«Também somos capazes de ganhar títulos de melhor atleta»
Cláudio Mendes, treinador de ténis de mesa que fez um transplante de rim, lamenta ausência, por acidente, dos Jogos Europeus para Transplantados que arrancam este domingo, em Lisboa, mas torce por fora de olhos no regresso
O azar bateu à porta de Cláudio Mendes antes dos Jogos Europeus para Transplantados, que arrancam este domingo, em Lisboa. O treinador de ténis de mesa do Club Desportivo Dez Portas Lugo TM, que há cinco anos fez um transplante renal, não esconde a desilusão por falhar a prova, devido a um acidente, mas ficará a torcer por fora.
«Seria muito especial recuperar o título a jogar em casa, estou triste, mas há que seguir para daqui a dois anos não ficar em casa», desabafa o atleta de 43 anos, antes de partilhar a sua história, marcada por um diagnóstico de insuficiência renal.
«Treinava, trabalhava e não me queixava, mas em 2008 comecei a sentir-me mais cansado, com dores de cabeça. Fui ao médico, fiz análises, mas o diagnóstico só veio em 2011. Da primeira divisão nacional passei para a terceira», conta, acrescentando: «Proibiram-me de jogar de 2012 a 2015.»
Sem competir, encontrou sucesso como treinador quando Lei Mendes se tornou a primeira atleta portuguesa a apurar-se para os Jogos Olímpicos, em 2012. Sofreu quando tentou regressar enquanto atleta, um ano após iniciar a diálise, mas triunfou como primeiro dialisado a participar nos Europeus de Transplantados na Finlândia, em 2016, o que o fez sentir-se «uma pessoa normal». E explicou a expressão.
«Quando quis voltar, algumas portas não se abriram, nunca pensei que voltaria a ser aceite no desporto. Não sei se me fechavam a porta por terem receio que tivesse recaída, para me protegerem, mas quando uma pessoa quer tentar há que ajudá-la. Fechar portas não ajuda», frisa, salientando um regresso «excecional e gratificante».
«A nível psicológico sai-se fortalecido, mentalmente forte», garante, recordando momento saboroso em 2018: «Fiz atletismo, maratona, ténis de mesa, ganhei medalhas em todas as provas e ganhei a distinção de melhor atleta, foi um marco para mim saber que afinal também somos capazes de ganhar títulos de melhor atleta», sublinha.
«O desporto ajudou-me a não estar em casa parado a ver a vida correr», diz, lembrando um italiano que conheceu nos Jogos: «Esteve na guerra dos Balcãs, tem insuficiência renal, falência pulmonar, problemas em vários órgãos e não fica em casa: corre, faz bicicleta, é um exemplo. Penso: 'Tem mais problemas que todos nós e participa, faz-nos ser mais fortes’.»