divulgadas há algumas semanas, o Conselho de Arbitragem da FPF confirmou que na próxima época haverá intercâmbio de árbitros portugueses com os seus congéneres franceses. A parceria, que se estende também ao futsal, respeita os princípios estipulados pela UEFA em 2004: permitir que os juízes mais novos possam adquirir experiência internacional, atuando em realidades competitivas diferentes da sua. A ideia, há muito prevista no regulamento de arbitragem (primeiro no de 2012 da Liga e depois no de 2016 da FPF), é boa e deve ser aproveitada pelos nossos árbitros como instrumento importante para o seu crescimento técnico, psicológico e emocional. É fundamental que os mais novos conheçam outras provas, outras culturas, outras formas de jogar e habituem-se a sobreviver em contextos diferentes daquele que sempre conheceram.
Essa é a verdadeira essência do intercâmbio e nunca deve ser desvirtuada. O objetivo nunca deve ser proteger os nossos de jogos decisivos, porque esse seria apenas um penso rápido que nada resolveria estruturalmente. Pelo contrário. Retiraria aos juízes portugueses a oportunidade de atuarem sob forte pressão mediática e competitiva, algo absolutamente fundamental no seu crescimento e evolução. Os clubes podem não gostar, mas estes são os seus árbitros, tal como para eles... estes são os seus clubes. Se esta premissa não for adulterada, a riqueza da parceria será insubstituível.