24 anos, dois meses e 14 dias depois de Vale e Azevedo
Presidente do FC Porto apresenta projeto da academia. Foto: José Coelho/LUSA

OPINIÃO 24 anos, dois meses e 14 dias depois de Vale e Azevedo

OPINIÃO28.03.202409:15

Se foi preciso esperar mais de 40 anos pela apresentação do projeto da academia do FC Porto, não seria sensato esperar mais um mês para que o vencedor das eleições decida com a legitimidade dos votos?

O candidato-presidente ou presidente-candidato do FC Porto considera ridículo pensar-se que a academia que apresentou com a pompa própria dos mais solenes momentos é trunfo eleitoral, mas não só a tinha anunciado como uma das três condições para se apresentar a novas eleições como o administrador da SAD para a área financeira esclareceu que a circunstância levou a acelerar os trabalhos.

Seduziu os sócios com propostas de transparência e boa governança e, em novembro, o mesmo administrador da SAD explicou que haverá quem invista, quem construa e o FC Porto faz um contrato com uma entidade que vai colocar esse equipamento ao serviço do clube contra uma renda resolúvel, para, já em março, a SAD publicar em comunicado que os terrenos e futura academia não serão arrendados, serão propriedade do FC Porto.

A 2 de março, achava que os tratores já andavam pelos terrenos, ontem parece que andavam mesmo para lá umas máquinas a mexer na terra. Os trabalhos de movimentos de terra, segundo o arquiteto Manuel Salgado, foram adjudicados por €6,9 milhões, já a estimativa «relativamente ao custo da construção dos edifícios da parte construída, vamos dizer, neste momento ainda não está fechada». O total «anda à volta de €40 milhões».

O mesmo é dizer que ainda não foi possível informar os sócios quanto custará. Logo se vê e logo se saberá, afinal houve promessa de transparência.

O presidente-candidato ou candidato-presidente acusa o principal adversário nas eleições de dizer mal de tudo e de todos e, no entanto, já lhe pediu para ir chamar pai a outro, de desviar De Bruyne para o Chelsea, apesar de a contratação do belga dele não ser responsabilidade, de deixar a cadeira de sonho quando lhe acenaram com dinheiro, mesmo que agora o outro candidato prometa que não vai receber um tostão se tiver mais votos.

O presidente-candidato ou candidato-presidente até já disse que no clube não há lugares para Vales e Azevedos, uma tirada, certamente da mais fina ironia, referindo-se ao principal adversário nas eleições, que tocará fundo naqueles que o admiram.

E, já que evocou o nome do antigo presidente do Benfica, ninguém poderá levar a mal que se recorde que foi ele a lançar a primeira pedra daquele que é hoje o centro de treino e formação dos encarnados.

Vale e Azevedo, então presidente do Benfica, no dia do lançamento da primeira pedra do centro de treinos do Seixal, ao lado do então Ministro do Desporto, Fernando Gomes, e o secretário de Estado, Vasco Lince (ASF)

Já lá vai algum tempo, mais precisamente 24 anos, dois meses e 14 dias desde essa cerimónia no Seixal até ao anúncio deste projeto de academia do FC Porto. Houve mais de 40 anos para se pensar e executar um projeto que, reconheceu o administrador para a área financeira da SAD, foi agora acelerado pelas circunstâncias.

Se, no FC Porto, foi preciso esperar mais de 40 anos para a construção de uma academia, se outro candidato diz que tem uma proposta mais indicada para o clube, não seria mais sensato e prudente esperar-se agora mais um mês para que pudesse o vencedor das eleições decidir com a legitimidade dos votos?