O balanço do ano que agora termina
'Poder da palavra' é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, antigo árbitro internacional
Gosto de fazer balanços de final de ano. Ajuda-me a recordar momentos importantes e a projetar o futuro na esperança que o que aí vem seja melhor do que o que ficou para trás. É fundamental focar energias em coisas boas para que boas coisas aconteçam.
O que agora mora no passado é uma lição a guardar religiosamente, porque só a soma dessas memórias (boas e menos boas) permite-nos evoluir e crescer. Não é demagogia nem discurso para inglês ver. Acredito sinceramente que somos um processo inacabado, a soma constante das nossas vivências, de tudo o que aprendemos, vemos, ouvimos e sentimos a cada momento. É isso que molda a nossa personalidade, a nossa forma de ser e de estar. É isso que nos transforma hoje naquilo que seremos amanhã.
Em 2024 tive a felicidade de viver excelentes momentos a nível pessoal, acima de tudo porque não houve partidas prematuras, despedidas amargas, incidentes marcantes. A vida foi vida, pois claro, mas de um modo geral eu e todos os que me são próximos passámos um ano com saúde, alegria e bem-estar, o que é o maior de todos os privilégios. Sou um sortudo e estou grato por isso.
Profissionalmente mantive o rumo de anos anteriores. Continuei a minha colaboração com o Grupo Impresa (SIC Notícias, Tribuna e Expresso), mantendo também relação próxima com esta casa, onde analiso as incidências técnicas de vários jogos por jornada, além de escrever semanalmente neste espaço de opinião. Tenho ainda a felicidade de ser Embaixador da Ética Desportiva do PNED/IPDJ, o que me leva a participar em palestras, colóquios e ações de formação um pouco por todo o lado.
Já a menina dos meus olhos, o Projeto Kickoff, continua ativo e focado no seu grande objetivo, que é o de tentar humanizar o papel do árbitro, explicando regras, analisando lances e esclarecendo situações de jogo, sem laivos de corporativismo nem discurso bélico. Pragmatismo, frontalidade e pedagogia na escrita, ainda que ela seja do desagrado de árbitros, clubes, adeptos ou comentadores. Acredito que essa linha de intervenção, a da equidistância de tudo e todos, credibiliza um trabalho muito difícil de executar e manter.
Hoje o meu Kickoff está em todas as redes sociais, com mais de 200 mil seguidores. Tenho orgulho (e uma pontinha de vaidade) em afirmar que todo o seu conteúdo — orgânico e sem apoios/parceiros — é realizado apenas e só por mim. Cansa, às vezes tira-me do sério, é certo, mas dá um gozo tremendo.
No ano que agora termina tive também a oportunidade de visitar várias escolas, clubes, associações desportivas e universidades para falar com os jovens sobre leis de jogo, ética e valores no desporto. Foram também muitos os quilómetros percorridos de norte a sul do país para participar em fóruns organizados por autarquias, federações, núcleos de árbitros ou empresas, onde quase sempre se falou de desporto como motivador de massas e garante de boas práticas.
Por decisão do Sr. Secretário de Estado do Desporto deste governo constitucional deixei de ser Membro do Conselho Nacional do Desporto, papel que tentei cumprir, de forma neutral, com orgulho, entusiasmo e profissionalismo. A vida é feita de ciclos e sempre que uns se encerram, outros começam (é cliché porque é mesmo verdade).
Pelo meio, muitas outras coisas feitas e tantas mais por fazer.
O que espero é que 2025 seja um ano ainda mais completo, para mim e para todos nós. Gostava que o mundo não parecesse um lugar tão perigoso e que as pessoas conseguissem equilibrar mais as suas ideias e posições, distanciando-se de polarizações que tendem a criar divisões e caos. Queria que o bom senso prevalecesse em todas as circunstâncias, sobretudo nas mentes, mãos e corações de quem tem verdadeiro poder. Por cá, espero que continuemos a ser um cantinho bem guardado, distante das atrocidades que acontecem todos os dias, um pouco por todo o lado.
Tudo o resto virá por acréscimo e, havendo saúde mental, física e emocional, o céu é o limite. Bom ano para todos! Vamos a eles!