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ENTREVISTA A BOLA Sporting: Edson Valencia, o oposto que está sempre pronto!

VOLEIBOL15.03.202508:00

Adversários e companheiros reconhecem-lhe a qualidade que o levou aos Jogos Olímpicos, mas o oposto do Sporting garante que é o mesmo que há seis anos chegou a Portugal longe de imaginar as voltas que a sua vida ia dar

- O Sporting despediu-se das competições europeias de cabeça erguida, nas meias-finais, frente a um adversário claramente superior. Como foi esse percurso europeu?

 -  É sempre muito bom poder participar num momento como este. Creio que podemos dizer que estamos muitos satisfeitos. Porque fizemos um esforço muito grande, como equipa e também pessoal. Sabíamos do compromisso que tínhamos e isso é sempre o principal. Claro que o nosso desejo é tentar ser campeão em qualquer competição. Mas também conhecemos as qualidades e capacidades das equipas que estão a este nível. E, repito, chegar às meias finais não é contentar-se com não ganhar. Acho que conseguimos mostrar o nível que temos como equipa a nível europeu. E a realidade é que apesar da evolução, as equipas portuguesas, ainda estão um pouco atrasadas em relação a alguns campeonatos, como o polaco ou o italiano.

- Mas, desde que aqui chegou, sente que o campeonato nacional está melhor, mais competitivo?

- Sim, sim. Estou aqui há cerca de seis anos e sinto que todos os anos, crescemos um pouco mais, evoluímos. Este ano, por exemplo, não sabíamos, até à última jornada da primeira fase, quais as equipas que iam estar nos play-offs. É um bom campeonato, está a crescer e eu gosto muito disso porque a competitividade é muito grande, mesmo, por exemplo, com equipas que estão no oitavo lugar na tabela. E é difícil ganhar esses jogos!

- Prefere um campeonato assim do que uma prova em que ganha simples, fácil?

- Sim, claramente. Por exemplo, eu fui jogar o campeonato em Israel, onde há muitas equipas com um nível muito diferente. Podíamos ganhar 25-5 ou 25-7. Chega a um momento em que falta a competitividade, cresce esse desejo. E quando é mais difícil, por instinto, vamos com mais luta, com mais força. Não sei se todos os jogadores gostam que seja difícil, mas a nível pessoal, adoro que seja. Quanto mais difícil, melhor. Sinto-me mais satisfeito.

Edson Valencia, quer ser campeão nacional com os leões. Foto CEV
Edson Valencia, quer ser campeão nacional com os leões. Foto CEV

- Imagino, tendo em conta isso, que acabar com uma série de vitórias do Benfica na Liga, seja agora o seu único foco. Esse sim será um grande desafio, não?

- Gosto de desafios. Sei que não será fácil alcançá-lo, mas não é impossível. Estamos muito focados nos treinos, independentemente das situações boas e más que acontecem. O foco é o mesmo. E essa luta pelo campeonato, acontece a nível geral, toda a equipa, o staff, estamos todos muito focados nisso. E a nível pessoal. estou aqui há muitos anos, e em algumas ocasiões estive tão perto, que tenho essa convicção, essa fome de vencer. A nível pessoal, é realmente algo que quero muito, ser campeão.

Carrego o nome deste clube, a sua história, a sua ambição. É uma enorme responsabilidade, mas muito, muito gratificante. Isto não é só chegar ao Sporting. É chegar ao Sporting e dar tudo.

 - E a época começou bem, com um troféu que o Sporting não conquistava há mais de 30 anos.

- Dois, mas um era inédito. Mas o outro sim. Desde o início que estamos cheios de energia e bons sentimentos.

- E agora vai jogar na casa do Vitória de Guimarães, onde tudo começou em Portugal...

- Nem sei como dizê-lo. Há muitos sentimentos neste campeonato. Agora estou numa equipa com uma estrutura boa, com muitas coisas, Mas é muito importante ter passado por outras antes de voar a partir deste ponto. É realmente muito gratificante.

- Mas Guimarães está no seu coração, não?

- Sim, porque foi o começo. Já tinha estado na Europa, mas não imaginava que ia ficar em Portugal tantos anos. E isso leva-me de volta aos primórdios... Foi assim que tudo começou. Vou ao Vitória e passam-me tantas coisas pela cabeça... Foi ali que tudo começou.

Tive sorte porque Guimarães é uma cidade muito bonita, as pessoas têm uma sensação de pertença muito grande, porque ali nasceu Portugal, graças ao D. Afonso Henriques, a toda a história de uma nação. Sei tudo, ouvi isso milhares de vezes [sorri].

- E como foi parar a Guimarães?

- Foi por causa de um amigo, um companheiro de equipa, que nessa altura jogava como defesa-central. Estavam mais ou menos a meio do campeonato, eu estava na Venezuela. Na época, não estava a jogar. Ele lesionou-se, ligaram-me e disseram: «Edson, está pronto?» E eu: «Claro, estou sempre pronto!» [risos]. Isso é uma coisa que está sempre na minha cabeça. Se estou bem, estou pronto. Respondi que sim e disseram-me que precisavam que viajasse logo, porque ele estava lesionado. E eu respondi: «Ok». Uma semana depois já tinha os bilhetes e viajei. Nunca tinha estado em Portugal [risos].

Edson Valencia chegou há seis anos e foi jogar para o V. Guimarães. Foto CEV
Edson Valencia chegou há seis anos e foi jogar para o V. Guimarães. Foto CEV

- Nem fazia ideia do que ia encontrar?

- Nada, nada. Tinha alguns amigos que já tinham jogado cá, mas nada mais. Sabia que eles gostavam, apenas isso. Tive sorte porque Guimarães é uma cidade muito bonita, as pessoas têm uma sensação de pertença muito grande, porque ali nasceu Portugal, graças ao D. Afonso Henriques, a toda a história de uma nação. Sei tudo, ouvi isso milhares de vezes [sorri].

- Qual foi o maior choque que teve? Foi com a língua?

- Sim, claramente com a língua. Porque pensei que ia perceber português. E foi a minha última preocupação. Sou venezuelano, perto do Brasil, achamos que entendemos tudo. Mas é mentira [risos]. Não percebia nada. Quando cheguei e começaram a falar comigo, só dia. «Tudo bem, tudo bem» [risos], mas não percebia nada do que me diziam. Esse foi o primeiro impacto que eu realmente tive, foi a língua. A nível desportivo, costuma ser semelhante, já foi mais fácil. Claro que sabemos que vai demorar algum tempo para nos adaptarmos ao grupo, à equipa. Cada equipa tem sua própria maneira de trabalhar, mas acaba por ser uma questão de tempo.

- Agora, está no Sporting, depois de várias reviravoltas, num patamar diferente e está a correr bem, tirando a Taça de Portugal.

 - Sim. Está realmente a correr muito bem. Muito bem. Estou no Sporting, feliz e com muita ambição. Mas sou o mesmo Edson do Guimarães, do Viana. Às vezes, há camaradas que me perguntam coisas e até fico meio sem jeito. Porque sou mais experiente, talvez, porque a época corre bem, mas eu sou o mesmo. Não mudei, os amigos serão sempre amigos. Às vezes pedem-me camisolas e até fico sem jeito. Há alturas em que tenho de parar e pensar: ‘Eu estou mesmo aqui, depois de tudo e tanto que passei. Depois de todo este percurso, estou num clube enorme, a lutar para ser campeão e há pessoas que me admiram. Carrego o nome deste clube, a sua história, a sua ambição. É uma enorme responsabilidade, mas muito, muito gratificante. Isto não é só chegar ao Sporting. É chegar ao Sporting e dar tudo. Olhar para aquelas pessoas que estão na bancada, que sabem que eu sou, que sabem o nome e retribuir aquele carinho, aquele apoio. Isto sim, é um desafio psicológico e físico.

Equipa de voleibol festeja com os adeptos mais uma conquista. Foto CEV
Equipa de voleibol festeja com os adeptos mais uma conquista. Foto CEV

- E altera alguma coisa?

- Nada. Os treinos são como os jogos. Treino como se estivesse a jogar nas meias-finais ou algo assim. Porque sei que na hora do jogo toda a gente está à espera que eu consiga o ponto. E, às vezes, a bola fica maior, o campo fica maior, há um monte de sensações que acontecem lá dentro. E quando sabes que estamos a perder 23, 24, e a bola vem para ti, e se você não fizeres o ponto perdes… Ah, aqueles tambores a soar, o som do coração acelerado… A bola está a vir, chega, é espetacular. Sim, porque para mim, voleibol é mais do que voleibol. Eu não sei muitas coisas, mas na minha cabeça dentro do campo, só consigo pensar na bola a não bater no nosso campo e a fazer o ponto do lado oposto. E há tantas emoções que conseguimos oferecer. A felicidade que cada ponto dá. Cada ponto tem como que uma história que só se percebe nesse momento. Às vezes, chego a casa e estou a olhar para algumas fotografias e não vejo a bola nem o campo, mas tento ver a bancada e há pessoas que até choram. É uma coisa incrível, por isso é que nunca deixa de ser percepcionado, emocionante, nunca deixa de ser satisfatório, porque quer seja um ponto contra uma equipa, que em teoria está muito perto, seja contra uma que está mais longe. As pessoas vibram da mesma forma, as pessoas adoram cheirar um ponto, ver um ponto, sentir o ponto não importa com quem seja, elas sentem o ponto.