ENTREVISTA «Vou ser eternamente grato a Rúben Amorim»
André Paulo foi campeão pelo Sporting em 2020/2021 e guarda grandes recordações de Alvalade. Deixou grandes elogios ao treinador que o lançou e pisca o olho a um eventual regresso numa conversa exclusiva com A BOLA
— Fez parte do lote de jogadores que se sagraram pela última vez campeões nacionais no Sporting, mais precisamente em 2020/ 2021. Terá sido este o melhor momento da sua carreira até aos dias de hoje?
— Sim, sem dúvida! Foi um momento marcante por tudo. Foi um salto muito grande para mim, que vinha do Real Sport Clube e do Casa Pia. No primeiro ano de Sporting ser campeão e estrear-me no principal escalão foi, sem sombra de dúvidas, o melhor momento da minha carreira até agora.
Foi uma noite incrível. Lembro-me de estar sempre perto do Matheus [Nunes], do Jovane e do Tiago Tomás a cantar com os adeptos e a festejar. Foram momentos inesquecíveis
— Há alguma recordação mais especial que guarde dos festejos do título?
— Foi muito diferente do habitual, com a época de Covid-19, não tínhamos adeptos no estádio. No jogo do título estavam todos lá fora a torcer por nós e, no final, fomos dar uma volta ao Marquês no autocarro. Foi uma noite incrível com muitos momentos marcantes e não consigo escolher apenas um... Lembro-me de estar sempre perto do Matheus [Nunes], do Jovane e do Tiago Tomás a cantar com os adeptos e a festejar. Claro que foram momentos inesquecíveis.
— Estreou-se na última jornada frente ao Marítimo em Alvalade, ao entrar aos 66 minutos, num jogo em que o Sporting goleou (5-1). Consegue-nos descrever esse momento?
— Como já tínhamos sido campeões nacionais, sabia que havia a possibilidade de poder jogar. Não houve uma conversa do género: ‘André, vais jogar’, mas sentia-se que podia acontecer. O mister chamou-me, mandou-me aquecer e colocou-me lá dentro nos últimos minutos.
— Sentiu aquele friozinho na barriga? Pesou na entrada em campo?
— O nervosismo não chegou. Foi mesmo um sentimento de muita felicidade. Estava ansioso antes desse jogo, porque podia acontecer, mas acho que entrei em campo mesmo a rir. Recordo-me que o Matheus [Nunes] e o Daniel Bragança estavam a meter-se comigo quando estava a entrar dentro do campo. Gritaram pelo meu nome e como não havia adeptos ouvia-se tudo no estádio [risos]. Entrei a rir porque o que sentia era mesmo muita felicidade. Era um marco não só por me estrear na Liga, pelo Sporting, mas também por ser, oficialmente, campeão nacional.
— Ainda assim, jogou apenas dois jogos pela equipa principal. Sente alguma mágoa por não ter conseguido ter mais oportunidades?
— Estávamos muito bem entregues na baliza. O Adán fez um campeonato muito bom. O Luís Maximiano, que esteve connosco na primeira época, o João Virgínia e agora o Franco Israel, também são todos excelentes guarda-redes. Faço o meu trabalho e depois cabe ao treinador escolher, mas fiquei muito contente por estar lá e ter vivido tantos momentos bons e inesquecíveis. Só tenho mesmo é que agradecer pela oportunidade.
— Olhando para o futuro, pensa num regresso ao Sporting pela porta grande?
— Acho que sim. Qualquer jogador gosta de jogar numa equipa grande, ter essas condições de trabalho, o dia a dia, as competições europeias... É o sítio onde todos os jogadores querem estar.
— Não foi possível com a camisola leonina, mas jogar a Liga dos Campeões é um objetivo de carreira?
— No jogo em Marselha [derrota por 1-4, na fase de grupos, em 2022/2023], o Adán foi expulso, o Franco Israel foi para a baliza e eu fiquei no banco... podia ter acontecido [risos], mas, claro que é um sonho que ainda está por alcançar, vamos ver daqui para a frente o que pode acontecer.
— Partilhou o balneário com António Adán e Franco Israel. Considera que o futuro para a baliza do Sporting está bem assegurado, mesmo tendo em conta que o espanhol tem 36 anos?
— Sim, o Sporting ao longo dos anos tem tido sempre bons guarda-redes. O Adán é um grande guarda-redes, toda a gente sabe disso. O Franco tem tido muitos minutos e há de se mostrar. Também estive com o Luís Maximiano, um guarda-redes que tem provado que é de alto nível. Acho que o Sporting também está bem entregue na formação com nomes como Diego Callai, Diogo Pinto e Francisco Silva.
Callai está a trilhar o caminho certo
André Paulo conhece muito bem Diego Callai, apontado por muitos como um herdeiro da baliza do Sporting. Foram colegas de balneário na equipa B e, agora, mesmo tendo seguido caminhos diferentes, o guarda-redes do Mafra tem estado atento à evolução do jovem, de 19 anos. Para André Paulo é legítimo que Callai pense numa afirmação na equipa principal: «Tudo é possível. O futebol também se faz de oportunidades.» E deixou alguns conselhos ao antigo companheiro de equipa.
«Cabe ao Diego continuar a trabalhar e se surgir uma oportunidade é agarrar, depois está nas mãos do treinador», frisou. O jovem guardião brasileiro ainda não se estreou às ordens de Rúben Amorim, apesar de, esta temporada, já ter sido chamado por várias ocasiões nas competições europeias. Para a posição, recorde-se, o Sporting conta ainda com Adán e Franco Israel. Callai ainda não chegou lá e tem sido titular quase absoluto da equipa B, com oito jogos cumpridos na corrente época.
Quando cheguei aqui ao Mafra perguntaram-me logo por ele [Diomande], como era lá no Sporting, porque daqui tinham sinais muito positivos. Acho que foi uma adaptação incrível para ele
— Curiosamente, há um jogador que veio do Mafra e agora brilha no Sporting. No vosso balneário falam muito de Diomande?
— Quando cheguei aqui ao Mafra perguntaram-me logo por ele, como era lá no Sporting, porque daqui tinham sinais muito positivos. Viam que ele podia chegar a um clube grande e demonstrar a qualidade que, de facto, tem vindo a demonstrar. Sinceramente, acho que foi uma adaptação incrível para ele.
Amorim foi a peça-chave para eu ir para o Sporting e vou-lhe ser eternamente grato
— Ainda não falámos de um dos elementos mais importantes do balneário: o treinador. Rúben Amorim já o devia conhecer bem desde os tempos do Casa Pia. Qual foi o papel dele na sua chegada ao Sporting?
— O mister foi a peça-chave para eu ir para o Sporting. Partiu dele a vontade de eu integrar o clube e vou lhe ser eternamente grato por isso. Fui a primeira contratação, estávamos a vir da época de Covid-19 e integrei lá os últimos meses para começar depois a nova época. Tenho um gosto especial pelo mister e agradeço-lhe muito pela oportunidade que me deu em poder jogar no Sporting.
— Pela experiência que teve com o Rúben Amorim, considera ser ele o homem certo para devolver o Sporting aos títulos?
— Acho que todos os sportinguistas têm a noção de que o trabalho que o mister está a fazer tem sido muito importante para o desenvolvimento do clube e também dos jovens jogadores. Começámos muito bem o campeonato, estamos muito lá em cima, onde o Sporting tem de estar, a lutar pelo titulo, e é pensar jogo a jogo. Vamos ver no final.
— Curioso que a sua resposta é feita na primeira pessoa. Mesmo saindo do Sporting, o Sporting não sai dentro de si?
— Não... Porque estou muito ligado às pessoas que estão lá. Tento seguir sempre a equipa e quero o melhor para eles porque eu vou ficar muito feliz também.
O Mafra
Num contexto completamente diferente, André Paulo reconhece que no Mafra tem a possibilidade de jogar com mais regularidade, o que não acontecia no Sporting: «A ideia de vir para cá foi também para ter mais minutos, que não estava a ter», explicou, antes de apontar os objetivos do sexto classificado da Segunda Liga para esta época: «Os objetivos passam muito por andar aqui por cima da tabela, sem a obrigação de subir e estarmos aqui perto da luta», acrescentou.
André Paulo só tem elogios para o «balneário muito engraçado» em que se vive «um espírito de grupo muito forte». Silas, que tem orientado uma das boas surpresas da temporada, também não é esquecido: «É dificil estar num contexto de Segunda Liga com uma equipa tão jovem e é dar o mérito»
Não foi há muito tempo que o Mafra foi semi-finalista da Prova Rainha. Em 2021/2022 caíram aos pés do Tondela, que depois foi derrotado pelo FC Porto na final. Agora, o objetivo passa por ir o mais longe possível na prova: «Não sei se vamos chegar às meias-finais, mas vamos fazer de tudo para chegar o mais longe possível nesta prova», garantiu André Paulo.
Primeiro, ainda há o Estoril no acesso aos oitavos: «É um desafio muito interessante. O Estoril é uma boa equipa, mudou de treinador recentemente, tem jogado um futebol positivo, assim como a nossa equipa. Acho que vai ser um jogo muito interessante de seguir e queremos passar como é óbvio», analisou.
Passes Curtos
— Preferia ganhar uma Liga dos Campeões ou uma competição de seleções?
— Acho que de seleções.
— Uma defesa monumental no último minuto ou um golo no último lance?
— Se a defesa valer a vitória, acho que prefiro a defesa.
— Melhor defesa?
— Assim de repente... no último jogo [risos ].
— Melhor avançado que já enfrentou?
— Se for em treinos, o Paulinho!
— O colega mais chato de balneário no Sporting?
— É o Nuno Santos, acho que é unânime.
— E o mais vaidoso?
— O Nuno Santos também [risos].
— Prefere um guarda-redes que saiba jogar com os pés ou felino entre os postes?
— Primeiro, um guarda-redes tem de ser felino entre os postes.
— Qual é o número de camisola preferida?
— A primeira escolha é o 22, depois é o 1.
— O ídolo na baliza?
— Sempre segui o Casillas, adorava-o ver jogar, tal como o Manuel Neuer.