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ENTREVISTA A BOLA «Dormia calçado, com o passaporte num bolso e dinheiro no outro para poder fugir a qualquer altura»

VOLEIBOL15.03.202512:00

A presença nas competições europeias com os açorianos da Fonte do Bastardo valeu a Edson Valencia (agora na equipa de voleibol do Sporting) uma proposta irrecusável de Israel, mas o pesadelo não tardou a acontecer

- Como é que se passa da calma das ilhas açorianas para a loucura que foi a passagem por Israel?

- Da primeira vez estive lá uma semana [risos]. Ofereceram-me um contrato que não podia recusar. O campeonato israelita não é melhor do que o campeonato português, mas financeiramente era um salto muito grande, já não era novo e precisava de pensar no futuro da minha família. No último ano no Bastardo as coisas estavam a correr bem, muito bem, jogava como oposto e nas meias-finais das competições europeias jogámos com o Maccabi. Fomos lá jogar, pavilhão cheio, um ambiente espetacular e as coisas estavam a correr-me bem nessa época. Não sei se fiz mais de 30 pontos, creio que sim, e uma percentagem muito grande de eficácia. O diretor abordou-me disse logo que queria que fosse para lá. Insistiu várias vezes e eu disse sempre que não. Até que uma vez ele disse: ‘Edson, diga o que quer’. Já era difícil dizer que não, não tinha como recusar mais, começaram as negociações e acabei por ir.

Fui espreitar à porta porque ouvia muito barulho nas escadas. É quando vejo toda a gente a correr apressada, uns vestidos, outros de pijama, com crianças, escada abaixo. Peguei nas chaves e fui atrás. Nem sabia o que era um bunker

- Tudo perfeito aparentemente.

- Sim, Israel é um país lindo, vivia em Tel Aviv, boas condições. Tudo para correr bem. Só que, ao fim de uma semana, rebenta a guerra! Estava tranquilamente deitado, no sofá, descontraído, quando começaram a tocas as sirenes. Eram umas seis da manhã. Confesso que nem liguei, pareciam os bombeiros, às vezes acontecia nos Açores. Mas aquilo não parou e eu pensei que devia ser algum incêndio ou sei lá o quê. Voltei a dormir. Passados uns 10 minutos, outra vez. Já me pareciam demasiadas sirenes, levantei-me fui à cozinha beber água e começo a ouvir muito barulho. Pensei: ‘O que será?!’ Fui espreitar à porta porque ouvia muito barulho nas escadas. É quando vejo toda a gente a correr apressada, uns vestidos, outros de pijama, com crianças, escada abaixo. Peguei nas chaves e fui atrás. Nem sabia o que era um bunker. Fui apenas atrás dos vizinhos. Quando chegámos ao rés do chão do prédio, abriram uma pequena porta e havia mais uns dois ou três andares para baixo. Pensei: ‘O que é isto?!’ E lá fui eu, atrás deles. Começaram os rockets e o alvoroço. A partir daí isto passou a ser diário. Começou a guerra. Logo agora que eu tinha finalmente um bom contrato! A sério?! Ao fim de uns dias, tive de falar com a equipa. Já nem conseguia dormir. Dormia com o passaporte num bolso, dinheiro no outro, vestido, calçado, todo encolhido, à espera de ter de sair a correr. Era um inferno.

Sporting: Edson Valencia, o oposto que está sempre pronto!

15 março 2025, 08:00

Sporting: Edson Valencia, o oposto que está sempre pronto!

Adversários e companheiros reconhecem-lhe a qualidade que o levou aos Jogos Olímpicos, mas o oposto do Sporting garante que é o mesmo que há seis anos chegou a Portugal longe de imaginar as voltas que a sua vida ia dar

- Regressou a Portugal, mas mais tarde voltou a Israel

- Consegui regressar a Portugal, num voo comercial. Mais tarde voltei e habituei-me às sirenes, às descidas rápidas para o bunker e com o tempo as coisas foram normalizando. No início parávamos os treinos, descíamos umas 20 vezes por dia, mais tarde já era só umas duas. Depois continuávamos. Conseguimos acabar o campeonato, e ganhámos tudo. Antes disso, emprestaram-me a uma equipa francesa [Narbonne]durante dois meses, depois tudo mais tranquilo, e foi bom.

João Coelho, treinador da equipa de voleibol do Sporting. Foto CEV
João Coelho, treinador da equipa de voleibol do Sporting. Foto CEV

- E depois João Coelho convenceu-o a regressar.

- Pois foi, mas não foi fácil, na verdade. Financeiramente a realidade de Israel é muito diferente da portuguesa e eu já tenho 38 anos.

- 37?

- Sim, mas este ano faço 38. Certo, é só em dezembro [risos], mas este ano já vão ser. A minha ideia era aproveitar o resto da carreira num campeonato atraente, talvez menos exigente, é certo, mas com mais benefícios financeiros. Mas o João Coelho conhece-me, começou a falar comigo, e conseguiu tocar-me naquela parte sensível… Ele sabe que gosto de competir, muito, e que tenho um sonho por realizar que é ser campeão. Ele sabe como eu pensa e em muitas coisas é parecido e lá me convenceu. Estou a dizer isto, mas não me arrependo nada. Quando eu tomo uma decisão, está tomada e é sempre a melhor decisão. A partir do momento em que está tomada, não volta a dar. É a minha, a melhor e para ir até ao fim.