Espaço Universidade Desporto e lazer: um espelho das sociedades (artigo de Vítor Rosa, 120)
É dado como certo que a industrialização determinou o surgimento do desporto moderno e a sua expansão foi determinada também pelas condições promovidas pelo avanço das técnicas. O século XX foi palco de transformações tecnológicas e sociais, alterando a vida das populações.
No processo de alterações societais, o lazer assumiu um papel importante. A partir de 1980, e consoante os países europeus, o tempo livre tornou-se o tempo de vida mais longo, que ganhou sobre o tempo de trabalho e o tempo requerido a satisfazer as obrigações diversas (sociais, administrativas, higiénicas, familiares, domésticas, etc.). O trabalho não foi destituído socialmente, na medida em que ele continua estruturador e organizador da vida dos cidadãos. É a partir do trabalho que se continuam a se distribuir as temporalidades sociais. O trabalho ritma e determina os modos de vida, dos ativos, bem como dos inativos. É o trabalho que continua a organizar o dia, a semana, o mês e o ano.
etirando a questão profissional, praticantes desportivos e não desportivos procuram aproveitar o lazer. Na sua continuidade, o fenómeno desportivo é inteiramente lazer. É isso que lhe dá sentido e lhe confere a sua especificidade. Sem o lazer, sem o surgimento de uma sociedade de lazeres, o fenómeno desportivo não existe. E se existe, é de outra forma. O tempo livre tornou-se o primeiro tempo de vida nos países desenvolvidos. Uma tendência se afirma, que consiste em compensar um trabalho cada vez mais intenso pelas atividades de lazer com uma intensidade correspondente. Ouve-se dizer que o desporto reclama capacidades físicas. Se é verdade para o nível de alto rendimento, não é verdade para todos os desportos.
A simples saúde permite amplas possibilidades de praticar desporto e o leque de práticas desportivas é tão rico para a diversidade de gostos e de aptidões se possam exprimir. O desporto tem a incomparável faculdade de preencher o tempo livre. Compreender o desporto (ou os desportos), é perceber o sistema de relações que ele tem com a cultura e a sociedade que lhe dá sentido. Na sua multiplicidade, de formas e funções, o desporto escapa a uma clara definição, na medida em que é objeto de um incessante processo de legitimação social.
Vítor Rosa
Sociólogo, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Lisboa