Volta a Portugal: todos contra Colin Stussi
Pelotao durante a 9ª etapa entre Celorico da Beira e Águeda da Volta a Portugal de 2001, em Águeda (ASF/PRESS PHOTO AGENCY)

Volta a Portugal: todos contra Colin Stussi

CICLISMO24.07.202411:12

Suíço procura fazer o que Gustavo Veloso fez em 2015, ao conquistar pela segunda vez consecutiva a 'Grandíssima'; Mauricio Moreira e António Carvalho - principal esperança nacional - podem estragar festa do helvética, numa prova que vai contar com uma 2.ª etapa simbólica, alusiva às comemorações dos 50 anos do 25 de abril

Será que a 85.ª Volta de Portugal voltará a ter um vencedor surpresa no final da prova? Conseguirá Colin Stussi (Vorarlberg), deixar a sua marca na história da Grandíssima? Ou será um dos líderes das quatro Pro Teams que vão marcar presença na Portuguesa deste ano, entre 24 de julho e 4 de agosto, que vestirá a camisola amarela no final da 10.ª etapa, que termina em contrarrelógio, em Viseu?

Foi em Viana do Castelo que Colin Stussi, segurou a camisola amarela na passada edição da competição e somou a maior vitória da sua carreira – sendo beneficiado pela consistência que aí demostrou. Porém, se em 2023 roubou os holofotes e surpreendeu os rivais, este ano o suíço e a equipa austríaca surgem como os alvos a abater. «A Volta a Portugal vai ser um grande desafio, especialmente como campeão em título», começou por dizer o helvético aos meios de comunicação da sua formação. «No entanto, e precisamente por essa razão, estamos motivados para dar o nosso melhor, tal como no ano anterior. Depois, logo vemos onde acabamos», reforçou Stussi, que ontem, na apresentação das equipas admitiu que não está a ter uma «época perfeita», colocando como principal dúvida a sua forma física, uma vez que esteve já quatro vezes doente este ano.

Ainda assim, reforçado com colegas mais fortes destinados a salvaguardaras suas costas, confia no bis, algo que não acontece há nove anos, com as vitórias do espanhol Gustavo Veloso: «Temos alguns corredores muito bons, sobretudo na alta montanha. Vai ser interessante, temos boas cartas para jogar.»

Mas há quem possa estragar a festa do suíço. Um deles é Maurício Moreira, uruguaio do conjunto português Sabgal-Anicolor, que foi o grande vencedor em 2022 e vice-campeão de 2021, numa edição que ficou marcada pela polémica, uma vez que Amaro Antunes (W52 FC Porto) ganhou, mas… acabou desclassificado por doping e a Federação Portuguesa de Ciclismo ainda não reatribuiu a vitória. Por essa razão, naturalmente, o sul-americano assume que quer a vitória, com «muitos meses de preparação» a mostrarem o desejo de conquistar a prova por uma 2.ª vez, contando já, este ano, com vitórias na Clássica Aldeias do Xisto e uma etapa do Grande Prémio O JOGO.

VENCEDORES DOS ÚLTIMOS 10 ANOS

2023 Colin Stüssi, Sui (Vorarlberg)
2022 Mauricio Moreira, Uru (Glassdrive-Q8-Anicolor)
2021 Sem vencedor *
2020 Amaro Antunes, Por (W52-FC Porto) **
2019 João Rodrigues, Por (W52-FC Porto)
2018 Sem vencedor ***
2017 Sem vencedor ***
2016 Rui Vinhas, Por (W52-FC Porto)
2015 Gustavo Veloso, Esp (W52-Quinta da Lixa)
2014 Gustavo Veloso, Esp (OFM-Quinta da Lixa)

*O vencedor Amaro Antunes (W52-FC Porto) foi desclassificado por doping e a Federação Portuguesa de Ciclismo ainda não reatribuiu a vitória.
**Vencedor da edição especial da prova, disputada num formato diferente devido à pandemia de covid-19.
***O vencedor Raúl Alarcón (W52-FC Porto) foi desclassificado por doping e a Federação Portuguesa de Ciclismo ainda não reatribuiu a vitória.

Contudo, os sete corredores escolhidos pela Sabgal para atacar o evento levantaram dúvidas quando ao líder da mesma, uma vez que, além de Mauri, estará presente também o russo Artem Nych (4.º, em 2023), mas também o português Frederico Figueiredo. Quando questionado pelos jornalistas se seria o principal candidato do conjunto à vitória, respondeu com um convincente «sim», garantindo que esse estatuto não causa «nenhum problema».

«Tenho 100% de confiança no trabalho que fizemos, que foi feito da melhor maneira. Temos tudo para que corra bem. Agora precisamos de sorte, nas circunstâncias de corrida», avançou.

A esperança no ‘pasteleiro’

Com dois 3.º lugares em seu nome, em 2022 e 2023, António Carvalho, de 34 anos, surge como a principal esperança portuguesa para a vitória. Desde 2023 que assumiu o estatuto de líder da ABFT Feirense, depois de Amaro Antunes e a equipa terem terminado a ligação, o ciclista que também sonha com uma eventual carreira de pasteleiro já tinha admitido o sonho de vencer a Volta a Portugal, contudo, ontem, revelou que, para já, quer apenas «dar o melhor» de si mesmo. E a vitória? Essa só «a corrida é que vai ditar».

António Carvalho (Feirense) após a 4ª etapa da Volta a Portugal, entre Estremoz e Castelo Branco da 84ª Volta a Portugal (SÉRGIO MIGUEL SANTOS)

«Tenho ambição de, em cada Volta, terminar bem e com saúde, para chegar a casa para os meus filhos e família. Adorava ganhar uma Volta (...), mas sonho e matuto muitas vezes na cabeça se tenho de ganhar e a resposta é… não», concluiu o vencedor da montanha em 2014, que também conta com três etapas em seu nome.

O corredor natural de São Paio de Oleiros afirmou estar em boa condição física e refere que vai ter consigo «uma equipa bastante mais forte e unida» - com um possível gregário de luxo, o jovem Afonso Eulálio - e que conhece «as suas melhores características», mesmo que a formação que vai liderar tenha apenas uma média de idades de 24 anos. O certo é que a ABFT Feirense vem com pelotão reforçado e com o desejo de dar as condições necessárias a Carvalho para dar um passo extra e que, a 4 de agosto, após o contrarrelógio em Viseu, vista a camisola amarela.

Um percurso com os 50 anos do 25 de Abril em mente

Num ano em que se comemorou (e comemora) 50 anos após a Revolução de 25 de abril, a organização da Volta a Portugal também vai prestar a sua homenagem. Isto porque, a 2.ª etapa da prova, que se disputa entre 24 de julho e 4 de agosto, vai partir de Santarém, e terminará em Lisboa (Marvila), sendo os 164 quilómetros simbólicos do caminho que o Capitão de Abril Salgueiro Maia fez em 1974, quando liderou a coluna militar de Santarém até à capital portuguesa, para ocupar o Terreiro do Paço e, horas mais tarde, assumir o comando do cerco ao Quartel do Carmo, que ditou a rendição de Marcello Caetano. Mas antes da celebração, Águeda volta a ser palco inaugural da Grandíssima, 37 anos depois da edição que sagrou Manuel Cunha (Sicasala/Torreense) como vencedor.

E depois do prólogo, seguem-se dez etapas, nas quais os corredores vão pedalar 1540,1 quilómetros, com especial destaque para a primeira metade da prova, sendo esta de maior exigência, porque os 2.º, 4.º e 5.º dias de corrida terminam em alto. A tirada inicial conta com o regresso do Observatório de Vila Nova (quase 1 km de altitude) e, dois dias depois, dar-se-á a ascensão de aproximadamente 2 km à Torre da Covilhã, na Serra da Estrela, sendo que, antes do dia de descanso, os ciclistas enfrentarão o temido final no empedrado da Guarda.

Porém, não seria uma Volta a Portugal sem passagem pelas já icónicas paragens. Bragança vai ser o ponto de chegada da 5.ª etapa, na estreia de Penedono na prova, e ponto de partida da 6.ª, antes da famosa «rota do vinho», que liga Felgueiras a Paredes, ser palco do oitavo dia de corrida. Sem muito tempo para descansar, logo na jornada seguinte, teremos a tirada mais longa desta edição, que partirá do Santuário de Santa Luzia, em Viana do Castelo que acaba no empedrado da Praça 25 de abril, em Fafe, 182,4 quilómetros depois.

E, por fim, em Viseu, após uma luta contra o tempo, voltará a decidir-se definitivamente o vencedor da Volta a Portugal.

AS ETAPAS DA 85.º EDIÇÃO DA VOLTA A PORTUGAL

Prólogo - Águeda-Águeda, 5,6 km – hoje, 24 de julho
1.ª etapa - Anadia (Sangalhos)- Miranda do Corvo (Observatório Vila Nova), 158,2 km – amanhã
2.ª etapa – Santarém-Lisboa (Marvila), 164 km – 26 de julho
3.ª etapa – Crato-Covilhã (Torre), 161,2 km – 27 de julho
4.ª etapa – Sabugal-Guarda, 164,5 km – 28 de julho
5.ª etapa – Penedono-Bragança, 176,8 km – 30 de julho
6.ª etapa – Bragança-Boticas, 169,1 km – 31 de julho
7.ª etapa – Felgueiras-Paredes, 160,4 km – 1 de agosto
8.ª etapa – Viana do Castelo-Fafe, 182, 4 km – 2 de agosto
9.ª etapa – Maia- Mondim de Basto (Sr.ª da Graça), 170,8 km – 3 de agosto
10.ª etapa – Viseu-Viseu, 26,6 km – 4 de agosto