Quando a morte se torna protagonista

Ciclismo Quando a morte se torna protagonista

CICLISMO17.06.202316:02

A morte do ciclista  suíço Gino Mader da Bahrain-Victorious, é a mais recente num desporto em que a componente do perigo - apesar de muito se ter feito e se estar a fazer pelas segurança dos ciclistas  - está sempre presente.

É praticamente impossível dizer quem foi o primeiro ciclista nesta longa lista, em tempos de pioneirismo tanta coisa aconteceu e os noticiários muitas vezes pouco ou nada noticiaram sobre as corridas de estrada, tanto que os primeiros relatos dizem respeito a mortes ocorridas nos velódromos, como o francês Paul Dangla e do americano George Lander que ocorreram em 1904.

Em 1918 Luigi Tarragon morreu no Velódromo d’Hiver, um francês de origem italiana, que caiu devido à quebra repentina de um pedal. Em 1923 o alemão Adolf Huschke perdeu a vida durante uma corrida em Berlim e três anos depois, em 1926, a explosão de um pneu causou a queda e a morte do francês Gustave Ganay no Parc des Princes em Paris.

Novamente na primeira metade dos anos trinta, o francês Aubert Winsingues, o belga Georges Iemarie, o suíço Emi Richli, o espanhol Joseo Nicolau, faleceram, assim como  o seu compatriota Francisco Cepeda que em 14 de julho de 1935 caiu na descida de Lautaret durante a 7.º etapa da Volta à França e detém o duvidoso recorde de ser o primeiro ciclista a perder a vida nas estradas do Tour de França e de uma grande volta.

Antes da eclosão da segunda Guerra Mundial, foram registadas as trágicas mortes de André Raynaud, atropelado por uma moto durante uma corrida de meia distância, e do seu compatriota Adrien Buttafuochi, atropelado por um carro que subia em sentido contrário, enquanto ele estava envolvido na descida do Esterel durante o Grande Prémio d’Antibes.

Em 1948, o belga Richard Depoorter perdeu a vida em 16 de junho ao chocar contra a parede de um túnel na Volta à Suíça. No ano seguinte, o ciclismo despediu-se dos franceses Leon Level e Paul Choque e do alemão Paul Krolle, em 1950 a francês Camille Danguillaume atropelado por uma moto durante o campeonato nacional de França realizado em Montlhéry.

Em 29 de junho de 1951, poucas horas após a queda no Giro del Piemonte, Serse Coppi e irmão de Fausto Coppi  perdeu a vida.

Em 20 de maio de 1952, a primeira vitima da história da Volta à Itália; Orfeo Ponsin  morreu após embater numa árvore durante uma descida perto de Bracciano, durante a 4.ª etapa entre Siena e Roma. Em 1 de outubro de 1956, o campeão belga Stan Ockers, morreu após uma queda violenta na pista do pavilhão desportivo em Antuérpia.

Luto também nos Jogos Olímpicos de Roma 1960; no dia 26 de agosto durante a prova de 100 km, o dinamarquês Knud Enemark Jensen, vitima de insolação, caiu e acabou em coma para morrer pouco depois.

Em 5 de maio de 1961, o ciclista italiano Alessandro Fantini, morreu na Volta à Alemanha, após cair no sprint da 6.ª etapa. A 13 de julho de 1967 é uma das mortes mais infames da história do ciclismo; no Mont Ventoux, durante a 13.ª etapa da Volta à França, morreu o britânico Tom Simpson. Poucos dias depois, em 19 de julho faleceu o espanhol Valentin Uriona após uma queda no campeonato nacional.

Em 28 de agosto de 1968, o francês José Samyn faleceu após atingir um espetador durante um critério em Zingem, na Bélgica. Em 15 de março de 1970, o campeão do mundo Jean Pierre Monseré, morreu ao ser atingido de frente por um carro em alta velocidade, durante o Grand Prémio da Feira de Retie. Em 1976 a morte voltou à Volta à Itália, no dia 21 de maio, após uma queda na 1.ª etapa faleceu o espanhol Juan Manuel Santisteban.

 A 10 de maio de 1984 faleceu Joaquim Agostinho, vitima de uma queda no final da 5.ª etapa da Volta ao Algarve entre Faro e Quarteira. Na reta da meta um cão atravessou a Avenida Infante Sagres, Joaquim Agostinho caiu embatendo com a cabeça contra o lancil, de que resultou a fratura do crânio, formando-se um coágulo que era preciso retirar.

Por não existir serviço de neurologia no hospital de Faro, foi transportado de ambulância para Lisboa. Nas proximidades de Alcácer do Sal entrou em coma, antes de chegar ao hospital de Santa Maria, onde foi operado. O tempo que demorou até ser submetido à intervenção cirúrgica terá contribuído para a sua morte.

Em 1986, na Volta à Itália, Emílio Ravasio caiu na 1.ª etapa e morreu após duas semanas de agonia. Em 1987 faleceram o espanhol Vicente Mata atropelado por um carro no decorrer do Troféu Luis Puig e o belga Michel Goffin, que caiu num barranco no Tour du Haut Var. Em 1988, o holandês Connie Meijer sofreu um colapso durante um critério na Holanda.

Em 18 de julho de 1995, faleceu Fabio Casartelli, campeão olímpico ao cair na descida do Col du Portet d’Aspet.

Quatro anos depois, em 1999, o espanhol Manuel SanRoma, morreu vítima de uma queda na Volta à Catalunha e em 2000 o seu compatriota Saul Morales foi atropelado por um camião durante a Volta à Argentina.

Em 12 de março de 2003, o cazaque Andrei Kivilev, faleceu após grave acidente durante a 2.ª etapa do Paris - Nice. Foi a partir dessa morte que a UCI decidiu tornar obrigatório o uso de capacete de proteção em competição.

Em 15 de junho de 2005, vítima de uma paragem cardíaca o italiano Alessio Galletti perdeu a vida na Subida Al Naranco.

Em 26 de novembro de 2006, o espanhol Isaac Galvez, colidiu com uma grade durante os Seis Dias de Gent, bateu com a cabeça e morreu enquanto era transportado para o hospital. Em 11 de maio de 2008, faleceu Bruno Neves, que no decorrer da Clássica de Amarante caiu inanimado e bateu com a cabeça do asfalto. Foi transportado para o hospital Padre Américo em Penafiel, mas não resistiu aos ferimentos. A autopsia confirmou uma paragem cardíaca.

Em 9 de maio de 2011, outra tragédia na Volta à Itália, o belga Wouter Weylandt morreu após uma queda  no decorrer da 3.ª etapa. Em 27 de março de 2016, o jovem belga Antoin Demoitié, morreu ao ser atropelado por uma moto durante a clássica Gent - Wevelgem. Em 8 de abril de 2018, outro jovem belga, Michael Goolaerts, sofreu um ataque cardíaco durante o Paris - Roubaix.

Os últimos nomes da lista, claramente incompleta e que não leva em conta as muitas tragédias ocorridas nas competições femininas e nos escalões de formação, são o de Bjorg Lambrecht que corria pela Lotto-Soudal, que perdeu o controle em 5 de agosto de 2019 na Volta à Polónia e caiu à beira da estrada, ao embater com violência numa ponte de betão e de Gino Mader que faleceu no dia 16 de junho de 2023, depois de no dia anterior se ter despistado no decorrer da 5.ª etapa da Volta à Suíça e sofrer múltiplas fraturas no crânio.