A canoagem está crescida e um 6.º lugar nos Jogos sabe a pouco
João Ribeiro e Messias Baptista desiludidos com o 6.º lugar no K2 500m dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (Hugo Delgado/Lusa)

A canoagem está crescida e um 6.º lugar nos Jogos sabe a pouco

JOGOS OLÍMPICOS09.08.202413:33

João Ribeiro e Messias Baptista chegaram a Paris como campeões do Mundo, mas a final não correu como esperado

PARIS – Estamos a 8 de agosto de 2012 e a canoagem portuguesa chega aos Jogos Olímpicos de Londres com boas expectativas.

Há ali dois miúdos de quem os portugueses mais atentos já conhecem os nomes: Emanuel Silva e Fernando Pimenta.

Os canoístas de 26 e 22 anos, respetivamente, chegam à capital britânica com alguns resultados internacionais de relevo e como candidatos às medalhas.

E um dia depois, já só os mais desatentos não conhecem os nomes daqueles que conquistaram a primeira medalha olímpica da canoagem portuguesa, no K2 1000 metros. É uma festa, com Pimenta a mergulhar, Emanuel Silva a tentar manter mais a serenidade. Mas não dá, porque é também a primeira – e única – medalha conquistada por Portugal na capital britânica.

E até parece coincidência. Afinal o chefe de missão, Mário Santos, é um antigo canoísta que entrou na modalidade com cinco anos, filho do primeiro presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, e também ele ex-presidente da federação.

«Vimos buscar mais uma carica?»

Estamos em Paris, a 9 de agosto de 2024 e a canoagem portuguesa é reconhecida e respeitada por todos. Dificilmente haverá um português que não saiba quem é Fernando Pimenta, que também está por cá e volta a ser candidato à medalha.

Mas há mais! Há muito mais. A canoagem cresceu bastante em Portugal, à boleia dos resultados internacionais que se sucedem.

E um dia antes de Fernando Pimenta, com 34 anos, entrar na água em busca daquela que pode ser já a sua terceira medalha olímpica, há João Ribeiro e Messias Baptista a lutar pelo pódio do K2 500m.

Na bancada do Centro Aquático Olímpico de Vaires-sur-Marne, a mais de 30 quilómetros do centro de Paris, há cerca de duas dezenas de portugueses. Mas há um que é cumprimentado por todos. Sejam eles portugueses, ou estrangeiros.

12 anos depois da primeira medalha olímpica da canoagem, ali está Mário Santos novamente. Já sem uma ligação ao Comité Olímpico de Portugal, mas com uma relação de vida inquebrável com a canoagem.

E é a ele que os portugueses recorrem para sentir a corrente: «Como é, vimos aqui sacar mais uma carica?»

A todas as abordagens, Miguel Santos repete a mesma ideia: «Nos oito, há seis barcos que podem ganhar. O português é um deles. Mas os alemães parecem-me os mais fortes, os australianos que venceram a meia-final também, e os húngaros, claro».

A meia-final da dupla portuguesa tinha deixado boas indicações. Com vento e alguma ondulação, tinham feito o terceiro melhor tempo de apuramento para a final, integrando a série mais rápida, na qual se fizeram os quatro tempos mais rápidos.

Mas chega a final e o arranque de João e Messias não é bom. Percebe-se que perdem logo ali algum espaço. E aos 100 metros não estão entre os cinco primeiros.

A prova disputa-se a grande velocidade e eles parecem recuperar espaço. A meio da prova sobem ao quinto lugar e parecem bem. Mas está ali a elite da elite. Nos 100 metros finais começa a perceber-se que o pódio será difícil. João e Messias também parecem percebê-lo e no impulso final caem para o sexto lugar.

O sonho de nova medalha na canoagem, pelo menos, mais um dia. No sábado há Fernando Pimenta no K1 1000m.

Para os campeões do mundo, o 6.º lugar sabe a pouco. Tal como sabe a pouco para quem tem visto a canoagem crescer tanto nos últimos anos. Mas a regularidade dos canoístas portugueses promete que os bons resultados vão continuar a surgir. João Ribeiro, aos 34 anos, chegou ao quarto diploma olímpico, em três participações. Messias Baptista, na segunda, leva o segundo diploma.

As medalhas ficam para os alemães Jacob Schopf e Max Lemke (ouro com 1.26:87 minutos), os húngaros Bence Nadas/Sandor Totka (prata com 1.27:15), e os australianos Jean van der Westhuyzen/Tom Green (bronze com 1.27:29).

Um resultado que pode surpreender quem se lembra da canoagem de quatro em quatro anos. Mas que era bastante expectável para quem a conhece quase desde que nasceu.

João Ribeiro e Messias Baptista em competição nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (Hugo Delgado/Lusa)