ENTREVISTA A BOLA «Vejo um Benfica diferente, mais motivado, mais liberto»
PARTE 1 - Nandinho, que representou o Benfica e o Gil Vicente enquanto jogador, dois emblemas que medem forças na 7.ª jornada, esteve à conversa com A BOLA, na antecâmara do duelo entre águias e galos. O antigo extremo, agora treinador, garante que não vai torcer por nenhuma equipa este sábado e sublinha que guarda boas memórias de ambos os clubes. Analisa o desempenho recente da turma de Bruno Lage, o impacto da troca de treinador e a questão dos avançados dos encarnados
- Nandinho vestiu a camisola do Benfica, em 1998/99, e a do Gil Vicente, por quatro temporadas e meia, entre 2002 e 2006. Vai ver este encontro com o coração dividido?
- Gosto das duas equipas, tenho um carinho pelas duas equipas. Passei pelas duas equipas, se calhar mais pelo Gil, porque foi o clube onde eu estive mais tempo, mas tenho amigos nos dois clubes, sou muito bem tratado quando vou à Luz ver algum jogo ou quando vou a Barcelos. Sou sempre muito bem tratado.
Espero que seja um bom jogo de futebol, um jogo agradável de ver, um bom espetáculo, e que vença o melhor. Neste caso não vou estar a dizer que prefiro que ganhe este ou aquele. Se tiver de puxar um bocadinho, vou puxar mais pelo Gil, que foi o clube onde estive mais tempo, onde criei mais afinidade.,
Não creio que seja fácil para o Gil Vicente ir vencer à Luz, até porque o Benfica está numa fase diferente, não só em termos motivacionais, mas também exibicionais. Está bem melhor do que há uns tempos.
O Gil é uma equipa que ainda está a tentar encontrar o seu melhor nível, a sua melhor capacidade e a sua melhor versão neste campeonato, mas no futebol tudo é possível. Acima de tudo espero que seja um bom jogo, e vou ver se vou estar lá presente para ver ao vivo esse espetáculo.
- Como é que analisa o momento atual do Benfica, e como é que tem visto as últimas exibições das águias, depois da troca de Roger Schmidt por Bruno Lage?
- Quando há uma troca, há sempre uma motivação extra, há sempre algo de novo. Há jogadores que não estão a jogar com aquele treinador e que veem ali uma oportunidade de mostrarem ao novo treinador que se calhar podem ser opções úteis.
Vejo que é uma equipa diferente, mais motivada, mais liberta. É um treinador que conhece bem a realidade do clube e que está a ter uma coisa que, do meu ponto de vista, o antigo treinador não tinha: está a colocar as peças nos lugares certos. Não está a haver adaptações a lugares. O treinador, quando faz isso, é porque tem conhecimento do jogador e do rendimento que o jogador lhe pode dar numa ou noutra situação, mas quando há várias adaptações o rendimento desse mesmo jogador nunca é tão superlativo como se estivesse a jogar na sua posição normal, no seu habitat natural.
Por isso, acho que este Benfica está muito melhor em termos de coletivo, mas acho que ainda não está um Benfica num patamar superlativo. Tem sido um Benfica suficiente para vencer os jogos, mas acredito que pode melhorar e vai ter de melhorar se quiser lutar pelo título, pelo menos a nível interno, porque o Sporting está a um nível elevadíssimo.
- Olhando concretamente para a questão dos pontas de lança do Benfica, Pavlidis tem sido titular em quase todos os jogos, mas agora Arthur Cabral entrou e marcou um golo, no Bessa, depois de o grego ter inaugurado o marcador. Como é que olha para as opções dos encarnados para a frente de ataque?
- É uma luta normal. É bom que o Benfica tenha opções e feliz o treinador que tem várias opções válidas. O Pavlidis tem-se exibido a um bom nível, apesar de não ter marcado com aquela frequência como marca, por exemplo, o Gyokeres, mas é um jogador que já demonstrou ser um bom ponta de lança, uma boa contratação.
O Arthur Cabral é um jogador que tem muito potencial, mas por esta ou outra razão não tem sido uma aposta contínua, e isso também atrapalha um bocadinho. É diferente quando um jogador sente a confiança do treinador, mesmo que as coisas não saiam bem, que vai ser aposta novamente. Quando as coisas não são assim, tem de aproveitar todos os minutos que tem para mostrar que é opção válida porque amanhã há uma lesão, há um abaixamento de forma, e o treinador sabe que pode contar com aquele jogador, e muitas vezes é aí que eles aproveitam a oportunidade e acabam por explodir.
Eu lembro-me, por exemplo, que o Benfica teve avançados que não renderam e que acabaram por ir para outros campeonatos, como o Raúl de Tomás, que em Espanha era um fenómeno, fazia golos, e no Benfica não teve essa felicidade. O Seferovic teve épocas em que não marcou e teve épocas em que foi o melhor marcador…. Portanto, o futebol é o momento, é um chavão, mas é verdade.
O Benfica está bem servido de avançados, foi buscar também o Amdouni, que é um bom jogador. O Benfica tem um excelente plantel, mas vai ser uma luta árdua, quer com o Sporting quer com o FC Porto, que é uma equipa que está a ser remodelada, mas que tem demostrado um grande nível, pelo menos a nível interno.
- Akturkoglu chegou para reforçar as alas e está a ter impacto imediato. Considera que era uma posição que estava a necessitar de reforços?
- O Benfica tem nas alas dois jogadores que podem ser preponderantes, quer o Akturkoglu quer o Di María. Eu gosto muito também do Tiago Gouveia, mas infelizmente ele acabou por se magoar. Depois há jogadores que podem ser opções também nas alas. Não creio que seja o Kokçu, como estava a ser, mas há jogadores que podem fazer esse papel, o próprio Amdouni pode ser um jogador a cair numa ala. Há um Prestianni, há um Rollheiser…. São jogadores que jogam por dentro, mas também gostam de jogar muito nas alas. O Benfica tem muitas soluções para poder competir e exibir-se sempre a um bom nível.
- Olhando para a competitividade do campeonato, acredita que vai ser uma luta a três pelo título este ano?
- Nos últimos anos, tem havido sempre uma equipa que acaba por chegar a uma determinada altura e ficar para trás, porque não podem ganhar todas, mas acredito e espero que sim. Que seja uma boa luta a 3 ou a 4 ou a 5, para que o campeonato fique interessante e seja mais competitivo.
- O Gil Vicente vive uma época um pouco atípica, depois da saída de Tozé Marreco a poucos dias do arranque da Liga. Como é que analisa o momento do Gil Vicente?
- O Bruno [Pinheiro] ainda está a tentar estabilizar a equipa. Tem mantido pelo menos o mesmo onze, tem sido aquele onze que tem jogado ultimamente. Já encontrou um onze base e agora está a criar as rotinas, sendo que não tem muito tempo de trabalho também. Os jogadores estão a adaptar-se às novas rotinas e ao modelo de jogo que o treinador quer implementar. Acredito que o Gil pode também vir a crescer, como todas as equipas vão crescer certamente com o campeonato. Depois, os resultados podem fazer realmente a diferença e fazer com que a equipa consiga mostrar-se a um grande nível ou então cair em depressão e ceder à pressão quando os resultados não aparecem. É o que acontece com muitas dessas equipas, tem muito a ver com os resultados que libertam ou inibem a equipa em determinados momentos do campeonato.
- Para fechar, peço-lhe para escolher um jogador do Benfica e um do Gil Vicente que possam ser um destaque neste jogo.
- Do Benfica, acredito no Di María neste jogo. O Akturkoglu tem sido realmente o destaque, mas acredito que neste jogo possa ser o Di María. No Gil Vicente, talvez o Félix Correia, é aquele jogador mais atrevido que é capaz de desequilibrar.