Espaço Universidade A arte da guerra por Yagyu Munenori (artigo de Vítor Rosa, 184)
Escrito em 1632, “O Livro das Tradições Familiares sobre a Arte da Guerra”, é da responsabilidade de Yagyu Munenori (1571-1646), guerreiro japonês, conselheiro de xogum e chefe de um serviço secreto (comandava os vassalos da família Tokugawa, controlava o castelo de Edo, inspecionava o exercício das funções dos oficiais do governo, vigiava as cerimónias oficiais).
Tal como Miyamoto Musashi, de que aqui já demos conta, viveu no terceiro Governo de Campanha. Yagyu foi instruído nas artes marciais pelo seu pai. Notabilizou-se nas batalhas que travou, reduzindo a pedaços os seus adversários. Teve uma brilhante carreira militar e, no final da sua vida, dedicou-se à escrita.
O livro é composto por três manuscritos: “a espada que mata”, “a espada que dá vida” e “sem espada”. A primeira refere-se à utilização da força para dissipar a violência e a desordem. A segunda representa a preparação para os problemas e a terceira é a capacidade de se utilizar o meio envolvente, ou seja, aprender a evitar ser dilacerado quando não se dispõe de uma espada.
O que Yagyu nos explica é que o uso da espada japonesa tem a sua ciência; desconhecendo-a, provavelmente poderá morrer nas mãos do adversário. É aqui que reside o segredo da sua escola. Para Munenori, “a noção de que a arte da guerra serve apenas para matar pessoas é uma ideia preconcebida. Não serve para matar pessoas, mas para erradicar o mal. Trata-se de uma estratégia pensada para dar via a muitas pessoas, que passa por eliminar o mal de uma só pessoa” (Munenori, 2021, p. 129). No combate deve-se focar o olhar para as mãos do adversário, a curvatura a extensão dos braços, os ombros e o peito, manter a distância e estar em estado de alerta. Para além de todas as técnicas, o estado de espírito é importante, e se o combatente partir para o ataque, sem a devida preparação mental, os movimentos de nada servem.
O objetivo, segundo Munenori (2021, p. 147), é “permanecermos calmos e sossegados num plano mais elevado, ao mesmo tempo que conservamos um estado de espírito agressivo no nosso interior. Estas imagens sugerem serenidade, imperturbabilidade e calma à superfície, por um lado, e um estado de alerta agressivo no nosso íntimo, por outro”. Os mestres das artes marciais devem mostrar desapego das suas habilidades. Observados todos os princípios recomendados por si, porque o ofício militar era da sua família, será considerado um mestre das artes marciais e não um produto comercial.
Referência:
Munenori, Y. (2021): O livro das tradições familiares sobre a arte da guerra. In: Musashi, M. (2021). O livro dos cinco anéis (pp. 121-194). Editorial Presença.
Vítor Rosa
Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa