Atletismo Sporting não quis cubana de elite e Torreense aproveitou
Alojamento, comida e condições para se treinar pedia a campeã mundial do lançamento do disco em 2015 e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, Denia Caballero, quando desertou de Cuba para Portugal há cerca de duas semanas, «com uma mão à frente e outra atrás», nas palavras do treinador sportinguista Luís Herédio Costa, que tem sido a mão de amparo. O Sporting «não mostrou interesse» nas suas capacidades, o Benfica exigiu que mudasse de técnico e o Torreense aproveitou a oportunidade para contar com uma atleta ainda em condições de fazer história.
Nem Herédio Costa sabe explicar o motivo de Caballero não estar já nas fileiras do Sporting, que tem investido nas disciplinas mais técnicas, juntando-se à portuguesa e olímpica Liliana Cá, com quem partilha o mesmo treinador. «É estranho uma atleta ex-campeã mundial chegar a Portugal sem quaisquer condições e um clube da grandeza do Sporting não ter condições mínimas para a acolher», reconhece Herédio Costa quando questionado por A BOLA.
Dotado de «boas relações» com os dirigentes do clube, o técnico abordou a situação da cubana, mas «nem sequer houve interesse», talvez pela idade, 33 anos, ou para não ferir suscetibilidades face à proximidade do «diretor do atletismo», Paulo Reis, ao responsável e treinador da escola cubana do disco. Hipóteses apontadas e desmontadas por Herédio Costa, lembrando que «a idade não é um obstáculo» no disco e Caballero ainda estar em condições de «lutar por uma medalha se for aos Mundiais» no futuro. Embora a nacionalidade portuguesa não seja uma prioridade para a cubana, a possibilidade não é enjeitada se a Federação Portuguesa de Atletismo «manifestar interesse». A lançadora do disco «é trabalhadora, gosta de estar em Portugal e tem todas as condições para fazer boas marcas», nas palavras elogiosas do treinador.
O Torreense abriu as portas à ex-campeã mundial e vice em 2019 e o técnico não podia estar mais satisfeito com as condições oferecidas: um apartamento remodelado, alimentação, um emprego em part-time, acesso à pista de treino de Torres Vedras, passe social, equipamento desportivo e um ginásio para trabalhar a condição física. Tudo o que necessita para «organizar a vida, ter estabilidade» e poder deslocar-se a Lisboa para continuar sob supervisão de Herédio Costa. Os resultados desta aposta já são visíveis: estreou-se no último domingo pelo Torreense, vencendo a prova extra dos Nacionais de esperanças, em Leiria. Escassas duas semanas depois de abandonar a delegação cubana no meeting de Castellon, a 14 de junho, em Espanha.
O Benfica «teve conhecimento» da presença da cubana e não terá descartado a possibilidade de a resgatar, mas não poderia trabalhar com Herédio Costa, ligado ao rival Sporting, o que Caballero «recusou». Ainda assim, qualquer um dos clubes pode decidir contratá-la a qualquer momento porque não existe qualquer impedimento desportivo ou legal. É o mais recente caso de cubanos de elite em Portugal, cujo exemplo mais mediático é o triplista encarnado Pablo Pichardo.