Mesatenista vai estrear-se nos Jogos Olímpicos aos 58 anos
Chinesa de nascença, emigrou para o Chile e treina em Portugal. 38 anos depois de sair da equipa de ténis de mesa da China, Zhiying Zeng vai cumprir um sonho
Zhiying Zeng na China, Tia Tânia no Chile e, apara alguns, a «avó do ténis de mesa». Independentemente do nome que lhe deem, esta mulher vai representar o Chile nos Jogos Olímpicos de Paris, um palco que já estivera perto de gracejar… em 1986.
«Com a minha idade, jogo com alegria, não angústia. Não alcancei o meu sonho na China, fi-lo no Chile, um país que amo. O importante foi nunca desistir.» Assim se apresenta Zeng, numa entrevista ao The Guardian, que encontrou a jogadora em Portugal, no Clube de Ténis de Mesa de Mirandela, onde esta se prepara para a sua estreia olímpica.
Para aqui chegar, Zeng foi uma jovem-prodígio, investiu numa carreira pelo ensino, emigrou, aprendeu a falar espanhol e, graças à pandemia do covid-19, redescobriu um amor que julgava perdido
«O ténis de mesa está para os chineses como o futebol está para os brasileiros»
Quando Zeng era pequena, «as mesas de ténis de mesa estavam por todo o lado». Foi fácil para a jovem apostar nesse desporto, para o qual tinha (e tem) um talento nato. Em 1983, com 17 anos, Zeng já fazia parte da seleção nacional da china de ténis de mesa e já tinha um sonho: «Como todos os atletas, queria estar nos Jogos Olímpicos.
No entanto, uma regra de 1986 implementou o uso das raquetes com as superfícies bicolores. «A regra matou o meu jogo, senti-me fraca técnica e psicologicamente», recorda Zeng, que acabou a carreira de jogadora e começou uma de treinadora.
Até que em 1989, teve a oportunidade de continuar por esse caminho no Chile, onde acabaria por investir num negócio de produtos chineses. Só em 2002, para acabar com o vício dos videojogos do filho, levou-o a um salão que tinha uma mesa de ténis de mesa. O seu talento rapidamente chamou a atenção e pouco depois ganhou um torneio local. «Ganhei a toda a gente», diz com um sorriso.
Zeng «é um exemplo global»
«No Chile, não conseguem dizer o meu nome, têm dificuldades com o zê. E como todos os chineses que vêm para cá têm um nome chileno, escolhi Tânia.» Assim começou a lenda da Tia Tânia no Chile, exponenciada graças à pandemia do covid-19. Fechada em casa, comprou uma mesa de ténis de mesa, jogou sozinha e após o fim dos confinamentos, começou a ganhar torneios, até se tornar na melhor mesatenista do país em 2023.
Nos Jogos Pan-Americanos desse ano, tornou-se numa heroína nacional. Era, de longe, a atleta mais velha, recolheu a medalha de vencedora e um jovem caracterizou-a assim aos jornalistas locais: «A avó do ténis de mesa.»
A treinadora e amiga de Zeng, Juan Lizama, não poupa nos elogios à atleta: «É um exemplo global. Retirou-se do desporto durante 20 anos, e no espaço de um ano, ganhou os Pan-Americanos e agora vai aos Jogos Olímpicos.
O conto de fadas continuará então na capital francesa, onde a Tia Tânia vai cumprir o seu sonho, sabendo que «no desporto, nada é dado de graça». Vai então desfrutar do momento, tal como se tivesse 20 anos e a carreira toda pela frente.