Foi feita justiça a Carlos Lopes, 40 anos depois do ouro olímpico

ATLETISMO13.11.202409:15

Quatro décadas e três meses depois da primeira medalha de ouro olímpico de Portugal, Carlos Lopes foi eternizado em dois livros, apresentados na terça-feira

«Com voz serena, perguntaram-me ao ouvido/Valeu a pena, vir ao mundo e ter nascido?»

O pequeno Luca não percebe de fado. E muito menos tem idade para perguntas existenciais. Por isso, na sala onde estão expostas medalhas e troféus conquistados pelo avô, vai percorrendo as vitrinas e descobre aquilo que lhe interessa. «Este é Portugal». «Este não é Portugal». «Este é Portugal». «Este é Portugal».

A ele não lhe interessa muito que aquelas últimas duas sejam réplicas de uma medalha de ouro olímpico. Ele sabe é que aquelas fitas metade vermelhas, metade verdes, têm um significado. «Este é Portugal».

E mesmo que não saiba bem o que é um campeão olímpico, certamente já lhe terão contado que o avô foi o primeiro português a sê-lo. Ah, mas o nome ele sabe! Carlos Lopes. O mesmo do edifício onde Luca vai apontando o que é Portugal.

Atrás dele, em formato gigante na parede, um avô ainda jovem sorri embrulhado na bandeira de Portugal. E hoje o dia é todo para recordar o que significou aquele sorriso eternizado em 1984, em Los Angeles.

As centenas de pessoas que estão ali, foram lá por causa do avô.  Porque Carlos Lopes é Portugal. E quando se quiser contar a história dessa parte tão importante do país, há agora dois livros: «Carlos Lopes - Lenda Nunca Assim Contada», de António Simões, antigo jornalista de A BOLA, e «Carlos Lopes - Provas, Recordes e Medalhas», da autoria de Rogério Azevedo, jornalista de A BOLA.

A apresentação das duas obras, a cargo de Luís Marques Mendes, surge três meses depois da data idealizada, 12 de agosto, o dia em que se assinalavam os 40 anos da conquista de Carlos Lopes, devido à morte de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, na véspera.

Ainda assim, ninguém esqueceu o maior responsável pela realização da biografia do «Lopes», como explicou António Simões, «porque era uma injustiça não haver um livro sobre o campeão».

E além do aplauso de toda a sala, com nomes como Rosa Mota, Aurora Cunha, entre muitos outros campeões, mas também Ramalho Eanes, ex-Presidente da República, Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, ou Frederico Varandas, líder do Sporting, o ex-dirigente foi ainda homenageado com um momento de silêncio, com todos de pé.

«É PARTE DE UMA GRANDE HISTÓRIA»

Visivelmente emocionado e naturalmente orgulhoso, o «Lopes» assumiu sentir que era importante deixar registado em livro o seu legado.

«São livros que fazem parte de uma grande história de muitos anos ao serviço do desporto. Ajudam a refletir sobre o que foi a minha vida ao longo destes anos. Para que a mensagem possa ser benéfica para os mais jovens. A vida tem muitos espinhos e é preciso ultrapassá-los. Espero que leiam e se sintam motivadas para fazer o mesmo que eu fiz, ou melhor ainda», disse, à margem do evento.

Já Rogério Azevedo assumiu o orgulho em escrever sobre um dos maiores de sempre do desporto luso. «Corri com ele no Sporting durante alguns anos e é um dos maiores símbolos do desporto português, ao nível de Cristiano Ronaldo, Figo ou Rosa Mota. É um símbolo eterno de Portugal. Eu era um menininho e chorei a vê-lo ganhar aquela medalha, por isso tem muito significado estar aqui».

«Valeu a pena/Ter vivido o que vivi/ Valeu a pena ter sofrido o que sofri».

A música escrita por Moniz Pereira que deveria ter sido ouvida a abrir a cerimónia podia ser sobre o miúdo de Vildemoinhos que o Senhor Atletismo viria a descobrir e trabalhar para fazer dele campeão olímpico. E quando Luca já não precisar de se meter em bicos dos pés para espreitar as medalhas do avô, ele vai saber que todos os esforços do avô valeram a pena. Foi-lhe feita justiça. E não terá qualquer dúvida em apontar também: «Este é Portugal».