Neemias: «Ainda jogo peladinhas com os amigos»
Fotografia João Moreira/Hoopers

Neemias: «Ainda jogo peladinhas com os amigos»

BASQUETEBOL14.08.202409:05

Poste dos campeões quer dar oportunidades que nunca teve, contou como foi conhecer Abel Ferreira, marcar penáltis ao Palmeiras e reunir com os Celtics

— Tendo este campo de treino para jovens um objetivo que tinha, o que é que ele lhe dá pessoalmente?

— Gosto deste tipo de iniciativas porque dá para retribuir aos mais jovens no local onde crescestes e que jogam basquetebol e que possam ver nisto como uma boa chance para melhorarem o seu jogo.

— E estes minutos fazem-no recordar o Neemias que andava quilómetros com uma bola para ir treinar no inverno e vinha tarde para casa apanhando boleia dos pais dos seus colegas? Esses sonhos que então tinha reflete-os também neles?

— Sim, isto de andar com jogadores jovens cria-nos um bocado de nostalgia porque faz-nos recordar um bocado o que eu passava naqueles tempos. Alguns destes jovens têm um físico bastante semelhante ao meu naquela altura. Diria lingrinhas, magrinho, que tinha um sonho, trabalhava para ele, mas que então não tinha muito jeito para jogar. No entanto, com muito trabalho e dedicação cheguei até aqui. Espero poder dar-lhes um bocado da visão do que eu era naqueles tempos e também que eles não estão assim tão longe do seu sonho.

Fotografia João Moreira/Hoopers

— Foram tempos difíceis para si nessa altura, essa necessidade de superação pela qual passou, dificuldades de deslocação para os treinos, de ter de crescer também fisicamente? Olhando para trás, foi a sua ambição que o fez chegar onde está hoje?

— Sim, foram obviamente temos difíceis, mas acho que tive sempre boas pessoas do meu lado que me ajudaram a manter a cabeça tranquila e a saber que tudo o que faças tens sempre possibilidade de vir a ser melhor. Que quanto mais trabalhares, mais à vontade ficarás neste tipo de ambientes e isso é melhor para ti. Isso foi crucial para mim.

Hoopers

— Na última semana e meia, tem viajado entre continentes: saiu de Portugal para o Brasil, daí para os Estados Unidos, está de volta a Portugal, mas já quase a regressar de novo a Boston. Conte-nos um bocado sobre os cinco dias que esteve em São Paulo, com o Hoopers, e como foi conhecer o Abel Ferreira e o Palmeiras, o seu clube brasileiro predileto?

— Foram dias muito bons, deu para conhecer um bocado do Brasil, país muito bonito. Gostei imenso. Também conheci o Abel, uma pessoa muito boa, que permitiu-me puxar um bocado do seu pensamento. É um treinador bastante inovador, que faz coisas de maneira diferente. Posso dizer que foi uma experiência mesmo top. Cheguei um bocado cansado dessas viagens todas, mas vale sempre a pena.

Hoopers

— Sei que nos cinco penáltis que rematou contra o guarda-redes do Palmeiras [Weverton], marcou três. Mas que só falhou porque não tinha chuteiras...

— É verdade...

Hoopers

— Como é, aquele menino também gostava de jogar futebol, continua dentro de ti?

— Sim, ainda jogo peladinhas com os meus colegas. Costumamos ir jogar aos sábados à noite ou noutro dia durante a semana. Depende dos horários todos, mas ainda tento dar uns toques.

— Esteve nos Estados Unidos porque foi ao casamento do Payton Preatcher, talvez o maior criador de assistências para que marque pontos. Alguém que funciona muito bem consigo no campo. Estava lá grande parte da equipa. Depois da união que tiveram quando foram campeões, o que sentiu ao rever esses jogadores todos desde a parada do título e quando, dentro de dois meses, voltarão a reunir-se nos treinos?

— Deixou-me com saudades e ansiedade para que voltemos a estar juntos de novo. Temos um grupo que se dá muito bem. A conexão manteve-se. A partir do momento em que chegámos começámos todos a conversar sobre o que temos vindo a fazer no verão ou como têm sido as férias. Estamos todos com muita vontade de regressar ao trabalho porque gostamos de estar uns com os outros, e acima de tudo, porque irá ser um ano muito competitivo. E que este seja ainda melhor.

— Conversaram do que têm feito nas férias, mas falaram do futuro: temos de ser campeões outra vez?

— É o objetivo.

Neemias Queta com o trouféu de campeão da NBA (A Bola)

— Três colegas seus — Jayson Tatum, Jrue Holyday e Derrick White — estiveram na seleção dos Estados Unidos. Teve a oportunidade de ver jogos e o que é sentiu por terem sido campeões olímpicos?

— Muito orgulho neles. Como sabe, não é nada fácil ser campeão, quer seja em Portugal, nos Estados Unidos ou olímpico. Tem de se passar por muitas adversidades e eles passaram por elas e saíram por cima porque são jogadores que já ganham há muito. Jogam basquete ao mais alto nível com os melhores do mundo há bastante tempo. Creio que houve muita superação terem ido para lá e jogar daquela maneira. Só espero que tenham desfrutado.

— É um dos estrangeiros na NBA e os Jogos Olímpicos mostrou uma coisa: o resto do mundo está cada vez mais perto do nível da NBA. Também tem essa ideia, o mundo está cada vez mais perto a nível das seleções de se bater com os jogadores dos Estados Unidos?

— Diria que sim. Acho que é a progressão natural do desporto. A partir do momento em que o basquetebol foi globalizado, muito mais gente começou a jogar desde criança, quer seja nas escolas, na rua ou nos clubes. A partir daí cria-se um nível competitivo mais ambicioso. Diria que isso foi fundamental para esse crescimento nas seleções internacionais.

Neemias «com olhos de missão» no seu primeiro campo de treinos  

13 agosto 2024, 17:51

Neemias «com olhos de missão» no seu primeiro campo de treinos  

Poste dos Celtics é o anfitrião de um campo, em Carcavelos, para jovens basquetebolistas e quer ajudar a modalidade a crescer em Portugal. Conta que é dificil passar despercebido em Portugal por causa dos seus 2.13m, recorda a parada dos campeões pelas ruas de Boston e terá a família ao seu lado quando for receber o anel do título.

— Pergunta, não sei se é fácil, Jaylen Brown devia ter ido às seleção dos Estados Unidos?

— Para mim sim, sem qualquer dúvida.

— É difícil perceber porque é que um MVP dos Finals não esteve na seleção?

— Sim. É difícil, mas acaba sempre por poder ser discutível. Penso que o Brown devia ter lá estado, mas eles lá tiveram as suas razões. A partir daí não se pode fazer muito mais. Não vou discutir sobre isso porque não me cabe, mas, tinha lugar garantido na equipa.

Fotografia João Moreira/Hoopers

— E o Jayson Tatum, devia ter tido mais minutos?

— Para mim também. Mas também é bom porque assim deixa-os com mais vontade de voltarem para mostrar que são jogadores ainda melhores que são vistos aos olhos do mundo. E nós só temos a agradecer por isso.

— Em março havíamos falado sobre as hipóteses do Rúben Prey, para a próxima temporada, poder escolher uma universidade americana ou continuar na Europa. Escolheu uma universidade americana [St. John’s]. Foi um bom passo para quem quer chegar à NBA, assim será mais fácil mostrar as qualidade que tem?

«Neemias, para o ano quero 400 miúdos!»

14 agosto 2024, 10:33

«Neemias, para o ano quero 400 miúdos!»

De regresso a Portugal depois de uma década a trabalhar para a NBA a desenvolver o basquetebol em múltiplos países asiáticos, Carlos Barroca é o responsável técnico do primeiro campo de treinos de Neemias Queta e deseja que o charme do campeão português dos Boston Celtics possa chegar a mais rapidamente.

—Ele estava num bom contexto em Espanha [Juventut Badalona] e conseguiam vê-lo desde jovem, mesmo quando atuava na equipa B. Mas se o objetivo é ir para a NBA, em termos de visibilidade ir para o college é capaz de ser o passo mais acertado. Está numa boa faculdade, jogará a nível elevado, tem sempre boas equipas na sua conferência e vai ser testado. Irá ser competitivo para ele mas, acima de tudo, será bastante bom porque dará para continuar a superar-se.

— Mal pode esperar de ter o segundo português na NBA.

— Sim, sim.