«Los Angeles? Vou demorar a voltar a ter vontade de vestir o kimono»
A desilusão de Bárbara Timo, instantes após ser eliminada dos Jogos Olímpicos no primeiro combate (José Sena Goulão/Lusa)

«Los Angeles? Vou demorar a voltar a ter vontade de vestir o kimono»

JOGOS OLÍMPICOS30.07.202411:54

Bárbara Timo estava inconsolável após ter sido eliminada no primeiro combate nos Jogos Olímpicos

PARIS – A zona mista de qualquer competição olímpica é um corredor de emoções. Mas pelo ritmo dos combates de judo, talvez nenhuma outra obrigue a lidar tanto com desilusão e frustração.

Uns atrás de outros, os judocas vão passando com a cara de quem acabou de perder o mundo. Muitos choram. Alguns recusam falar. Outros falam, e falam e continuam a falar… sozinhos. É a forma de descarregarem tudo o que lhes vai no íntimo.

Bárbara Timo chora. Alguns minutos depois de ter sido eliminada no primeiro combate da categoria de -63 kg, a judoca lusa chega junto dos jornalistas de olhos inchados de quem já chorou muito. E vai continuar.

«Estava um combate duro, percebi que ela me estudou muito, mas consegui encontrar uma forma de combater isso e de estar por cima. Sentia que podia levar a luta pelo tempo que fosse preciso, porque não estava nada cansada, mas isto é judo e não aconteceu», lamentou.

A judoca de 33 anos, que participa pela segunda vez consecutiva nos Jogos Olímpicos, partilhou depois a dureza de preparar um ciclo olímpico durante quatro anos para depois ser eliminada logo a abrir.

«É muito duro [pausa longa para controlar a emoção]. O caminho deu muito trabalho e trouxe muitas dúvidas. Durante muitos momentos, achei que não seria possível. Noutros, tive momentos incríveis e cheguei a ser oitava ou nona do ranking mundial. Mas vinha confiante, mesmo sabendo que nos Jogos Olímpicos tudo é possível. Só que aquilo que o judo tem de belo, também tem de ingrato. O que me faz ter esperança de que posso ganhar, é o mesmo que depois me faz perder assim. Porque todas somos iguais no tatami», resumiu.

A chama olímpica que cria frieza entre amigos

São oito os judocas portugueses em Paris. Além dos sete que estão em competição, Telma Monteiro foi convidada para estar presente na competição, algo que Bárbara Timo considera muito positivo.

«É muito bom. Ainda hoje – e todos os dias - ela entra na minha cabeça para me puxar para o lado positivo».

E o mais provável nos próximos dias é que seja a companheira do Benfica o maior apoio de Bárbara. Porque é preciso dar espaço aos companheiros, mesmo que um abraço nesta altura pudesse dar o maior reconforto.

«Todos respeitam o espaço uns dos outros. É complicado, porque ao perder, eu sei que quero ter ali os meus amigos, mas ao mesmo tempo quero dar-lhes espaço porque eles ainda vão lutar. Então, existe uma certa frieza», confidenciou, explicando.

«Hoje vai ser um dia muito triste para mim e eu não quero passar-lhes isso. E sei que eles também não virão porque há um grande respeito por estes momentos», acrescentou.

Depois, voltou a desabar perante a pergunta se ainda terá forças para ir em busca da presença na próxima edição olímpica, fazendo uma longa pausa antes de avançar com as palavras.

«Não sei. Primeiro acho que esta tristeza vai levar muitos dias a passar. E, depois, a vontade de vestir o quimono vai demorar a voltar outra vez. Estar aqui hoje não é divertimento…», atirou, voltando a cair num pranto.

«Isto é uma vida de sacrifício longe da família, de lesões, incertezas… A partir do momento em que eu meter na cabeça que eu quero ir a Los Angeles [2028], eu aviso. Mas por enquanto preciso de m tempo e espaço. Porque foi muito duro chegar até aqui e é muito triste terminar assim», finalizou.