Benfica Entrevista A BOLA: «O Benfica foi como tocar o céu com as mãos»
José Schaffer jogou apenas seis vezes pelo Benfica, ao qual chegou em 2009. Foram seis meses de tal forma marcantes que fala deles, passados quase 14 anos, com grande entusiasmo. O antigo lateral-esquerdo argentino, 37 anos, agora treinador das camadas jovens do Racing, recorda a sua passagem pelo Benfica
- Como surgiu a possibilidade de ir para o Benfica?
- Num jogo entre o Racing e o Rosario lesionou-se o lateral-esquerdo. Entrei na segunda parte e, a partir daí, fiz grandes jogos. O Benfica ficou interessado e falou com o meu empresário e depois ele disse-me. Foi uma alegria enorme saber que poderia jogar com Aimar, Saviola, Luisão ou David Luiz.
- O que conhecia do Benfica e da equipa?
- Que jogava a Liga dos Campeões. Na Argentina, gostamos muito de futebol e seguimos as grandes competições europeias. Ainda hoje vejo os jogos do Benfica ou do FC Porto na Europa. Quando cheguei aí, Aimar, Saviola e Di María explicaram-me a grandeza do Benfica. Andámos pela Ucrânia, pela Alemanha, por qualquer país e é impressionante a quantidade de adeptos em todo lado.
- Quais foram as primeiras impressões quando viu Lisboa, o Estádio da Luz, o centro de treinos?
- Foi como tocar o céu com as mãos, lindo, o melhor que me podia acontecer. Passar de viver num talho e jogar naquele estádio mais lindo. As pessoas ainda me reconhecem de ter jogado no Benfica, fazem-me sentir bem. é lindo. Conto a todos aqui na Argentina como o Benfica é grande.
- Que grande equipa era aquela, não?
- Só tenho coisas boas a dizer de todos: Nuno Gomes, Quim, Rúben Amorim, Fábio Coentrão. Havia argentinos, brasileiros, portugueses, foi tudo muito fácil, havia uma ligação bonita entre toos. Tínhamos um treinador exigente, Jorge Jesus, e um grupo muito unido, puxávamos todos para o mesmo lado, por isso fomos campeões. Dávamo-nos muito bem dentro e fora do campo.
- E havia muitos churrascos?
- Às vezes, sim. Uma vez por semana jantávamos fora com as famílias.
- Pouco depois de chegar estava a jogar contra Ronaldinho, num particular na Luz.
- Esse foi um dia completo. Fiz o centro para o Cardozo marcar, marquei Ronaldinho e marquei no desempate por penáltis. Nunca esquecerei esse dia. Ronaldinho era uma fera, escolhia-o para jogar na Play Station.
- Não ficou muito tempo no Benfica. O que aconteceu?
- Não sei, houve um momento em que o Jesus me disse que não contava comigo, que teria de libertar um lugar de estrangeiro para trazer o Airton.
- Como foi a sua relação com Jesus?
- É um grande treinador, tenho admiração muito grande por ele, ensinou-me muito, conduziu o grupo da melhor maneira. Não quis contar comigo, mas só posso dizer maravilhas dele. Lembro-me de ir bater um penálti e ele, com aquele olhar, perguntou-me: ‘Tens vontade de bater? A sério?’ Com algum medo, respondi-lhe: ‘Sim, sim, mister, fique tranquilo, tenho muita confiança.’
- Como foi a saída?
- Saí satisfeito e com a consciência tranquila porque dei sempre tudo quando joguei. Os adeptos, ainda hoje, têm muito carinho por mim, recordam-me os cruzamentos, os cantos que marcava, apesar dos poucos
jogos que fiz. Saí por decisão do treinador, mas o presidente [Vieira] disse-me: ‘Vai tranquilo porque voltarás, deixa as tuas coisas no departamento de futebol e que pagarei os próximos meses da tua renda de casa.’ Mas Jesus continuou e não quis ficar comigo.
- Fale um pouco dos adeptos do Benfica.
- Quando publico alguma foto nas redes sociais comentam sempre com muito carinho, enviam-me mensagens. É lindo
- Voltou depois a Portugal para o UD Leiria. O clube passava por graves dificuldades financeiras?
- O que se passou foi muito triste. Não pagavam aos jogadores, mas eu recebia porque estava emprestado. Não pagavam aos meus companheiros. Como estávamos emprestados diziam-nos que tínhamos de jogar, num jogo entrámos com oito [contra o Feirense, a 29 de abril de 2012]. Mas, olhe, ainda conheci o Pedro Caixinha, grande treinador.
- Continua a acompanhar o Benfica?
- Sempre. E falo dele aos garotos do Racing.