«Perder e vir dizer que em Portugal deveria ser assim ou assado cheira sempre a desculpa»

«Perder e vir dizer que em Portugal deveria ser assim ou assado cheira sempre a desculpa»

BASQUETEBOL17.12.202312:56

PARTE 4 - Na entrevista concedida a A BOLA Luís Magalhães recorda igualmente o regresso do Sporting às competições europeias de basquetebol e o que isso provocou, o tempo em que fez algo inédito à frente da Ovarense, e é desadiado a dar ideias de medidas que implementaria para a judar a formação e a modalidade a crescer

- Quando foi para o Sporting marcou também o retorno do basquetebol português às competições europeias. Olhando para trás, foi bom esse regresso? Sei que fez uma certa pressão para que acontecesse - depois Benfica e FC Porto fizeram o mesmo -, e até chegou aos quartos de final da Taça Europa.  

- Mas não foi preciso fazer pressão nenhuma. O Sporting é um clube com grande carisma e que, normalmente, entra em todas as competições, com as suas limitações é claro. Sabíamos que íamos para a 4.ª Divisão europeia, onde o basquete português nem sequer entrava. A Oliveirense havia sido campeã em duas ocasiões e creio que tentou entrar uma vez e não conseguiu. Depois desistiu.

A federação não apoiava, no primeiro ano todos os clubes tinham prejuízo grande. Tínhamos conhecimento de que os Estado apoiava a federação com muito dinheiro e os patrocínios eram grandes, fizemos muita pressão – eu pessoalmente e o Sporting – para que passasse a apoiar devidamente as competições europeias, o que, felizmente, veio a acontecer. Não devidamente, mas muito melhor. No início davam uma esmola e o que se vê é que mudámos a mentalidade. Tal como da primeira vez.

Fotografia ASF

Um dos feitos que tenho e pouca gente fala foi que a primeira equipa portuguesa a passar uma fase inicial de uma competição europeia foi a Ovarense, há quase 40 anos. Até então toda a gente entrava para ganhar experiência e ficava satisfeita por perder por poucos. Mudámos essa mentalidade. Se é para entrar é para vencer, para lutar até ao fim e não adquirir experiência. Incutimos isso nos jogadores e a Ovarense passou. Na altura havia uma tremenda fase de grupos de seis ou oito equipas com viagens a toda a hora e passámos essa fase, numa das ocasiões eliminados pela Jugoplastika por 6 pontos.

E depois deste marasmo todo em que a federação rebentou com o basquetebol ninguém entrava nas competições europeias, o Sporting veio dar essa força. Não só com a sua participação, mas com uma presença para lutar pela competição. Mais uma vez convencemos os jogadores de que era possível e depois de uma primeira época em que fomos prematuramente eliminados, havia covid e nem consegui ir a alguns encontros. 

Na segunda entrámos bem e chegámos onde nenhuma equipa portuguesa havia chegado. Demos o exemplo que era possível fazer alguma coisa nas provas europeias e estivemos muito perto de passar às meias-finais e quem acabou por vencer foi a equipa que se viu aflita para nos ganhar. 

- Não sei se ouviu ou leu as críticas do treinador do Benfica Norberto Alves esta semana após o jogo contra o Galatasaray em que reclamou que os clubes nas competições em Portugal também deviam poder utilizar sete estrageiros como nas provas da FIBA, em vez de cinco, e que essa proibição não está a proteger o basquetebol nacional. Concorda com ele?    

- Acho que devemos dar ideias e defendê-las longe das competições. Perder e vir dizer que em Portugal deveria ser assim ou assado cheira sempre a desculpa e não gosto desse tipo de afirmações. As pessoas devem discutir e criar condições nos sítios próprios para o fazerem com os colegas. Antigamente existiam fóruns onde se debatiam as ideias. Mas não assim, após perder. Esteve a ganhar até ao intervalo, depois correu mal e esteve em desvantagem por 24, e então é que se diz que em Portugal deveria ser desta ou aquela maneira. Não se deve distrair as pessoas com isso, deve-se assumir as derrotas, como as vitórias, normalmente. Nem gosto de comentar esse tipo de coisas porque dá ideia que é uma desculpa esfarrapada para estar a desviar uma coisa da outra. 

- E quais seriam, digamos duas medidas, que criaria para proteger o basquetebol português?

- A primeira era lutar para criar um canal de televisão. Tenho o nome e tudo, era o CanalBol, do voleibol, andebol e basquetebol. Conteúdos tinha e era uma forma de divulgar essas modalidades. Dar-se-ia passos em frente. 

Não me lembro o nome dele, mas houve um presidente da ANTB que, de repente, foi convidado pela federação para ser vice-presidente e a associação ficou acabada.

A segunda, criar um espírito de mérito. Quem o tivesse é que teria mais oportunidades, não é por amizades nem por fazer parte do polvo, não no sentido de máfia, mas das amizades e do controle das situações. Há uns tempos a ANTB [Associação Nacional de Treinadores de Basquetebol] mandava umas bocas. Sempre foi uma associação de intervenção, que defendia os treinadores e o basquete, e hoje em dia não se vê nada disso. Não me lembro o nome dele, mas houve um presidente da ANTB que, de repente, foi convidado pela federação para ser vice-presidente e a associação ficou acabada.

Fotografia Sérgio Miguel Santos/ASF

O então diretor do árbitros Tozé Coelho, que era uma pessoa competentíssima, sem ninguém poder atacar, foi um excelente árbitro internacional e talvez uma das poucas pessoas que estava na federação por mérito, acabaram por afastá-lo por pressões.

«O desafio que me poderia fazer voltar era o de ser selecionador»

17 dezembro 2023, 01:55

«O desafio que me poderia fazer voltar era o de ser selecionador»

PARTE 1 - Sporting e FC Porto discutem, este domingo (15h), a liderança da Liga e A BOLA conversou com Luís Magalhães, treinador campeão pelos dois. Sente-se bem na reforma e em Portugal só um desafio o faria regressar, mas diz que não com esta federação. Esta é uma primeira parte da longa entrevista do mais titulado técnico do basquetebol português, que, bem ao seu estilo, não poupa palavras e críticas

A associação nacional de juízes, ANJB, também era interventiva, mas depois de ter acontecido aquele caso do FC Porto, em que quis tirar dois árbitros e fazia faltas de comparência... Eram dois árbitros portugueses, chefes de família que dedicaram a vida inteira ao basquete, andavam a ser maltratados por pessoas que nem conhecíamos na modalidade. Acho que quem estava à frente do FC Porto era do hóquei em patins ou coisa que o valha e mais outras pessoas que não se conhece de lado algum, criaram uma guerra e uma grande fita.

Fotografia Paulo Esteves/ASF

A ANJB, havia exemplos anteriores, em que se recusavam a apitar encontros daquele ou outro clube, mas aqui foi tudo pacífico. Continuaram a apitar, tudo normalizou. O então diretor do árbitros Tozé Coelho, que era uma pessoa competentíssima, sem ninguém poder atacar, foi um excelente árbitro internacional e talvez uma das poucas pessoas que estava na federação por mérito, acabaram por afastá-lo por pressões. Não pode ser. Assim não vamos a lado nenhum. 

Aqui é apoios para a federação, os clubes pagam, pagam, pagam e não recebem nada.

Outras das coisas que se devia fazer era criar um organismo dentro da federação de apoio aos clubes. Nas Premiere League as equipas que descem de divisão têm um apoio financeiro para que a queda não seja tão grande e quem sobe também recebe apoio para que não tenha uma décalage tão acentuada e consiga estar ao nível dos outros. Aqui é apoios para a federação, os clubes pagam, pagam, pagam e não recebem nada.

Para o desenvolvimento dos jogadores seria criar uma bolsa de mérito, em que os atletas que tivessem qualidades de virem a ser bons basquetebolistas, quer raparigas como rapazes, poderem, através de um protocolo com duas ou três universidades americanas, mandá-los para lá fazerem parte da formação com aquela experiência e regressarem com melhores capacidades de enriquecer o basquete português. 

«Fico zangado a ver o Neemias nos Celtics»

17 dezembro 2023, 08:32

«Fico zangado a ver o Neemias nos Celtics»

PARTE 2 - Na longa entrevista que deu a A BOLA Luís Magalhães conta que não percebe porque o poste português não joga mais nos Celtics pois já provou ter valor, mas entende que, se calhar, o treinador é a pessoa da equipa de Boston que tem menos estatuto