Pedro Sousa: «Despeço-me em casa e onde casei»
Pedro Sousa joga no Lisboa Belém Open o último torneio da carreira. Ex-99.º mundial defronta, esta terça-feira, o francês Droguet. Quer adeus sem alarido, só a tempo de poder ver o Benfica em Milão
É com o mesmo semblante e passada descontraídos de sempre que Pedro Sousa vai tentar entrar hoje no court principal do Clube Internacional de Foot-Ball (CIF) para jogar frente ao francês Titouan Droguet (170.º ATP) aquele que poderá ser o último da carreira em singulares.
Foi no centenário clube que o tenista de 35 anos deu os primeiros passos e pegou numa raqueta por intermédio dos pais Manecas – assim é conhecido Manuel Sousa que dirige as escolas da agremiação – e Graça, antigos jogadores que encetaram uma tradição que o ex-99.º mundial manteve quando, em 2021, se casou num dos campos do Restelo com o filho mais velho, Manuel de três anos, entre os convidados. Agora também terá Caetana, a mais nova, a ver o progenitor jogar profissionalmente pela última vez no Del Monte Lisboa Belém Open.
«Nem sei bem o que esperar desta semana. Tenho tentado que seja o mais normal possível. Claro que tem sido diferente até porque o clube está cheio de gente, mais movimentado. Tenho mais gente com quem me treinar. De resto, tenho estado com os meus amigos, os meus filhos e treinado para ver se estou em condições», desdramatizou Pedro Sousa, já no CIF, em conversa com a A BOLA.
«Aqui é quase a nossa casa, mesmo para os meus filhos já é a casa deles. O Manel é completamente viciado em ténis, quer vir para o CIF todos os dias, ao domingo à tarde obriga-me a vir para jogar ténis. É giro, porque passa de geração em geração. Passou do meu pai para mim, de mim para eles. É um ponto de encontro da família. Os mais novos já seguem a tradição. É especial e fazia sentido acabar aqui a carreira. Tenho muitas memórias deste espaço, a mais particular a do meu casamento aqui com a Carocha, tal como os meus pais fizeram. Despeço na casa onde casei», resumiu.
Sem jogar desde maio, quando exibiu no Jamor o bonito ténis que lhe granjeou o cognome de Talentoso ao longo dos anos, durante os quais conquistou oito títulos de nível challenger, tal como o deste torneio no CIF, e nove futures, além da final do ATP de Buenos Aires (2022) que coloca lado a lado, em termos de importância, com a participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.
«A ideia do final da carreira já estava consolidada, a parte mais difícil já passou até tomar a decisão, até passei mal por causa disso. Acho que já superei. Mentiria se dissesse que, há um ou outro dia, em que a dúvida surge ou bate aquela saudade. Mas faz parte da vida e algum dia tinha de ser», referiu Pedro Sousa, reconhecendo que ainda não largou a raqueta.
«Joguei Interclubes em agosto, o Gastão [Elias] esteve aqui no CIF muito tempo, treinei com o João [Sousa] bastantes vezes quando ele esteve lesionado, também fui ao CAR [Jamor] treinar com o Nuno Borges e com os miúdos. Tem dado para descansar e, ao mesmo tempo, para manter-me em forma. Pude treinar até com mais prazer do que antigamente», admitiu o jogador que não escondeu o peso que a paternidade teve na decisão de findar a carreira marcada igualmente por lesões sucessivas.
Sobre o futuro, o descontraído Pedro não quer revelar muito. «Não tenho nada de concreto, apenas algumas coisas faladas. Nada fechado, até porque ainda vou jogar esta semana, mas será sempre ligado ao ténis, não faria sentido que fosse de outra forma», asseverou com a mesma paixão que vota ao seu Benfica, cujo hino fez ecoar em Itália quando conquistou o primeiro título challenger em 2017.
«Ah, pois foi em Francavilla! Ganhei o torneio e pedi para porem o hino, além do manto sagrado que me acompanha para todo o lado. Para esta semana, não tenho nada do género programado, aliás não espero grandes alaridos. Mas já que [esta terça-feira] o meu Benfica está na Champions, pedi para não jogar muito tarde. Não posso correr o risco de não estar despachado a tempo. Não quero fazer um toilet break», brincou o internacional, chamado 19 vezes à Seleção da Taça Davis, remetendo a uma ida ao balneário numa das edições do Estoril Open para saber o resultado do clube que jogava ao mesmo tempo.
«Aceitei jogar pares com um coxo»
As brincadeiras entre Pedro Sousa e Gastão Elias já vêm de longe e não se esbateram com a rivalidade no court. Fora dele lisboeta e lourinhanense são amigos e até padrinhos de casamento um do outro. Por isso, por muito que queira manter-se discreto esta semana, Sousa não dispensou a presença de Elias a seu lado e com uma provocação, pois claro.
«Era para ter escolhido parceiro melhor, mas por ser o último torneio da carreira lá aceitei jogar com um coxo. daqueles é capaz de ser difícil ganhar um jogo, mas vamos tentar fazer algo», brincou Pedro Sousa sobre o parceiro com o qual vai defrontar na 1.ª ronda o par formado pelo italiano Marco Bortolotti e romeno Alexandru Jecan. «Estava apalavrado há muito tempo... Infelizmente um dos meus últimos encontros vai ser ao lado dessa pessoa [risos]. Somos amigos desde sempre, foi com ele que cheguei aos quartos de pares juniores em Wimbledon. Não podia ser de outra forma», rematou.