Patrícia Sampaio: «Estes pódios mostram consistência para o Europeu»
Patrícia Sampaio após a conquista do bronze no Grand Slam de Tbilisi

ENTREVISTA A BOLA Patrícia Sampaio: «Estes pódios mostram consistência para o Europeu»

JUDO25.03.202508:18

Com a conquista do bronze no Grand Slam de Tbilisi do passado fim de semana, a olímpica do Gualdim Pais soma três medalhas nas três provas do Circuito Mundial em que competiu nos últimos quatro meses e agora tem quatro semanas para preparar o primeiro grande objetivo da temporada no Montenegro.

Três provas do Circuito Mundial em quatro meses, três pódios. Quatro, se quisermos incluir, pelo meio, mais um título de campeã nacional em 2024. Após ter conquistado o bronze dos -78 kg nos Jogos de Paris 2024, Patrícia Sampaio, de 25 anos, atravessa um momento de consistência e êxito que, atualmente, é ímpar na Seleção. 

Mas também faz elevar as expectativas para o próximo Europeu de Podgorica, entre 23 e 26 de abril. Campeonato continental no qual já foi 3.ª classificada em Montpellier 2023, depois de ter sido bicampeã europeia de juniores (2018 e 2019) e ganho nos sub-23 (2021).

Em dezembro, depois da medalha de bronze olímpica e tendo reduzido o período de férias pós-Jogos por não desejar estar cerca de seis meses sem competir ao mais alto nível – o que diz que mais gosta de fazer –, foi 3.ª no Grand Slam de Tóquio. 

Volvidos dois meses, no arranque da nova temporada, terminou o Grand Slam de Paris de ouro ao peito. E agora, no passado fim de semana, repetiu o bronze no Grand Slam de Tbilisi. Prova na qual, como a própria referiu a A BOLA, tinha tudo para ganhar. Afinal, no total dos quatro combates não chegou a estar mais de 4m no tapete, despachando três adversárias em: 29, 12 e 13 segundos e apenas lutando 2.15m nas meias-finais, onde perdeu frente à colombiana Brenda Olaya.

Fotografia Kulumbegashvili Tamara/IJF

Ontem, na atualização dos rankings mundiais, somando os 500 pontos amealhados na capital da Geórgia, saltou da 6.ª para a 4.ª posição dos -78 kg.

São três pódios no Circuito em três provas no espaço de quatro meses. O que é isto lhe mostra? Está tudo como desejava? «Acima de tudo, mostra consistência, que é realmente aquilo que quero alcançar. Ter consistência nas lutas e na conquista das medalhas», começa por referir a judoca do Gualdim Pais.

«Depois dos Jogos, consegui sempre ir-me mantendo no pódio em diversas provas e com adversárias diferentes. Claro que sei que isto não vai ser sempre assim. Todos os atletas sabem que as derrotas vão surgir, como, por exemplo, aconteceu agora [na meia-final] mesmo que tenha acabado medalhada. Mas, como referi, acho que revela a consistência que, para mim, é o mais importante neste momento. Todas estas competições estão a ser uma preparação para os dois principais focos do ano: o campeonato da Europeu e o campeonato do Mundo», conta.

«E ver que, em várias competições e enfrentando atletas distintas, tenho conseguido subir constantemente ao pódio, é um bom indicador e importante na preparação. É sempre bom ir às provas e descobrir as coisas que estou a fazer bem e novos erros que vou cometendo e preciso voltar para casa e corrigir com vista essas competições mais importantes», acrescenta.

Da Seleção Nacional, e estamos a um mês do Europeu [Portugal leva nove judocas], apenas a Taís Pina [-70 kg] e a Patrícia foram a Tbilisi. Estava então a sentir essa necessidade de ter consciência em que ponto se encontra no seu trabalho? «Sim, ainda que isso seja uma decisão de equipa. Somos uma equipa multidisciplinar. Eu e o Igor [treinador e irmão], sempre em concordância com o Marco [Morais, selecionador feminino], vamos decidindo estas coisas», explica.

«Foi uma decisão de todos. O Igor fez o planeamento assim e viemos. Sinto-me bem a competir bastante e tenho a noção de que vou evoluindo a cada competição. Para mim isso é importante. Encaixando-o no planeamento e na programação, faz sempre todo o sentido. E fez ter vindo a Tbilisi», afirma a quarta judoca medalhada olímpica de Portugal, depois de Nuno Delgado, Telma Monteiro e Jorge Fonseca.

E todos aqueles combates resolvidos em poucos segundos, quase sempre no primeiro ataque. Era uma estratégia que levou à Geórgia? Resolver tudo o mais rápido possível? «Se foi com intenção? Sim, mas, na verdade, esse é o meu estilo de luta. Atacar bastante. Começar logo o combate a atacar. Nem sempre acontece que seja logo vantagem - por acaso nos dois primeiros foi bastante rápido – mas, geralmente, é o meu modo de combater. Ser a primeira a impor o ataque, a impor a pega, tudo».

E estando a um mês do campeonato da Europa, sem mais provas do Circuito até lá, como vai ser a preparação? «Será um mês como têm sido todos os outros: treinar o melhor possível, a evoluir e corrigir. Tenho erros para retificar, novas coisas que percebi que estou a fazer bem e que é para continuar. Treinar bastante e recuperar muito bem - que é muito importante - todos os dias para estar cada vez melhor».

E tem planeado algum estágio no estrangeiro, pois necessita de adversários, mulheres, que a ajudem a preparar esta fase final? «Vamos fazer de tudo. Ter um estágio nacional, outro internacional e também o período de treino no clube. Penso que, para mim, o mais proveitoso é ter um pouco de tudo já que em cada situação consigo trabalhar coisas diferentes. É muito bom ter essa combinação completa», refere.

Fotografia Kulumbegashvili Tamara/IJF

Uma última curiosidade. O Europeu será no Montenegro, já lá competiu? «Há muitos anos… No Campeonato da Europa de Sub-23 de 2017. Há mesmo muitos anos. Numa outra vida...», deixa no ar, recordado a edição em que não terminou no pódio e na qual a grande amiga Maria Siderot sagrou-se campeã de -48 kg, Joana Diogo foi bronze na mesma categoria, assim como João Martinho nos -81 kg.