A análise de Marcelo à participação dos 'Lobos' no Mundial
A já tradicional selfie de Marcelo Rebelo de Sousa, agora com os lobos (SÉRGIO MIGUEL SANTOS/ASF)

A análise de Marcelo à participação dos 'Lobos' no Mundial

RÂGUEBI12.10.202323:49

Presidente da República vestiu a pele de professor e deu notas (não de forma literal) à Seleção Nacional, que esta quinta-feira foi recebida no Palácio de Belém

Em 2007, a Seleção Nacional foi recebida no Palácio de Belém à partida para França, na estreia em Mundiais. 16 anos depois, os 'Lobos' regressaram de França-2023, segunda presença na prova, e foram recebidos no Palácio de Belém por Marcelo Rebelo de Sousa, que condecorou a Federação Portuguesa de Râguebi (FPR) como Membro Honorário da Ordem de Instrução Pública.

Numa viagem pela bola oval, Marcelo Rebelo de Sousa analisou o percurso da Seleção e realçou o contributo deixado pelos lobos a Portugal e a todos os portugueses após um mundial «inesquecível». «O râguebi era até há 50 anos uma modalidade a que a sociedade portuguesa estava pouco sensível. Acompanhava com carinho e interesse, à distância, aqui e ali tinham uma experiência de sevens, mas falava-se, deixava-se de falar...», disse o presidente da República dirigindo-se aos 17 jogadores presentes, Carlos Amado da Silva, presidente da FPR, treinadores adjuntos, Luís Pissarra e João Mirra e restante equipa técnica (Patrice Lagisquet, ex-selecionador nacional que levou Portugal ao Mundial, acompanhou a cerimónia por videoconferência).

Na preparação para o França-2023, os lobos defrontaram os EUA, a 12 de agosto, no Estádio do Algarve, partida à qual Marcelo Rebelo de Sousa assistiu. «[Com os EUA] Tivemos um apuramento à pele e os Estados Unidos não gostam desses desafios. Era a desforra no Algarve e pensei: ‘Que ideia deste presidente [da FPR] de convidar a equipa que está cheia de vontade de nos ganhar. E se corre mal? Que ideia soturna», exclamou. «Demos uma sova [46-20] aos EUA», recordou.

«Limpo e magnífico»

16 de setembro, estreia da Seleção no Mundial frente a Gales, um adversário catalogado como «uma surpresa e inesperada, às vezes está melhor, outras pior», comentou. «O sorteio foi assim e nós aguentámos», frisou sem mencionar o resultado (8-28). «Muitos portugueses não perceberem que tínhamos aguentado, pensaram que Gales não se tinha esforçado. Houve mérito, jogámos muito bem, jogo limpo e magnifico de se ver», anotou.

«Azar dos Távoras»

23 de setembro. Toulouse. «Com a Geórgia foi um azar dos Távoras. Tivemos várias a vitória ao nosso alcance e eles tiveram a sorte, também faz parte do jogo, de empatar [18-18] aquilo que normalmente seria uma vitória nossa. Que nós vimos como uma vitória», catalogou. Entusiasta da modalidade passou o entusiasmo ao presidente da Assembleia da República (Geórgia) e a António Costa (Gales) «O presidente da AR comentou os jogos tanto ou mais que eu o que em termos de órgãos de soberania equilibrou», constatou. «Foi um grande jogo e quem percebe de equipas e liderança dava para entender que estávamos a subir».

«Por um triz»

1 de outubro, Saint-Étienne. Jogo com a Austrália. Marcelo viu ao vivo e a cores. «Não empatámos por um triz... por dois ensaios. Um, porque a perna ficou de fora, não é possível controlar o corpo todo num ensaio. O segundo ninguém me tira da cabeça que não houve, mas não foi marcado, foi uma decisão que respeitamos e só isso fez a diferença», considerou o juiz árbitro da democracia portuguesa que chegou a sonhar. «Liguei a amigos e disse: ‘Aproveitem, é histórico, estamos a ganhar à Austrália... Terminámos a dominar boa parte da segunda parte e mesmo discordando de um lance de análise de arbitragem, fizemos pressão sobre a Austrália», elogiou.

O apoio da presidência da república desceu das bancadas até ao local sagrado. «Quanto fui ao balneário, lembram-se, disse que isto ainda não acabou, falta as Fiji e estamos a subir», dirigiu-se aos jogadores e à comitiva no Palácio de Belém. «Contive-me no meu otimismo e o presidente [FPR] disse vamos ganhar». 

«Ganhámos às Fiji»

Oito dias depois, em Toulouse, jogo 40 e encerramento da Fase de Grupos do França-2023, os lobos fizeram história. «E ganhámos. Um jogo tão sofrido, que nem quero imaginar o que sofreu o presidente Carlos Amado da Silva, levantou-se, gesticulou, acho que até chorou, não tenho a certeza. Foi um jogo excecional», adjetivou. «Aí o mundo do râguebi parou. Ganhar às Ilhas Fiji... ter estado próximo da Austrália e logo a seguir ganhar às Fiji...»

«Vocês são uma grande equipa, com potencial espetacular. Agora é não estragar, é continuar. Esta lá tudo. Podemos dizer que não está a capacidade de aguentar aquelas bisarmas, mas aguentámos. Fiji, percebendo que podia ser vencida, fez tudo e quando o raio da bola nunca não saía de perto da nossa linha de ensaio e nós a sofrermos. Foi excecional», referiu. «Nas substituições na segunda parte tive receio que quebrasse o ritmo da equipa ou não aguentassem... eles faziam entrar bisarmas e nós fazíamos entrar musculados, fortes, resistentes, mas não ao nível daquelas locomotivas que levam tudo a frente. Mas aguentaram», ergueu a voz.

Orgulho português

Ao longo de 20’, Marcelo Rebelo de Sousa elevou a Seleção a símbolo da diáspora. «Agradecer-vos pelos portugueses que vivem em todo o mundo, esses ainda tiveram maior orgulho, maior alegria. Para eles, Portugal é uma cristalização, é um conjunto de maravilhas ainda superior às maravilhas que somos e sem aquilo que nós não temos de maravilha», afiançou.

«Os meus netos pararam todos. No Brasil, Inglaterra e Dubai, pararam», confidenciou. «Para os portugueses, já não digo os que estavam em França, foi um dia único na vida deles», por isso «agradeço em nome de todos portugueses espalhados pelo mundo e dos que aqui estão, podem não perceber nada de râguebi ou perceber muito, mas ficaram com um orgulho enorme pelo vosso feito enorme», enalteceu.

Continuou nos agradecimentos finais. «Em nome do desporto português o que fizerem por Portugal, pelo nosso orgulho, pelo desporto, em geral, e râguebi, em particular e pelos mais jovens que vi no Algarve [jogo com os EUA], vi miúdos que estão a começar e para os pais, o râguebi parece como possível paixão», assegurou.

Falando em francês, traduzindo em português, Lagisquet, que deixou o cargo, foi alvo das derradeiras palavras da lição do professor Marcelo. «Devemos tanto aos jogadores, extraordinários, mas a si, o líder. Parou por imposição da famíliar deixando-nos mais fortes e nunca esqueceremos o que fez pelo nosso râguebi», agradeceu, para depois estender o obrigado a toda a comitiva, com a qual não dispensou a tradicional selfie e despediu-se passando pelo tradicional corredor da modalidade.

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